"Cabeça boa" faz a diferença para aproveitar os bons momentos da velhice

Bons resultados no checape não são suficientes. É preciso também estar mentalmente saudável, em estado de equilíbrio com o meio em que se vive

por Carolina Cotta 27/09/2015 09:58

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Arquivo pessoal
Heloísa Borges Haddad adiantou as comemorações do aniversário de 80 anos com uma viagem pela Itália (foto: Arquivo pessoal)
Saúde é o completo bem-estar físico, mental e social. Bons resultados no checape, portanto, não são suficientes. É preciso também estar mentalmente saudável, em estado de equilíbrio com o meio em que se vive. É isso que garante ao indivíduo sua participação laboral, intelectual e social para alcançar bem-estar e qualidade de vida. “É fundamental o bem-estar emocional e psicológico para a pessoa ser capaz de usar suas habilidades emocionais, cognitivas e sociais, sendo competente nas atividades diárias. A velhice saudável depende de laços afetivos satisfatórios, tolerância ao estresse, espontaneidade, otimismo, capacidade de atualização e sentimentos de segurança e autoestima”, explica a psiquiatra Rita Ferreira.


É por isso que, nos problemas de saúde física, a saúde mental está mais suscetível de ser afetada. Mas o que é possível fazer para envelhecer bem emocionalmente? Ter interesse pela vida é essencial. O indivíduo não deve ver o envelhecimento como uma etapa final. Deve seguir tendo planos e sonhos pra realizar, investir nos relacionamentos com a família, os amigos e os parceiros. Exercer a sexualidade também é essencial. Limites existirão, mas o importante é se adaptar. Sexualidade, segundo Rita, é a maneira de a pessoa expressar seu sexo por meio da fala, gestos, postura, modo de andar, de se vestir e de se enfeitar. “Ela traz satisfação e reforça vínculos. Na velhice, há mais possibilidades de se relacionar melhor como casal, valorizando o contato físico, o carinho, o companheirismo. E mesmo as relações sexuais, em menor quantidade, podem ser melhores, com mais sutileza, desprendidas de regras, modelos e pressões”, defende.

Mas as mulheres estão, no geral, menos confortáveis com sua aparência física, sua idade atual e sua vida sexual. De acordo com pesquisa, nesse último quesito, enquanto 55% dos homens se dizem confortáveis com sua condição atual, 44% das mulheres têm a mesma avaliação. O interessante é que os mais jovens tendem a estar menos confortáveis com sua vida sexual do que os mais velhos. Ou seja, os mais velhos estão, do ponto de vista sexual, mais satisfeitos que os mais jovens. Isso mostra que há muito mito em relação ao envelhecimento.

A pesquisa relevou que alguns estigmas e estereótipos relacionados à velhice ainda têm força no imaginário do brasileiro. A maioria dos entrevistados acredita, por exemplo, que as pessoas idosas tendem a ser mais teimosas e impacientes. Por outro lado, 77% consideram o envelhecimento motivo de orgulho e grande parte acredita que as pessoas nunca deveriam deixar de executar, por causa da idade, atividades muitas vezes associadas aos mais novos, como dirigir (25%), namorar (76%), vestir roupas jovens (34%), ouvir músicas modernas (67%), viajar (76%), estudar (65%) ou sair com amigos (77%).

AUTONOMIA Heloísa Borges Haddad completa 80 anos em novembro. Chegou semana passada de uma temporada na Itália com as amigas. A vida agora volta ao normal. Ela, que é viúva e mora sozinha, é responsável por fazer as compras, pagar as contas, cuidar da casa. Por que não seria, se tem saúde e autonomia para isso? Até pouco tempo tinha uma loja. Agora, complementa a renda com trabalhos manuais. Se faltar qualquer material, ela pega o carro e sai para comprar. Aos filhos cabe a companhia, o carinho e o suporte em um momento de necessidade.

Chegar aos 80 foi absolutamente natural. “Lá no passado, não achava que chegaria aos 60. Minha mãe viveu até os 72, mas com 79 me sinto muito mais jovem que ela”, comenta. Segundo Alexandre Kalache, doutor em envelhecimento e saúde pública e presidente do Centro Internacional da Longevidade no Brasil, as mulheres, como Heloísa, são as verdadeiras protagonistas dessa revolução da longevidade. “Elas estão orquestrando a construção social do envelhecer. Não os homens. Claro que eles, aos 70, já não colocam o pijama e arrastam o chinelo pela casa, como se nada mais fosse acontecer. Eles também ganharam em saúde e disposição. Mas as mulheres, muito mais”, provoca.

Isso ocorre porque aquelas com 60, 70 anos, hoje são a primeira geração de mulheres que participaram da revolução sexual, que tiveram a chance de planejar a vida reprodutiva, de espaçar os filhos. “Essa geração de idosas tem mais autonomia, porque não foi escrava de um casamento, não teve que pedir dinheiro ao marido, não sofreu tamanha opressão. Estamos vendo envelhecer essas mulheres pioneiras, emancipadas”, comemora. Nesse sentido, as perspectivas são as melhores possíveis.