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Dores e delícias do casamento

Ansiedade pode ser problema durante e até depois da organização de uma festa de casamento

Preparar a cerimônia de casamento demanda, obviamente, tempo e dinheiro. Mas somente isso não basta. É necessário controle emocional para lidar com ansiedade e preocupações que envolvem toda a organização. O evento envolve uma mudança drástica na vida e, segundo a terapeuta e vice-presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, Sâmia Simurro, a expectativa do “felizes para sempre” associada à quantidade de providências a serem tomadas exige muito do casal e do relacionamento. “O casamento é todo um processo e a festa é apenas uma parte dele. Envolve famílias e culturas diferentes; então, é importante equilibrar as personalidades, os gostos e é uma forma de o casal se aproximar ainda mais”, explica.

A duas semanas do grande dia, a noiva Édelyn Cristina, 32 anos, tem, ao mesmo tempo, preocupações práticas e emocionais. Por um lado, a contratação de tantos prestadores de serviço e notícias sobre fornecedores que não honraram contratos — no ano passado, uma grande confeiteira faliu deixando na mão inúmeros casais e, recentemente, noivos tiveram problemas com cerimonialistas e decoradores — a deixam apreensiva. Por outro, ela quer desesperadamente que o casamento chegue logo, mas já se preocupa com a saudade que vai sentir de toda a preparação.

Além disso, não se autoriza a chorar quando estiver entrando na igreja — somente depois. Édelyn, no entanto, tem certeza: “O meu sonho justifica todo o estresse”.

Para o cerimonialista César Serra, a ansiedade faz parte da emoção do casamento. Os sentimentos afloram para todo os envolvidos, mas uma noiva bem assessorada não precisa nem deve se preocupar. “Muitos colocam a pressão toda em cima da festa, mas ela dura cinco horas. Todo o processo de organização deve ser divertido e prazeroso”, explica. Ele conta que, na prática, trabalha também como psicólogo. Os noivos desabafam e choram com ele.

O casamento vai mudar a vida do casal, mas, para o noivo de Édelyn, as coisas estão bem mais tranquilas.
As expectativas são menores. Ele ficaria satisfeito até mesmo com um churrasco de casamento. Ela curte cada detalhe da preparação e entende que os interesses do amado são diferentes. “Ele foi comigo escolher as flores. Eu adorei, mas ele ficou entediado”, exemplifica. A ansiedade dela e a tranquilidade dele, segundo o psiquiatra Valentim Gentil, professor da USP e PhD em psiquiatria pela Universidade de Londres, têm razões tanto biológicas quanto sociais. Na mulher, a produção de hormônios oscila ao longo do mês, uma das causas da tensão pré-menstrual, o que a deixa mais vulnerável aos transtornos de ansiedade. Durante a TPM, por exemplo, o cérebro dela fica privado de duas substâncias calmantes e antidepressivas, o estrógeno e a progesterona.
Além disso, segundo Gentil, para elas, é natural expressar os sentimentos. Desde pequenas, são treinadas a externar sensações normalmente. Já o homem aprende que demonstrar ansiedade é sinal de fraqueza.

Muitas mulheres reclamam da falta de ajuda do noivo com os preparativos do casamento. Como o noivo de Édelyn fez um esforço para ir escolher flores com ela, a biológa também faz um esforço para resolver certas coisas sozinhas e delegou funções com as quais ele se identifica. Ele ficou responsável pela música, pelas alianças e pelos documentos do cartório. Segundo a psicoterapeuta Maura Albanesi, encontrar esse equilíbrio é enriquecedor para o casal. “É claro que é ótimo um noivo presente, para a mulher não ficar com aquela impressão de que o casamento é somente dela, mas a mulher também precisa entender que ele não se importa tanto com os detalhes”, explica.

Às vésperas do grande dia
As emoções de Édelyn estão à flor da pele. No trabalho, para os colegas, é sempre uma surpresa: ela pode chegar chorando ou sorrindo. Sem dúvida, costuma estar com sono, já que dormir não tem sido fácil. “Quando eu coloco a cabeça no travesseiro, lembro de algum detalhe que precisava resolver e estava esquecendo.
Quando durmo, tenho pesadelo”, relata a noiva. As minúcias são muitas: bufê, bolo, fotos, prévia, doces, flores, vestido, véu, sapato, terno, lembranças dos padrinhos e madrinhas. Nos sonhos ruins, ela está pronta para casar, mas os cabelos estão desarrumados. Édelyn tem tomando comprimidos de passiflora para aliviar um pouco os sintomas da ansiedade. A psicoterapeuta Maura Albanesi recomenda a procura por ajuda no caso de desajustes físicos como insônia ou falta de apetite. “Quando a ansiedade é estimulante é ótimo, mas se provoca irritabilidade, choro demais tem algo errado.”

Édelyn sempre quis se casar. Uma foto dela com apenas 2 anos brincando de noiva comprova o desejo. A expectativa, portanto, está nas alturas. “Parir a minha filha foi mais fácil”, admite. A noiva garante que nem quando estava grávida, há três anos, ficou tão ansiosa.
A organização da celebração já dura muito mais tempo do que a gestação. Os dois começaram a economizar para a festa em 2012 e, no início de 2013, fecharam o primeiro contrato, com o fotógrafo. Os três anos anteriores à festa tem duas justificativas: o casal contratava apenas um serviço por vez; e queria que a filha deles estivesse grande o suficiente para levar as alianças. A menina cresceu e, inclusive, dá palpite e tem vontades próprias: queria usar o vestido da Elsa, personagem do filme Frozen.

Édelyn tem uma pasta com todos os contratos e as notas fiscais. É a pasta que evita ainda mais nervosismo, ansiedade e chororô. Conta que nunca havia sido muito organizada com nada. A exceção está sendo com o dia com o qual sempre sonhou. Pesquisou cada uma das prestadoras para que tudo saia como esperado. Mesmo assim, no dia em que fez as prévias das fotos, viu que nem sempre as coisas saem do jeito que se planeja. Foi o auge do nervosismo para Édelyn e ela recomenda: “Descobri que era bom fazer pra testar seu estado emocional. Eu vi que eu estava muito nervosa”.

Além da ansiedade natural de Édelyn, alguns detalhes não ficaram como o esperado, mesmo com toda esquematização. O salão de beleza atrasou, o buquê que seria levado pelo cerimonialista também chegou mais tarde e ela teve apenas uma hora para fazer as fotos. Na correria, o véu acabou rasgado. “Eu fiquei muito mal e aprendi nesse dia que precisava ficar mais perto das pessoas que me acalmam e me ajudam, como meu noivo”, recomenda.Nas redes sociais, ela faz parte de grupos de noivas da capital. Segundo a bióloga, elas também a deixam mais serena. A noiva, no entanto, diz que é preciso atenção. “Tem tantos serviços disponíveis nesses grupos, que é perigoso querer tudo e ultrapassar demais o orçamento.” .