Para se ter ideia, antes mais comuns em homens com mais de 50 anos que fumavam e bebiam muito, os tumores de boca, faringe, laringe e amígdala, genericamente chamados de tumores de cabeça e pescoço, estão aparecendo em pessoas mais jovens, entre 30 e 45 anos, que não fumam e não bebem ou bebem pouco. Estudos do A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, indicam que, se há 10 anos o HPV respondia por 25% dos casos de câncer de amígdala, um dos mais frequentes nessa região, agora está associado a 80% desses tumores. Hoje, Dia Mundial de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço, o superalerta vai para todas as pessoas sexualmente ativas: o fato de agora o HPV estar sendo associado a tumores nessa região do corpo se deve possivelmente ao mesmo motivo: práticas sexuais sem proteção e com muitos parceiros.
O tamanho da importância do câncer de cabeça e pescoço, pouco divulgado ainda, é revelado pela estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), que prevê 19 mil casos da doença para este ano. Na maioria das vezes, a doença ocorre em pessoas que consomem álcool e o tabaco em excesso. A desinformação também é um grave fator de risco. Tanto que 70% dos tumores são diagnosticados em fases avançadas, o que dificulta a chance de cura. “Isso provavelmente ocorre devido ao preconceito que circula em torno da doença por ter relação com uma doença sexualmente transmissível (DST), o HPV”, alerta o médico Rodrigo Melo, cirurgião oncológico do Cetus Hospital Dia.
Segundo Melo, a prática de sexo oral é uma das formas de transmissão do HPV, porém, para preveni-lo deve-se usar o preservativo, fazer uso de vacina – no Brasil, a rede pública vacina meninas de 9 a 13 anos –, evitar múltiplos parceiros e fazer exames preventivos com um ginecologista e um urologista. “Poucas pessoas usam preservativos para o sexo oral. O ideal é que ambos os sexos evitem múltiplos parceiros e, dependendo da situação, no caso de parceiros não estáveis, é recomendável evitar sim o sexo oral.”
De acordo com o oncologista, números do Ministério da Saúde indicam que o número de fumantes no Brasil caiu para 14,7% em 2014. “Esse índice era de 18,5% em 2008, conforme a Pesquisa Especial de Tabagismo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PETLab/IBGE), ou seja, a queda foi de 20,5%. O tabaco ainda é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão e o grande culpado por 30% da ocorrência de cânceres de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo de útero e leucemia”, indica Rodrigo Melo, que também alerta para o fato de o álcool apresentar grande risco para as pessoas. “Ele deveria estar entre os programas governamentais para ter seu consumo inibido. Além de ser fator de risco de diversas doenças, é um problema social e grande potencializador dos efeitos carcinogênicos do tabaco”, acrescenta.
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Para o oncologista Luiz Flávio Coutinho, do Oncocentro Minas Gerais, apesar de o câncer de cabeça e pescoço estar aumentando nas estatísticas nacionais, a boa notícia é que ele pode ser evitado adotando medidas saudáveis na rotina. “Evitar bebidas alcoólicas, parar de fumar, manter uma boa alimentação, rica principalmente em alimentos naturais como frutas, verduras e legumes, beber muita água, dormir bem, fazer atividades físicas diária, ter momentos de lazer com a família e os amigos, retirar o excesso de sal e de açúcar da alimentação e buscar viver a vida com otimismo são fatores fundamentais para aumentar a expectativa de vida e a saúde integral das pessoas, prevenindo muitas doenças, inclusive o câncer.”
ALERTA TOTAL
» 90% da população mundial já teve algum contato com o HPV. Desse universo, 95% se livram dele naturalmente e 5% desenvolveram ou vão desenvolver algum tipo de câncer
» Há uma década, o HPV respondia por 25% dos casos de câncer de amígdala; agora, está associado a 80% desses tumores
» 19 mil casos novos de câncer de cabeça e pescoço estão previstos para este ano, segundo o Inca
» 70% dos tumores são diagnosticados em fases avançadas
» O HPV é um vírus transmitido, na maioria dos casos, pela prática sexual sem proteção