“Quem tem o HIV fica mais suscetível a ter a tuberculose, que é uma infecção oportunista. Ela ataca o sistema imunológico fragilizado, que no caso de quem tem o HIV está com o sistema de defesa deprimido.
A diferença básica entre as doenças está no fato de a tuberculose ter cura, e a Aids, não. Então, porque ainda tem gente morrendo de um mal para o qual há tratamento? Na visão de Munira, ocorre uma rede inteira de falhas.
“Falhamos quando o sistema básico não faz o diagnóstico precoce, ninguém vai atrás dos contatos (que são as pessoas que vivem no mesmo ambiente que o doente) e não há supervisão do tratamento. O correto e ideal seria o agente de saúde ir diariamente à casa do tuberculoso em tratamento e vê-lo engolir o remédio”, diz a médica. Para ela é inadmissível haver jovens de 20, 30 anos, em idade de produção econômica e intelectual, doentes e acamados.
Segundo informações do Ministério da Saúde, no Brasil, a tuberculose é sério problema da saúde pública, com profundas raízes sociais. A cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem 4,6 mil mortes em decorrência da doença. O Brasil ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo. Em Minas Gerais, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), 4.612 pessoas foram diagnosticadas com tuberculose no ano passado. Onze por cento dos pacientes abandonaram o tratamento e 3% morreram.
“Temos uma média de 2,1 óbitos para 100 mil habitantes no Brasil, um índice alto para um mal curável. E, em média, entre 70 mil e 80 mil novos casos por ano no país, sendo que de 10% a 20% das pessoas abandonam o tratamento. Depois de muitos anos marginalizada, a tuberculose voltou com a Aids, nos anos 1980 e 1990, e caiu. Agora, o que vemos é a mortalidade aumentando porque o diagnóstico está sendo feito tardiamente e o paciente já chega com estágio avançado da doença.
FAMOSOS VITIMADOS
Doença infecciosa transmitida pelo ar, a tuberculose matou artistas como Noel Rosa, Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. Associada antigamente a quem tinha hábitos “mundanos”, como boêmios e alcoólatras, ainda hoje a tuberculose é uma doença que acomete em grande parte pessoas de nível socioeconômico mais baixo, mas qualquer um de nós está suscetível a ser infectado pelo bacilo.
“O primeiro tratamento, para a tuberculose sem gravidade, é de, no mínimo, seis meses. São comprimidos que a pessoa toma diariamente, pela manhã. E há efeitos colaterais, com queimação no estômago e coceira pelo corpo. Não pode haver falhas nas doses. O que ocorre na prática é que um mês, dois meses depois, o paciente ganha peso, a tosse some, ele se sente bem e interrompe a medicação. Muitas pessoas que vivem nas ruas, não têm o que comer, ou consome muito álcool e drogas, então, sua adesão é bem difícil”, acrescenta a pneumonologista.
Teste rápido e gratuito
O exame mais simples para detectar a tuberculose e disponível em toda a rede básica de saúde é o do escarro. Há ainda o teste molecular para tuberculose, que analisa, caso o paciente esteja com a doença, o DNA do bacilo e avalia em até três horas se a doença é sensível ou resistente ao medicamento.
“O paciente com tuberculose faz ainda o teste de HIV, radiografia do tórax, tudo isso via posto de saúde mais próximo de casa. O medicamento é inteiramente gratuito e totalmente controlado pelo Ministério da Saúde, justamente para tentar cercar o controle de quem segue o tratamento, as recidivas etc.”, explica a médica Munira Martins de Oliveira. De acordo com ela, quanto mais cedo detectada a tuberculose, mais eficaz sua cura. “Começou a tossir muito, com escarro amarelo ou com sangue, geralmente acompanhado de perda de peso (entre 10% e 20% do peso corporal normal), sudorese noturna de trocar a roupa de cama e uma febre baixa, no fim do dia, procure atendimento”, ensina.
INVESTIMENTOS
A OMS admite que novos remédios, tecnologia para o diagnóstico e uma maior atenção dos governos conseguiram salvar 43 milhões de vidas entre 2000 e 2015. No entanto, é preciso mais investimentos. “Existem avanços. Mas, se o mundo quer colocar um fim a essa epidemia, ele precisa investir em pesquisa e aumentar os serviços”, disse ontem a diretora-geral da OMS, Margaret Chan. O buraco nas contas chega a US$ 1,4 bilhão, de um total de US$ 8 bilhões necessários para implementar uma estratégia para frear a doença. A partir de 2016, a OMS vai estabelecer como prioridade um programa para erradicar a tuberculose até 2030 e cortar as mortes em 90%. (Com Agência Estado)..