Educadora com TDAH cria método para ensinar pessoas a estudarem sozinhas

Autora do livro 'Já Entendi', Gladys Mariotto, transforma metodologia própria de aprendizagem em diferentes plataformas que contemplam perfis diversos de estudantes

por Ludymilla Sá 13/10/2015 10:00

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Arquivo pessoal
Gladys Mariotto relata em livro suas dificuldades estudantil e profissional e dá dicas de como aprender mais e melhor estudando sozinho (foto: Arquivo pessoal)
Pedro Henrique Bittencourt tem 18 anos e está se preparando para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela primeira vez. “A preparação tem sido nada fácil”, ele afirma. Isso porque, aos 10 anos, o jovem foi diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). E a trajetória até o segundo grau foi uma dura batalha entre livros e mudança de escolas. O adolescente tinha muita dificuldade para assimilar os conteúdos ministrados de forma convencional e sempre precisou de ajuda de professores particulares. A realidade de Pedro é bastante comum entre crianças e adolescentes atualmente. Bem mais do que possamos imaginar, mas pode ser contornada de forma prática, fácil e objetiva. Foi exatamente o que fez Gladys Mariotto, empreendedora por trás da Já Entendi, startup de inteligência educacional que utiliza metodologia de aceleração de aprendizado por meio de diversas plataformas, como videoaulas, jogos educacionais, aplicativos para tablets e smartphones e, agora, em livro de 206 páginas, publicado pela Editora Planeta.

 

Na publicação, Gladys conta como surgiu o método e dá dicas de como aprender mais e melhor, estudando sozinho. A Já Entendi surgiu da própria experiência da autora, diagnosticada com TDAH, já adulta. Quando estava com 36 anos, ela decidiu voltar a estudar. Era frustrante não ter feito uma faculdade, como descreve no livro – adiou o projeto durante 19 anos, porque engravidou cedo e se casou. Foi quando descobriu ter déficit de atenção e hiperatividade. Resolveu, então, por conta própria, fazer resumos do conteúdo pré-vestibular das apostilhas do filho, para fixar a aprendizagem. “Percebi que a leitura por si só não fazia efeito para mim e decidi incrementá-la. Fazia cópia das apostilas, recortava e colava partes importantes dos textos, fazia resumos, desenhos, anotações, coloria os tópicos principais. Enfim, o resultado foi que consegui turbinar a leitura, fazia aqueles textos criarem vida e se tornarem autoexplicativos.”

 

Surgiu, assim, o embrião do método. A autora passou em sexto lugar no vestibular para belas artes, formou-se aos 40 anos, começou a trabalhar na área e, ao mesmo tempo, iniciou nova graduação, em filosofia, uma pós-graduação em história da arte e um mestrado. No meio do furacão de atividades, seu filho mais novo, então com 8 anos, teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC). “Estudar e ter uma carreira era um sonho se realizando, mas nada se comparava à recuperação do meu filho. Foquei toda a minha concentração no meu filho e, quando ele saiu do hospital e, com sua gradativa recuperação, a vida foi voltando ao normal. Mas ficou mais difícil me concentrar nos estudos. Foi quando a metodologia me ajudou mais uma vez.”

 

Logo depois, ela recebeu um convite de um amigo para escrever um livro para uma grande instituição de ensino, baseado na sua experiência de aprendizagem. “Vieram outros convites depois e passei a ser reconhecida como a autora que todos entendiam. Foi daí que surgiu o nome.”

 

INOVAÇÃO A metodologia própria acabou se tornando uma atividade profissional. Gladys escreveu 36 livros didáticos, incluindo o Já entendi, e produziu 30 filmes educativos. Em 2012, pôs no ar o site www.jaentendi.com.br, fruto de um projeto de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, desenvolvido com o objetivo de oferecer ao mercado uma solução de inteligência educacional concentrada na aceleração do aprendizado. A autora já recebeu diversos prêmios pela iniciativa e ganhou destaque ao apresentar o projeto em países como Japão, onde foi finalista do Japan Prize 2010, competição mundial de mídia educativa, e Cuba – a convite da Unicef, apresentou o projeto como exemplo de educação inovadora.

 

Aqui no Brasil, a metodologia já foi aplicada com foco no Enem e também para explicar obra de filosofia de Nietzsche a alunos de escolas públicas, em Curitiba. De maneira organizada e sistematizada, o mais novo livro é um resumo de todo esse trabalho de sucesso. A obra é capaz de estimular o potencial que há em cada pessoa e aflorar as habilidades escondidas. Para isso, de acordo com a publicação, é importante saber qual o conceito de estilo de aprendizagem de cada um (visual, auditivo e cinestésico) conforme definições da psicologia. Algumas pessoas têm preponderância extrema em determinado canal e, por esse motivo, é importante saber de qual canal se trata para poder adaptar suas estratégias de estudo.

