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O primeiro contato com a empresa que fará a despedida deles se deu pela internet, quando Márcia decidiu que os animais deveriam ter um destino digno para descansarem em paz. Em geral, os bichos têm boa saúde, somente a mais velha necessita de uma atenção especial. “Minie sofre de problemas cardíacos e pulmonares. Toma remédios todos os dias e tem uma alimentação especial”, conta. No auge da crise, a cadela não conseguia respirar direito. “Eu passei três noites sem dormir preocupada”, explica.
Márcia é devota de São Francisco de Assis, protetor dos animais, e acredita que deve ajudar bichinhos abandonados e associações protetoras. Segundo ela, o principal motivo para fazer um plano funerário para os pets é dar um enterro digno. “Não quero descartá-los como se fossem uma embalagem. Eles merecem essa última homenagem”, explica.
Ela se emociona ao falar dos anos que já conviveu com as mascotes. “É uma relação de cumplicidade, amor e amizade. Eu sou muito espiritualista. Acredito que todos nascemos, crescemos e morremos. Eles estão velhinhos e sei que a hora deles vai chegar, infelizmente”, conta. Apesar da dor, ela garante que é muito grata por todos esses anos de convívio.
Pessoas passam pela nossa vida e deixam lembranças, com os animais não é diferente. “Tenho uma gratidão. Quero dar dignidade mesmo na hora da morte dos meus animais, já que eles tiveram uma vida toda comigo. Uma vida de cumplicidade e amor incondicional. Esses anos foram muito especiais com eles”, finaliza.
Não existe como se preparar para a morte. Segundo a psicóloga Keyla Montenegro, há apenas tentativas. “Até quando se espera a morte é uma surpresa”, conclui a psicóloga, especialista em luto. Segundo a profissional, algumas atitudes podem ajudar nesse momento de dor. “O primeiro passo é a expressão das emoções. Quando o animal segue internado é importante dar um momento para a família estar com ele”, afirma.
Outra atitude importante é a comunicação. Veterinários, geralmente, são bombardeados por perguntas sobre o estado de saúde dos animais e é fundamental conversar com os tutores para informar tudo que está acontecendo. “Esse período gera uma grande ansiedade. Quando estamos ameaçados de perder algo que gostamos muito perdemos a atenção, mudamos o foco e a memória fica comprometida”, explica a especialista.
Existe a morte repentina, como atropelamentos, e mortes anunciadas, quando o animal já está velho ou com a saúde debilitada. Mas não é possível mensurar a dor não se mensura. “As duas situações são muito difíceis. Temos o choque da morte repentina e o a frustração lenta da morte arrastada. A gente não espera mesmo quando está esperando”, afirma Keyla.
O luto é moroso e varia de pessoa para pessoa. É comum que, em um primeiro momento, a pessoa se sinta em choque. Também podem acontecer alterações fisiológicas. O sono é prejudicado, produtividade pode cair, falta de atenção e perda da memória.
Nenhum animal substitui outro. Os bichos possuem personalidades diferentes e uma história única. “São como membros da família. Vai existir uma lacuna emocional muito grande, pois o vazio se instala e é bastante doloroso”, afirma a psicóloga.
Camilla Passos, 26 anos, assistente de eventos, passou por maus bocados quando a cadelinha Lili morreu aos 12 anos, em julho de 2013. A morte do animal já era esperada. Lili sofria de piometra e câncer de mama. “Os veterinários avisaram que ela não ficaria ao meu lado por muito tempo”, conta.
Ela se emociona ao se lembrar dos momentos com Lili. “Era meu xodó e minha sombra. Quando estava em casa, me seguia por todos os lados. Isso é o que eu mais sinto falta. A saudade da minha companheira me seguindo pela casa”, relembra.
Lili foi enterrada no quintal de uma casa. Atualmente, Camilla tem mais dois animais: uma cadela de 5 anos sem raça definida e um daschund de 1 ano e meio. Para ela, uma casa sem animais é uma casa sem alegria.
Há duas opções para quem pretende despedir-se das mascotes: o enterro convencional ou a cremação. Os dois serviços seguem normas para evitar a contaminação do solo. Luiz Felippe Lopes trabalha como administrador em um crematório de animais e afirma que os tutores chegam até eles muito abalados. “Cada animal tem sua individualidade, sua história. A gente escuta muita coisa dos donos dos animais e tentamos confortá-los nesse momento tão difícil”, explica.
Lopes faz um alerta para pessoas que jogam os animais em lixões ou os enterram em casa. “Não podemos descartar nenhum bicho. Além disso, enterrar animais em casa ou em outro local pode contaminar o lençol freático.” Um plano funerário pode garantir o bem-estar do bicho mesmo depois da morte. “Nós cuidamos do transporte, sala de velório, embalagem do corpo em caixão biodegradável e uma lápide”, afirma Sheila Ribeiro, proprietária de um cemitério especializado.
“Ninguém está preparado para a morte. Mesmo gastando com internações e um plano funerário, esse é um momento muito difícil. Nós conversamos, deixamos a pessoa se despedir e respeitamos essa dor. Tudo é feito sem pressa”, afirma Sheila. Em 4 anos, foram enterrados mais de mil animais no local. Além de cães e gatos, há espaço para outros bichos também. “Coelhos, hamster, papagaio e outros pássaros também já passaram por aqui”, conta.
Velhice tranquila
A expectativa média de cães miniaturas/pequenos é de 14 a 18 anos, os médios entre 12 a 15 e os grandes/gigantes aproximadamente 8 a 10. Os gatos podem chegar a duas décadas. Naturalmente, ao londo da vida, podem aparecer problemas degenerativos, como falências orgânicas. Insuficiências cardíaca, hepática, renal, hormonais e processos oncológicos e ortopédicos. “Os mais problemáticos são a insuficiência renal e as neoformações malignas com alto grau de metástase”, afirma o veterinário Rafael Souza.
Existem várias ferramentas que podem ser utilizadas para proporcionar uma velhice tranquila aos pets. Os bichos diagnosticados com problemas ortopédicos podem passar por sessões de acupuntura, fisioterapia, quiropraxia, rações suplementadas com ingredientes para amenizar o desgaste ósseo. A maioria dos pacientes geriátricos necessita receber medicação até o fim da vida.
Alguns animais em idade muito avançada podem desenvolver a síndrome da disfunção cognitiva, semelhante ao Alzheimer humano. “Ele troca o dia pela noite, anda sem uma direção certa, não interage com as pessoas ou outros animais, não consegue achar a saída de alguns locais e, naturalmente, se moverá menos por causa das dores articulares”, explica Rafael Souza, veterinário.