Para um número cada vez mais crescente delas, as aulas de circo têm se mostrado uma alternativa certeira. Que o diga a servidora pública Elza Fátima Rezende Herrerias. Ela conta que a filha Rafaela, de 10 anos, não dava continuidade a nenhuma atividade física. A garotinha tentou natação, dança e vôlei e, segundo a mãe, “sempre desanimava logo no início e inventava uma série de motivos para não ir”.
Professor de iniciação de técnicas circenses para crianças e adolescentes, Rodrigo Ferrari é quem dá aula para Rafaela e sua turma no Studio A. Segundo ele, o circo para crianças age em várias instâncias da vida de meninos e meninas: desde os benefícios físicos e mentais, além do desenvolvimento da coordenação motora e equilíbrio, até sentimentos como confiança em si mesmas. “Quando a criança vê uma apresentação circense, ela não se vê capaz de conseguir fazer igual. Com as aulas, elas vão compreendendo as inúmeras possibilidades físicas do corpo. Conseguir ficar de ponta à cabeça – mesmo que seja simples para alguns – é uma superação para quem não se imagina capaz daquilo”, explica.
As aulas de circo para crianças geralmente adotam o sistema de circuito para que cada aluno ou aluna possa ter contato com o universo do circo e experimentar as possibilidades do próprio corpo para conquistar a consciência corporal. As acrobacias, por exemplo, trabalham alongamento, flexibilidade e força. “A criança descobre também o que é capaz de fazer com o corpo do outro e o que o corpo pode fazer sozinho”, diz Rodrigo Ferrari.
Há seis anos dando aulas de circo para crianças Rodrigo Ferrari coleciona alguns relatos de famílias que demonstram como o circo interfere positivamente em outros âmbitos da vida de quem o pratica. “Um exemplo bom são as aulas de educação física da escola. A criança que faz circo se sente mais segura para a prática de um esporte coletivo ou outra atividade física proposta e também se torna mais apta a interagir nas brincadeiras e com o outro”, explica.
A história de Laura, de 7, é um exemplo que ilustra bem a fala do professor. A pedagoga Kelly Cristina Mamine dos Bernardon é mãe da garotinha e também de Juliano, de 12. Ela conta que uma fisioterapeuta indicou a aula de circo para a caçula, que tropeçava e caía muito. “A fisioterapeuta indicou o circo porque conhecia a aula e falou que era dinâmica e lúdica. A Laura fazia balé, mas reclamava.” Além disso, aos olhos da mãe, Laura parecia muito tímida e tinha certa dificuldade para se entrosar. “Quando levei minha filha para fazer uma aula experimental, ela se apaixonou. A Laura tem loucura com o circo.”
A pedagoga diz que, além do salto no desenvolvimento motor, as aulas de circo ajudaram a menina a se soltar, a se comunicar melhor e a interagir não importa o ambiente.
Para Kelly, os ganhos para outros aspectos da vida da Laura também são muito nítidos. “Ela é uma menina confiante e segura. Antes, quando a gente ia a alguma festinha ela reclamava que não conhecia ninguém e ficava sentadinha, emburrada num canto. Hoje, ela se comunica com a maior facilidade e não preciso intermediar nada. A autoestima melhorou muito”, salienta.
Com o artista circense Edson Gaguin, a engenheira civil com formação em arte circense Andrea Figueiredo dá aulas de circo para crianças entre 4 e 12 anos. Os dois comandam as turmas da escola Arte e Circo e ela diz que, à exceção de uma contraindicação médica, qualquer criança pode fazer aula de circo. “Já dei aula de circo para crianças autistas e hiperativas. A criança não precisa ter nenhuma habilidade específica, o mais importante é ter vontade e interesse pela prática”, afirma.
Para Gaguin, o grande diferencial da aula de circo em relação às atividades mais tradicionais é justamente o tom da brincadeira. “Brincando, as crianças alcançam resultados enormes. Pode parecer difícil, mas o resultado chega muito rápido, e alcançar o almejado é o melhor incentivo que uma criança pode ter”, acredita. O professor gosta de citar – para exemplificar os sentimentos de superação, confiança e autoestima conquistados com a atividade circense - a história de um aluno que se matriculou no circo aos 50 anos. “Ele chegou aqui com a musculatura toda encurtada e hoje faz salto mortal”, ilustra.
Antes de conseguir escalar o ombro de três pessoas e dar cambalhota mortal na cama elástica, Júlia Peçanha, de 6, fazia balé, mas não gostava por “achar parado”. A mãe, Flávia Peçanha Borges, relata que, no início, a filha tinha um pouco de medo, mas ela diz que a insegurança foi superada rapidamente. “Hoje ela é superconfiante e quando vamos, por exemplo, a alguma praça com algum brinquedo de escalar ou se pendurar ela sempre se dispõe a dar dicas para outras crianças”, conta. Na escola, crianças entre 4 e 12 anos fazem a mesma aula e Flávia acha boa a convivência entre várias faixas etárias. “Ela se espelha nos mais velhos e é inspiração para os menores.”
DESCONTRAÍDAS
As aulas de circo para crianças são dinâmicas, alegres e descontraídas. Durante uma hora, trabalha-se elementos como força, equilíbrio, coordenação motora, atenção, concentração e flexibilidade. “O aluno tem sempre algum colega mais adiantado em quem se espelhar e os mais ‘experientes’ são estimulados a ensinar e passar seus conhecimentos ao colega”, explica Solange Faleiro Figueiredo, da escola Arte e Circo.
A aula contempla atividades circenses, aeróbicas, alongamentos e brincadeiras. As crianças têm a possibilidade de aprender malabarismo, manipulação de objetos com argola, bolinhas, claves, diabolô. Nos exercícios de equilíbrio, andam sobre a bola, sobre o tambor ou em cima do rola-rola japonês. Entre as acrobacias aéreas, estão o tecido acrobático, lira e trapézio, mas meninos e meninas também aprendem acrobacias de solo ou na cama elástica. Bambolê, corda, monociclo e perna de pau também são objetos utilizados na aula. "Apesar de o tom da aula ser lúdico, existe uma cobrança de disciplina e comportamento. O ambiente não deixa a criança constrangida. Se ela errar, é sempre estimulada a tentar novamente, sem cobrança exagerada", reforça Solange.
Algumas opções em BH:
Trupe Tralha, no Bairro da Graça
Contato: 3467-3139
R$ 160 duas vezes por semana para crianças de 5 a 12 anos.
Spasso Escola de Circo, no Bairro Prado
Contato: 3275-1205
R$ 210 uma vez por semana para crianças de 5 e 6 anos
Arte e Circo, no Bairro Ipiranga
Contato: 9843-3743
R$ 150 três vezes por semana para crianças de 4 a 12 anos
Studio A, no Bairro Funcionários
Contato: 2535-2880
Três vezes por semana R$ 280 (plano trimestral) para crianças de 4 a 12 anos