Se a estratégia parece um ganho de tempo, é preciso saber que ela também pode significar um ganho de peso. Não é novidade que, quando se está desatento, o costume é comer mais. Contudo, mesmo quando a quantidade de comida é exatamente a mesma, quem divide o momento da refeição com outras distrações corre risco maior de engordar, principalmente quando se está em movimento.
Especialista em distúrbios alimentares, Jane Ogden, professora de psicologia da saúde da Universidade de Surry, na Inglaterra, conduziu uma pesquisa com 60 adultas para verificar a influência da forma que se come no controle da saciedade. Ela distribuiu barrinhas de cereais às participantes, que foram divididas em três grupos. No primeiro, as mulheres deviam comer enquanto andavam pelo corredor. O segundo grupo degustou o lanche sentado no sofá, assistindo a um seriado de tevê. Por fim, as 20 voluntárias restantes comeram a barra à moda antiga: sentadas à mesa, de frente para um interlocutor.
No fim do experimento, as participantes completaram um questionário e foram submetidas a um teste em que foram colocadas diante de quatro tigelas de lanche: chocolate, palito de cenoura, uva e batatas fritas. Aquelas que comeram a barrinha de cereal enquanto andavam foram as que mais atacaram as guloseimas. Além disso, consumiram cinco vezes mais chocolate que as outras.
“Tanto comer em frente à tevê quanto comer andando não são coisas boas para você, já que essas são formas poderosas de distração, que significam que as pessoas não estão atentas sobre o que comem e, portanto, não se sentem satisfeitas”, diz Jane Ogden. “Mas, no nosso estudo, comer enquanto se locomoviam foi particularmente ruim para as participantes, porque elas acabaram comendo mais depois, possivelmente porque sentiam que haviam se exercitado e, por isso, mereciam um alimento extra”, afirma.
Comando cerebral
A nutricionista Ana Carolina Icó, do programa de reeducação alimentar Dieta e Saúde, lembra que fome e saciedade não são só questão de barriga cheia ou roncando. Na verdade, quem comanda essas sensações é o cérebro, que se comunica com o estômago por meio de hormônios para saber se é hora de cruzar os talheres ou se o organismo ainda precisa se nutrir um pouco mais. Os estímulos visuais e a mastigação fazem parte desse processo.
“O cérebro, nosso comandante, precisa entender que tem um prato de comida na frente. Se você fica fazendo outras coisas, como mexer no celular, ele não consegue entender que está no momento da refeição. Então, a pessoa corre o risco de comer mais, sem perceber, e, pouco tempo depois, pode sentir fome novamente”, afirma Ana Carolina Icó. De acordo com ela, comer em pé tira ainda mais a sensação de estar se alimentando, o que pode agravar o vazio no estômago mais tarde. A nutricionista Patrícia de Andrade, professora da Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ), lembra que, ao mastigar pouco e comer depressa, o cérebro não processa adequadamente a liberação dos hormônios envolvidos na digestão e na absorção dos nutrientes.
Jane Ogden, que publicou o resultado de seu estudo na edição de hoje da revista Journal of Health Psychology, reconhece que, atualmente, é muito mais difícil se render ao ritual da alimentação à mesa, sem distrações ao redor. “O ideal é que a comida seja ingerida como uma refeição, e as refeições deveriam ser eventos, de forma que a comida fosse processada e relembrada”, diz. “Mas, se as pessoas precisam comer enquanto se deslocam, deveriam escolher lanches pouco calóricos, como frutas. Dessa forma, não importa tanto se elas comeram sem pensar. Se você tem de fazer isso, então, deve encontrar uma forma de dizer a si mesmo, conscientemente, que está tomando seu café da manhã, almoçando ou jantando para que se lembre do que comeu e não acabe exagerando nos alimentos mais tarde”, recomenda. Ogden também é autora do recém-lançado livro The good parenting food guide (O guia dos bons cuidados alimentares para os pais, em tradução livre), em que ressalta a importância de pais e mães darem o exemplo aos filhos e não comerem em movimento.