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Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), usa os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) para definir o que é uma criança saudável: é aquele que goza de perfeitas condições de saúde física e mental. O conceito é bastante amplo e inclui os pequenos que têm qualidade de vida, não necessariamente financeira, mas acolhimento familiar, uma boa higiene do corpo, higiene mental, higiene do sono, vacinação em dia, alimentação com qualidade não quantidade e, principalmente, afeto, amor, carinho e atenção.
Estrutura familiar
Uma boa estrutura familiar é essencial para uma criança ser saudável. Por “estrutura familiar” entenda-se um local em que meninas e meninos têm espaço e condições de se desenvolver adequadamente. “Atualmente, vivemos um tempo do mosaico familiar. Não importa a estrutura (da família), mas o acolhimento, o tempo dedicado, a atenção e os cuidados com a saúde física e mental”, frisa Tadeu Fernando Fernandes, pediatra membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Mais que brinquedos caros e quartos superparamentados, prover condições para que a criança se desenvolva a contento exige, acima de tudo, dedicação. Desatenção, falta de carinho, de afeto, de cuidados são alguns dos pontos, de acordo com o médico, que mais atrapalham a saúde da garotada. “Às vezes, a criança vem de um lar abastado, mas vive triste, isolada, terceirizada a outros cuidados.”
Exames preventivos, como os testes do pezinho, da orelhinha e do olhinho são indispensáveis. “Muitos recém-nascidos não frequentam o pediatra na puericultura e passam a fazer parte da pronto-socorromania, ou seja, vão ao pronto-socorro somente na hora em que estão doentes”, detalha o pediatra Tadeu Fernandes.
Para Aline Ladeira de Carvalho Lopes, membro da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban), estabelecer uma rotina de hábitos saudáveis de sono, de alimentação, de brincadeiras, de aprendizados pedagógicos, de convivência com os pais e a família, vacinação em dia e cuidados de higiene são algumas das principais providências a serem adotadas pelos responsáveis. “Como o conceito de saúde envolve o bem-estar físico, mental e social, todos os comportamentos que interfiram negativamente nesse arranjo podem atrapalhar a saúde da criança”, reforça a nutricionista.
A infância é o período de vida ideal para a formação dos bons hábitos alimentares. Para as crianças menores de 2 anos, a nutricionista explica que o Ministério da Saúde lançou o documento Dez passos para uma alimentação saudável, que apresenta importantes estratégias para essa faixa etária. “Para crianças maiores, a alimentação deve contemplar todos os grupos, como cereais e tubérculos, leguminosas, carnes ou ovos, frutas, verduras e legumes e produtos lácteos”, completa.
Crianças são naturalmente ativas e precisam de atividade física para gastar toda essa energia. Mas outras atividades, como massagem, meditação e tratamentos holísticos também podem ser úteis para o desenvolvimento infantil. Embora não façam parte das orientações oficiais do Ministério da Saúde, tratamentos considerados alternativos podem ser ferramentas eficazes no caminho para a busca pela saúde da criança.
Para o pediatra Tadeu Fernandes, qualquer tipo de abordagem que envolva acolhimento e tempo com qualidade é válida. “Todos esses tratamentos serão úteis se a criança tiver o básico: boa nutrição, vacinação em dia, higiene do sono, do corpo e da mente, carinho, atenção e cuidados primários que os pais ou cuidadores têm que dar a elas”, pondera o médico.
Mário José Pinto Neto, instrutor de meditação transcendental, explica que a prática tem efeitos altamente benéficos para os pequenos. Segundo ele, meditar estimula a coerência cerebral das crianças. “Digamos que o cérebro trabalha com impulsos eletromagnéticos. Quando você medita, gera ordem nesses impulsos”, detalha. A coerência, então, se espalha para “o mundo real”. O resultado são garotos e garotas menos desatentos. “Devido ao excesso de estímulos que temos na realidade atual, em que as crianças são superexpostas à tecnologia, elas acabam desenvolvendo distúrbios de atenção”, completa.
Não há melhor época para aprender coisas novas do que a infância. O universo lúdico da arte é familiar para as crianças, que, naturalmente, veem tudo como uma grande brincadeira. Camila Amantéa, dona da escola de musicalização e dança infantil Amantéa, explica que introduzir conceitos musicais ajuda a trabalhar o ritmo e melhora o desenvolvimento psicomotor delas.
Além dos conceitos musicais primários, Camila explica que a musicalização é uma boa aliada no desenvolvimento matemático do cérebro. Um pequeno familiarizado com partituras e notas musicais desde cedo tende a aprender com mais facilidade uma das matérias mais temidas da escola. “A forma de pensar a música, de memorizar, faz com que a criança tenha mais facilidade em várias áreas, inclusive quando for adulta”, completa.
A dança também entra na lista de atividades que trarão bons frutos no futuro. Camila Amantéa frisa que o exercício é especialmente benéfico para crianças de 3 e 4 anos, uma vez que tem grande impacto no desenvolvimento da psicomotricidade infantil. “A partir do momento que a criança faz um trabalho psicomotor, trabalha a resistência muscular e física, está desenvolvendo suas sinapses e a parte cognitiva”, enumera. “A dança é muito mais que uma atividade física. Trabalha a disciplina de forma leve.”
O universo de fantasia criado pelo teatro é, também, extremamente atraente para a meninada. Nando Vilardo, um dos diretores e professores do curso de teatro Cia. Teatral Néia e Nando, diz que o principal benefício das encenações infantis é a manutenção do lúdico. “A criança precisa cultivar o sonho, a fantasia, porque, dali em diante, a vida será muito nua e crua”, opina. “Se ela fizer a manutenção dos sonhos, vai ter uma vida mais saudável no sentido de sempre ter inspirações.”