Descobrir novas formas de apresentar os alimentos, prepará-los junto das crianças, além de adotar e transmitir bons hábitos à mesa é o caminho. E esses hábitos devem ser desenvolvidos no primeiro ano de vida, na fase em que os sólidos são apresentados ao bebê, de acordo com Luana Caroline dos Santos, professora do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Os pais são os modelos. Em nossos atendimentos nas escolas, escutamos muito a reclamação dos pais quanto à alimentação dos filhos. Dizem que eles não comem coisas saudáveis, mas, muitas vezes, as crianças não têm os alimentos disponíveis em casa.”
Somente a disponibilidade dos alimentos em casa, segundo a docente, também não vai resolver a questão. “Se os pais não estiverem envolvidos não vai mesmo acontecer. A fruta, por exemplo, precisa ser acessível. A criança tem uma certa preguiça e, dependendo da idade, ela não tem habilidade. Na adolescência a situação piora, porque o jovem não vai fazer mesmo. Então, o que vai fazer a diferença são pequenas ações dos pais ou de quem está cuidando das crianças. O produto tem de ser atrativo, cortado. No almoço, não adianta pôr a salada em uma tigela separadamente. Tem de pôr no prato”, explica.
Para se acostumar a determinado alimento, a criança, na primeira fase da infância, deve prová-lo de oito a 20 vezes. “Vai depender de criança para criança. E isso é porque o nosso paladar já tem uma leve predisposição para o doce. Se você der um doce, ela vai aceitar quase que instintivamente. Por isso, pede-se não dar doce nos dois primeiros anos de idade. Não vai fazer a menor diferença, porque ela está acostumada ao leite materno, que é levemente adocicado, mas aguado.”
Nesse sentido, quanto mais alegre for o prato a ser oferecido, melhor. “A criança que tem uma dieta monótona nos primeiros anos de vida tem dificuldade de aprender a comer outras coisas mais tarde. Ela precisa ser estimulada à variedade”, afirma Luana Santos.
PRAZER
Mas doces e guloseimas não são, completamente, proibidos depois dos dois primeiros anos de idade. “Eles não podem ser rotina, devem ser deixados para as ocasiões especiais. Não podem fazer parte do lanche escolar por exemplo. Também não podem ser utilizados como prêmio. Tem pais que dizem: 'Se você comer a salada, vai ganhar um chocolate'. O alimento, seja qual for, não pode servir de barganha. A comida tem de ser prazerosa.”
Envolver a participação no processo de preparo da comida também é uma alternativa para resolver o problema com a alimentação, de acordo com a especialista. “A criança é muito curiosa. Tudo de que participa e tem enquanto dela vai fazer a diferença. Se ela preparou o prato e ficou bonito, vai querer provar o que fez.”
A professora destaca a participação das escolas na conscientização da importância de uma alimentação saudável. Para ela, a educação alimentar e nutricional tem de fazer parte do currículo.
Na Escola Miri Piri Brasil, no São Bento, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para crianças de 2 a 6 anos a história da alimentação é um dos focos centrais do projeto pedagógico. A diretora, Sat Kartar, entende que ela é determinante para o desenvolvimento cognitivo, sensorial e social, além de ser bom para a saúde e o bem-estar das crianças. “Isso é a nossa premissa. Para que seja uma coisa gostosa, achamos que temos de construir com elas um hábito saudável.”
A escola oferece o lanche aos alunos, que é preparado com alimentos orgânicos selecionados pelas próprias crianças, uma vez por semana pelo menos. “O lanche também é realizado de forma coletiva, porque entendemos que a alimentação tem o viés social. Elas aprendem a se servir, a cuidar do espaço. Também preparamos lanches bonitos, coloridos, atrativos e gostosos para o paladar.”
DICAS: Aprendendo a comer bem
1- Misturar alimentos não é bater tudo junto, em uma pasta sem cor nem gosto definido. É importante deixar a criança entrar em contato com sabores variados e aprender a diferenciá-los.
2- Nas sopas de legumes, o melhor é amassar os ingredientes com o garfo, sem passar pelo liquidificador ou pela peneira, para conservar as fibras dos alimentos.
3- Yakissoba, macarrão japonês feito com legumes e carnes, é um ótimo exemplo de mistura saudável e completa que a maioria das crianças gosta de comer.
4- Inclua nas refeições comidas que a criança pode pegar com as mãos: cenoura baby, tomate-cereja, espiga de milho e hortaliças cortadas em palito, por exemplo.
5- Coloque os alimentos que compõem a refeição separadamente no prato ou em cumbucas individuais. Eles devem ter cores e texturas diferentes.
6- Faça desenhos em cima do purê de batata. Nada complicado: pode ser um círculo ou uma espiral com ervilhas frescas ou congeladas. Outra ideia é espetar flores de brócolis japonês cozidas sobre o purê. Fica mais gostoso quando é a própria criança quem faz a decoração de seu prato.
7- Comer é um processo instintivo. O organismo regula a quantidade de energia que precisa por dia. Se a criança não comer nada no almoço, por exemplo, ela acabará compensando nas outras refeições. Portanto, espere até seu filho ter fome.
8- Nenhum alimento é insubstituível. Seu filho não come cenoura? Ofereça abóbora, mamão ou outros vegetais amarelos e alaranjados, e as fontes de vitamina A estão garantidas.
A mesma ideia vale para qualquer grupo de nutrientes ou micronutrientes.
9- Não sirva no jantar o mesmo cardápio do almoço. Se for reaproveitar os pratos, reinvente as combinações.
10- Não faça ameaças de nenhum tipo se a criança não quiser comer e, quando ela estiver doente, não a obrigue a se alimentar.
11- A tolerância para o gosto amargo é determinada geneticamente. Se a criança tiver predisposição, ótimo; se não, também está ótimo, não insista. O importante é ela conhecer o sabor para saber se vai gostar ou não.
12- O ambiente da refeição deve ser tranquilo, sem TV, música e muito menos gritaria.
13- Leve as crianças para a cozinha. Quando elas mesmas preparam os alimentos, certamente vão querer
provar o que fizeram.