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A parte ruim de toda essa atenção é a crítica constante dos que acham que sabem demais. Pela aparência de Saimon, Laila tem que responder muitos questionamentos sobre o calor que o cão deve sentir em terras brasileiras e é aí que ela precisa explicar, quando tem tempo, sobre a pelagem dupla, característica de samoiedas e de outras raças como chow chow, labrador e golden retriever, por exemplo.
A pelagem dupla se dá quando o cão tem dois tipos de pelos diferentes, o principal, também chamado de longo, e o subpelo, o mais curto. A característica confere uma aparência felpuda ao pet, o que leva a ideia de que eles estariam sujeitos ao excesso de calor.
O veterinário e presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa), Bruno Alvarenga, explica, no entanto, que a pelagem dupla cria uma espécie de camada de ar que preserva o animal tanto do calor quanto do frio. A proteção promove a manutenção térmica nos pets e é necessário um calor ou frio extremos para fazer mal a eles.
O especialista acrescenta que o animal exposto ao clima brasiliense ou de outra cidade com características de clima semelhante pode sofrer com a secura e o calor e é preciso adotar algumas medidas para aliviar o incômodo. Entre elas estão oferecer refeições aquosas e água constantemente, assim como tosá-los. É nesse último ponto, porém, que se inicia a polêmica. Enquanto alguns profissionais tentam convencer os donos a cortar os pelos do cão por causa do calor, os criadores de cachorros são terminantemente contra essa prática.
Bruno Alvarenga afirma que tosar cachorros de pelagem dupla não traz malefícios à saúde do animal desde que o dono encontre outras formas de prover a proteção que o pelo garantia. “Eles ficam mais expostos, não podem tomar sol quando estão tosados nem ficar ao relento durante as horas mais frias, mas, se forem bem cuidados, não terão problemas de saúde apenas por estarem tosados”, afirma o veterinário.
Laila, apesar de saber que o procedimento não traz riscos, prefere manter Saimon peludo. “Só tiro os pelos das patas, porque senão ele escorrega muito. Mas é só isso, não vejo necessidade de fazer nem a higiênica. Ele não é um cachorro de tosa, perde toda a beleza”, afirma. A estudante conta que se trata de uma escolha estética, mas, em caso de necessidade, não tem dúvidas. “Quando ele teve dermatite, eu tosei. Para manter o padrão da raça, alguns criadores dizem que o pelo nunca mais vai voltar da mesma forma, mas o do Saimon nasceu igual alguns meses depois”, completa. Enquanto o samoieda estava tosado, a dona teve alguns cuidados especiais, entre eles, colocar roupas para protegê-lo do sol na hora dos passeios e dar vitaminas e suplementos para ajudar no crescimento mais rápido da pelagem.
Os cuidados com Saimon peludo não são menos trabalhosos do que quando o cão estava tosado. “Eu faço uma escovação semanal de mais ou menos uma hora e uso dois tipos de escova, uma para o pelo longo e outra para o subpelo. Não posso deixar a pelagem embolar”, conta a estudante.
A escovação é uma das alternativas para manter o animal mais limpo, uma vez que cães com pelagem dupla não podem tomar banho constantes. “Não pode ser mais de uma vez por semana, pois os produtos de higiene removem a gordura do pelo, a principal fonte de proteção. Além disso, retira a umidade excessiva, que pode causar problemas de pele, como fungos”, acrescenta o veterinário.
Com opinião diferente, o esteticista canino Joaquim Gonzaga da Silva desaconselha a tosa, com exceção dos casos de problemas de pele. “Nem todos os tosadores fazem cursos de especialização e muitos não conhecem os cuidados necessários com os cães de pelagem dupla.”
Ele explica que é contra a raspagem dos pelos porque a camada protege o animal do calor, do frio, da chuva e até mesmo de problemas dermatológicos. “Eles usam os pelos para controlar a temperatura do corpo, quando removermos essa proteção, os bichos perdem essa capacidade e podem sofrer bem mais do que se tivessem sido mantidos intactos”, afirma.
Joaquim é a favor de diminuir os pelos de animais extremamente peludos nas épocas mais quentes e defende a tosa higiênica somente em casos necessários. “Só deve ser feita em animais que se sujam muito porque o pelo na região genital também é uma proteção, principalmente contra infecções”, completa.
O especialista trabalha na área há cerca de 30 anos e pondera quanto às regras muito rígidas. “É preciso avaliar cada cão e cada raça. É necessário ver o lado prático e o lado estético. No caso do samoieda, que tem muito pelo, não é indicado raspar tudo como alguns profissionais tentam fazer. Eles são brancos e tem a pele sensível, a lã (subpelo) é um protetor térmico e não deve ser removida”, acredita.
O veterinário completa dizendo que, apesar de não apresentar riscos a saúde, a questão da tosa em cães de pelagem dupla é uma escolha do proprietário. “Os animais de exposição são diferentes dos de casa. Se é necessário que eles tenham a aparência padrão, realmente não devem ser tosados. Mas, quando não há essa exigência, não existe problema em raspar os pelos desde que o pet receba os cuidados necessários”, diz Bruno Alvarenga.
Cuidados com os cães de pelagem dupla
- Escovação semanal com escova de pinos que não agride os pelos
- Não dar mais de um banho por semana
- Escovação com a rasqueadeira para remover os pelos mortos
- Em caso de sujeira excessiva, é preciso fazer a tosa higiênica
- Não escovar na época de troca de pelos, somente com pentes para evitar nós
- Quando o animal escorrega muito é recomendando cortar os pelos próximos das patas para evitar quedas e lesões