O que a moradora da Asa Norte, em Brasília, sentiu não se trata de coincidência. A ciência vem tratando de atestar os benefícios da prática milenar para uma infinidade de complicações à saúde. Durante os últimos 10 anos, o número de artigos em revistas e jornais especializados sobre ensaios clínicos da ioga para aliviar os sintomas relacionados a doenças aumentou três vezes. Detalhada recentemente no The Journal of Medicine Complementar e Alternative, a análise realizada por pesquisadores da Universidade de Harvard teve como base estudos abrangendo 29 países e mais de 28 mil voluntários. Os investigadores descobriram que os principais trabalhos científicos sobre ioga estão frequentemente ligados ao tratamento para saúde mental, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e dores corporais.
O maior estudo feito até hoje sobre os benefícios da ioga é focado na eficácia para o tratamento da dor lombar crônica. Conduzido na Universidade de York, no Reino Unido, e financiado pela Arthritis Research UK, o experimento contou com 313 participantes e durou 12 semanas. Ao fim dos testes, aqueles que aderiram à prática milenar experimentaram maiores melhorias em conseguir aguentar dores no corpo e mais confiança na realização das tarefas diárias em relação aos que utilizaram as formas comuns de alívio, como a ingestão de analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares.
A investigação foi realizada com base na chamada back fuction (função de volta, em português), que é a capacidade de as pessoas realizarem atividades sem serem limitadas por dores nas costas. A medida dessa habilidade se deu por meio de um questionário composto por 24 perguntas de sim ou não e focado na avaliação do nível de incômodo. Todos os voluntários recebiam cuidados convencionais para dores nas costas, crônicas ou recorrentes. Um grupo de 156 teve aulas de ioga. Os 157 restantes se limitaram aos cuidados comuns.
Em quem não focou apenas nas intervenções tradicionais, os pesquisadores perceberam melhora maior da capacidade de realizar tarefas cotidianas, como caminhar rapidamente, vestir-se sozinho e ficar em pé por longos períodos de tempo. Os avanços foram notados até nove meses após o início das aulas. “Os estudos anteriores eram centrados nos benefícios de curto prazo da ioga. Nós queríamos ver os de longo prazo e medir as melhorias em três, seis e doze meses após a entrada no estudo”, diz David Torgerson, um dos investigadores. Segundo o também diretor da York Trials Unit, as conclusões indicam vantagem a curto e longo prazo sem quaisquer efeitos colaterais.
Humor
Da Escola de Medicina da Universidade de Boston, também nos Estados Unidos, vem um estudo comprovando que a ioga pode ser superior a outras formas de exercício quando o assunto é humor e ansiedade. Os resultados foram obtidos por meio da associação entre as posturas da prática milenar e o aumento os níveis de gama-aminobutírico (Gaba). Baixos níveis desse aminoácido estão associados à depressão e a outros transtornos de ansiedade generalizada. Por isso, os cientistas defendem que a ioga deve ser considerada como uma terapia potencial para transtornos psiquiátricos.
Eles acompanharam dois grupos aleatórios de indivíduos saudáveis ao longo de 12 semanas. Um praticou os exercícios de origem indiana três vezes por semana, durante uma hora. Os demais participantes fizeram caminhada. Por meio de ressonância magnética, observou-se o cérebro dos participantes. Ao fim do experimento, os pesquisadores compararam os níveis de Gaba no órgão dos membros de ambos os grupos antes e após a última sessão de 60 minutos.
Cada indivíduo também teve o estado psicológico avaliado em vários pontos ao longo do estudo. Aqueles que praticaram ioga relataram uma diminuição mais significativa da ansiedade e mais melhorias no humor.. “Com o tempo, as mudanças positivas desses relatórios foram associadas com maiores níveis de Gaba”, disse Chris Streeter, um dos autores e professor de psiquiatria e neurologia da universidade norte-americana.
Prática melhora a capacidade pulmonar
Pesquisa recente da Sociedade Americana de Psicologia descreve os efeitos da ioga sobre as funções respiratórias. Com seis semanas de duração, o estudo envolveu 58 voluntários saudáveis, com, em média, 20 anos. Metade deles fez cinco posições de hatha ioga durante sessões de 20 minutos, três vezes por semana. A outra parte funcionou como grupo de controle, não precisou realizar os exercícios e manteve o estilo de vida.
Os pesquisadores mediram a expansão e as medidas de volume pulmonar nos voluntários antes e depois da experiência. Para isso, utilizaram uma fita métrica para determinar a capacidade de expansão do pulmão com base no tamanho da parte superior do peito (esterno), do peito médio (na altura da costela 5) e da parte inferior do tórax (costela 8). Conforme os principais resultados, houve reforço da musculatura inspiratória, melhor expansibilidade torácica, fortalecimento dos músculos expiratórios e menor obstrução das vias aéreas entre os que praticaram a ioga. “Esses achados podem beneficiar as pessoas que sofrem de doenças que afetam a respiração, incluindo a asma”, ressalta Raoyrin Chanavirut, pesquisadora da Universidade Khon Kaen.
A educadora física Luanda Iida de Carvalho ensina ioga no Swaha Espaço e Cura e diz que um dos princípios básicos da prática milenar é aprender a respirar, o que melhora da coordenação e o equilíbrio ao controle da pressão arterial. “Aqui, ensinamos o aluno a inspirar e a expirar por meio de posturas e meditação. Esse aprendizado faz com que todo o corpo se regule”, diz a professora, que aderiu a prática após uma viagem ao Japão, onde teve contato com variadas terapias focados no bem-estar.
Conexão total
“No aspecto físico, os benefícios da ioga não são muito diferentes de outros exercícios físicos comuns, como a ginástica e o pilates. Movimento é saúde, e quem se movimenta terá melhor resistência física, flexibilidade, força, além dos benefícios fisiológicos, como equilíbrio da pressão arterial. Mas a grande diferença da prática está na integração entre mente e corpo. Ela não se resume apenas a um movimento. O movimento é feito com total conexão da concentração e de um ritmo respiratório sincronizado. Isso rende benefícios que extrapolam o corpo, gerando tranquilidade, vitalidade, melhoria do foco e concentração.”
Carlos Legal, professor de qualidade de vida e saúde ocupacional no MBA de RH da Fundação Getulio Vargas