 

 

Editora Planeta/Divulgação
(foto: Editora Planeta/Divulgação)
Conheça a sua estratégia mental de aprendizagem

 

Faça o teste 


A. Qual a sua impressão quando conhece alguém?

1. É só olhar para a pessoa para saber quem ela é

2. Com algum tempo de conversa, consegue saber quem ela é

3. Um aperto de mão diz tudo sobre a pessoa

 

B. Como você se comporta em uma entrevista de emprego?

4. Ensaia e programa todas as suas respostas

5. Informa-se e pesquisa sobre a empresa

6. Angustia-se com a possibilidade de passar mal durante a entrevista

 

C. Em seus momentos de lazer, você normalmente:

7. Assiste à televisão ou vai ao cinema

8. Gosta de atividades ao ar livre

9. Toca um instrumento, ouve música ou lê alguma coisa

 

D. Como você escolhe seu automóvel?

10. Pelo design e estilo

11. Faz um test drive

12. Pelo conforto

 

E. Como deve ser um bom restaurante?

13. O sabor e o aroma dos pratos são importantes

14. Vale muito o colorido e a arrumação dos pratos

15. Não pode ter música ao vivo nem barulho

 

F. Como você prefere que seu chefe lhe dê ordens?

16. Por meio de uma conversa ao vivo

17. Por escrito

18. O tom de voz deve ser ameno

 

G. Como você se comporta de maneira geral?

19. Observa atentamente as coisas ao redor

20. Hiperativo

21. Fala sozinho e viaja nos pensamentos


H. Como você gosta de conversar com um amigo?

22. Olhando nos olhos e vendo a sua expressão

23. Percebendo a sua atitude corporal

24. O tom de sua voz é importante

 

I. Qual é a sua atitude ao receber e-mails?

25. Lê na hora cada um deles

26. Dá importância à formatação e aos erros de concordância

27. Imprime para guardar

 

J. Qual é a sua impressão ao chegar a um lugar?

28. Percebe a iluminação e não se importa com os sons

29. Sente a energia do lugar na pele

30. Gosta de lugares silenciosos

 

K. Como você vê as conversas na internet?

31. Os emoticons são muito chatos

32. Os emoticons são engraçados

33. Só gosta se estiver sentado confortavelmente

 

L. Como você se sente ao falar com alguém?

34. Não suporta se não olhar nos olhos

35. Importa-se com a maneira como a pessoa se dirige a você

36. Percebe se há afeto logo no início

 

M. Como você se comporta no cinema?

37. A trilha sonora é muito importante

38. Chora com facilidade em qualquer cena mais emotiva

39. Fala o tempo todo com a pessoa ao lado

 

N. Como você percebe a mudança das estações?

40. Pelo canto dos pássaros

41. Pelas cores das plantas e flores

42. Sente a mudança, mas não consegue explicar de que forma

 

Confira suas respostas

 

A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N

 

Visual

 

1, 5, 7, 10, 14, 17, 19, 22, 25, 28, 31, 35, 37, 42


Auditivo

 

2, 4, 9, 11, 15, 16, 21, 24, 27, 29, 33, 34, 38, 40


Cinestésico

 

3, 6, 8, 12, 13, 18, 20, 23, 26, 30, 32, 36, 39, 41


Agora, sigua as instruções para saber o resultado

 

A partir da numeração acima, conte um ponto para cada marcação correspondente e depois some os pontos de cada um dos canais. O teste é apenas um indicador de tendência. Havendo algum resultado em extremo desequilíbrio, tente melhorar os canais deficitários. Por exemplo, se você obteve: visual 8, auditivo 0 e cinestésico 5, vale a pena prestar mais atenção ao seu lado auditivo para não perder as ligações que esse canal pode oferecer. Feito isso, procure direcionar sua estratégia de estudo para as seguintes abordagens:


Visual

 

Faça resumos em forma de tabelas e gráficos, construa imagens mentais sobre conceitos estudados, preste atenção nos gestos do professor e nos esquemas que ele faz no quadro e busque apoio nas cores e nas imagens.


Auditiva

 

Grave aulas e palestras, grave sua voz lendo seus resumos, as gravações são mais assimiladas antes de dormir ou logo pela manhã, escute as aulas e faça poucas anotações, leia em voz alta e converse com os colegas sobre os conteúdos estudados


Cinestésica

 

Assista às aulas dinâmicas e com assuntos alternados, procure caminhar pelo local de estudos, faça experimentos práticos, pesquisas e exercícios, use técnicas de memorização que envolvam gestos e mude de posição de vez em quando.