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Só mais tarde, depois de uma recidiva, ela passou a usar a erva para amenizar os efeitos da quimioterapia e também como forma de “estacionar” o tumor. “Quando terminei a primeira ‘químio’, perguntei ao médico e ele disse que não poderia recomendar, porque era ilegal, mas reconheceu os benefícios. Fiquei mais segura dividindo isso com o meu médico. Já o oncologista que estava me receitando o medicamento para náuseas não proibiu, mas percebi que desaprovava”, lembra. Agora, já em outro tratamento de quimioterapia, Loiva usa maconha com o conhecimento do seu médico. “Não é tão fácil conseguir e também não gosto dos efeitos psicoativos. Uso mais no fim de semana, nos dias de quimioterapia, mas só quando consigo com amigos que cultivam”, explica. Quando usa, ela afirma que se sente muito bem e até consegue comer. “Houve um período, na segunda recidiva, em que sentia dores fortes e constantes e a única coisa que amenizava o meu sofrimento era fumar maconha”, sustenta.
Autismo
O médico Paulo Fleury Teixeira, especialista em medicina preventiva e pesquisador do Ministério da Saúde, é um dos profissionais que aceita receitar a maconha medicinal para pacientes que necessitam dela para viver. “Comparada com o álcool e com o cigarro, os riscos oferecidos pela erva são infinitamente menores. Os canabinoides têm eficácia comprovada para o tratamento de diversos problemas de saúde. Um dos meus pacientes é autista e tem tido uma resposta muito boa com o uso”, atesta. A família da paciente de 8 anos procurou os derivados da cannabis para o tratamento na tentativa de regularizar o sono da menina, que tinha insônia e agitação noturnas e despertava entre 20 e 80 vezes por noite e só dormia na cama dos pais. “Isso significa que a mãe passou oito anos sem dormir. Com o uso do canabidiol, em uma semana ela passou a despertar entre duas e quatro vezes, dorme em seu próprio quarto, muitas ocasiões durante a inteira”, afirma. Seis meses depois do início do tratamento, a acumula consideráveis ganhos psicomotores, tanto que teve suas primeiras aulas de música (está aprendendo órgão e cantando). “Isso seria inimaginável antes da maconha medicinal”, sustenta o médico.
AJUDA
O grupo do psiquiatra, neurocientista, pesquisador e professor da Faculdade de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), José Alexandre Crippa, entre outros no país, está na vanguarda mundial da pesquisa sobre o potencial uso terapêutico do canabidiol (CBD), conduzindo pesquisas de seu uso para a doença de Parkinsson, esquizofrenia, ansiedade, distúrbios do sono, dependência de drogas e outros problemas. Ele lembra que um medicamento que combina o uso do CBD e do THC está disponível para o tratamento da esclerose múltipla no Canadá, Espanha e Reino Unido, mas lamenta que o uso benéfico dos canabinoides seja usado como argumento para a legalização da maconha para fins recreativos. “Os compostos de canabinoides têm mostrado incrível potencial terapêutico e poderão ajudar milhões de pessoas no mundo todo, inclusive no Brasil”, sustenta Crippa. Mas, para ele, a ampliação dos ensaios clínicos avaliando a segurança e faixa de dose é essencial.
EFICÁCIA
- Dores crônicas
- Quimioterapia
- Esclerose múltipla
- Epilepsia
O QUE DIZ O CFM
Riscos e benefícios
O Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou, em 2014, o uso compassivo do canabidiol como terapêutica médica. O tratamento pode ser prescrito somente por neurologistas, neurocirurgiões e psiquiatras e deve ser usado exclusivamente para tratamento de epilepsias na infância e adolescência refratárias às terapias convencionais. Os pacientes ou responsáveis legais deverão ser esclarecidos sobre os riscos e benefícios potenciais dessa terapia e autorizar o tratamento por meio de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os médicos prescritores e os seus pacientes deverão ser previamente cadastrados no CRM/CFM para monitoramento.