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Este mês, em que é celebrado o Outubro Rosa, no mundo inteiro as comunidades médicas fazem campanha preventiva contra o câncer de mama, que mata cerca de 15 mil brasileiros anualmente, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).
Como justificativa para a alteração nos Estados unidos, a ACS alega que não há evidências de que o exame é suficiente para salvar vidas. Ao mesmo tempo em que mulheres mais jovens estão sendo aconselhadas a começar mais tarde a realização da mamografia, sugere-se que mulheres acima dos 55 realizem o exame a cada dois anos – e não anualmente, como ocorre hoje. Na prática, pelo menos brasileira, como mostrou o Estado de Minas há uma semana, há aumento de casos da doença em pessoas abaixo de 30 anos, embora não existam dados epidemiológicos que comprovem o crescimento. É uma constatação clínica.
Em função do Outubro Rosa, a SBM está alertando a sociedade para o número de mulheres que não fazem o exame de mamografia. A procura melhorou em relação ao ano passado, mas o país ainda não atingiu os 70%, meta recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a entidade, há mamógrafos suficientes no país, no entanto eles estão mal distribuídos – a maioria está nas grandes cidades e capitais, deixando boa parte da população do interior e de pequenos municípios descoberta, com impossibilidade de fazer o exame de maneira rápida. Segundo o presidente da entidade, Ruffo de Freitas Junior, a mamografia é o único exame que pode reduzir a mortalidade por câncer de mama e que muitas mulheres têm medo de fazê-lo por medo da dor ou de encontrar um câncer. “Recomendamos que o exame seja feito a partir dos 40 anos, anualmente. A mulher precisa ser estimulada para essa rotina”, afirma ele.
Uma das justificativas nos EUA para a mudança na indicação do exame está baseada no fato de que “desde a última atualização de monitoramento de câncer de mama da Sociedade Americana de Oncologia foi publicada, em 2003, acumularam-se novas evidências, com base em acompanhamentos de longo prazo de testes de controle aleatórios e estudos de campo”, afirma a organização, em texto publicado no Journal of the American Medical Association (Jama).
Apesar da mudança proposta pela ACS, as mulheres devem ter a possibilidade de começar seus exames anuais aos 40, se quiserem. O câncer de mama é a forma mais comum dessa doença entre mulheres no mundo todo. Também é uma das formas mais letais no mesmo grupo, depois do câncer de pulmão. Nos Estados Unidos, mais de 40 mil mulheres devem morrer de câncer de mama somente este ano, de acordo com o mesmo artigo.
O cirurgião plástico e mastologista Thadeu Provenza, superintendente da Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (Asprecam), defende a importância do diagnóstico baseado em um tripé que inclui os exames de imagem (entre eles a mamografia e o ultrassom), o exame clínico (no ginecologista ou mastologista) e o autoexame da mama. “Na medicina, quando se somam métodos aumenta-se a possibilidade de diagnósticos. As mulheres devem fazer o autoexame mensalmente, e o exame clínico da mama e a mamografia uma vez por ano”, alerta.
Para o oncologista Charles Pádua, diretor do Cetus Oncologia, em Minas Gerais, as novas diretrizes da Sociedade Americana de Oncologia devem ser vistas com olhar crítico. “Isso porque o exame de mamografia é de fácil realização e pouco nocivo. A maioria das mulheres com doenças não palpáveis, ainda em fase inicial, apresentam uma alta chance de diagnóstico precoce e, portanto, um aumento das chances de cura quando submetidas ao rastreamento anual”, comenta Pádua, acrescentando que “é importante frisar que a individualização nos casos onde as mulheres apresentam histórico familiar de câncer não seguem a regra de rastreamento por idade”.
FALSOS POSITIVOS
A detecção prematura pode ajudar a aumentar as chances de sobrevida, mas começar a realizar mamografias em todas as mulheres a partir dos 40 anos pode trazer outros problemas, indica a Sociedade Americana de Oncologia. Entre eles, falsos positivos, biópsias, cirurgias para a remoção de massas que podem não chegar a oferecer perigo, além de potenciais complicações cirúrgicas.
“Evidências de testes clínicos mostraram um benefício pequeno proporcionado pelas mamografias, quando se trata de salvar vidas entre as mulheres mais novas”, afirmam Nancy Keating, da Harvard Medical School, e Lydia Pace, do Brigham and Women's Hospital, em editorial que acompanha o artigo.
Segundo as duas pesquisadoras, a mamografia regular pode prevenir mortes por câncer de mama em pelo menos cinco a cada 10 mil mulheres na faixa dos 40 anos, ou 10 a cada 10 mil na faixa dos 50. “Por isso, cerca de 85% das mulheres em seus 40 e 50 anos que morrem de câncer de mama teriam morrido, apesar da mamografia”, relatam. Oferecer testes mais sofisticados de monitoramento, incluindo fatores de risco genéticos, seria melhor no caso das pacientes mais jovens do que mais mamografias de controle, sugerem as especialistas.