Diante do diagnóstico de uma doença grave, muitas dúvidas surgem em relação à possibilidade de cura. Alguns tipos de câncer, doenças neurológicas e degenerativas progressivas e doenças infecciosas, como a Aids, são exemplos de patologias que podem colocar uma vida em risco. Com a evolução da doença e a confirmação de um prognóstico ruim, a pergunta mais frequente é “Quanto tempo eu tenho?”. Momento em que muitos pensam que não há mais nada a ser feito, ainda sim pode haver algo a ser realizado em benefício do paciente: os cuidados paliativos.
Os cuidados devem ser proporcionais às necessidades do doente e ao momento da evolução da doença, sendo que é de extrema importância oferecer ajuda para que esses pacientes possam viver o mais ativamente possível até o fim da vida. No que diz respeito aos pacientes terminais, a especialista alerta sobre procedimentos invasivos desnecessários, mantendo artificialmente a vida, como no caso, por exemplo, de um doente terminal com doença pulmonar crônica ser submetido a uma entubação orotraqueal. Também deve ser descartada a chamada “futilidade terapêutica”, que é a indicação de medicamentos que não trazem benefício real, podendo algumas vezes causar mais danos ao paciente. O principal foco é fornecer o alívio à dor e a outros sintomas como astenia, anorexia, dispneia e outras emergências.
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Como os cuidados paliativos devem abordar todos os aspectos do sofrimento causado pelo processo do adoecer, sendo um deles o emocional e o psicológico, é fundamental a participação de um psicólogo na equipe para promover esta assistência ao paciente. A especialista em psicologia clínica, autora do livro do Do luto à luta e coordenadora do Curso de Especialização em Cuidados Paliativos da Faculdade Ciências Médicas, Gláucia Tavares, esclarece que toda manifestação física tem conexão com o emocional e vice-versa. “O excesso de medo, de raiva, de tristeza, de preocupação e até de alegria, desconsiderando os limites reais da vida, pode influenciar negativa ou positivamente em qualquer quadro clínico”.
Sendo assim, é importante deixar o paciente o mais confortável possível para que o emocional colabore para o quadro. “Em alguns momentos tomar um refrigerante, trocar a roupa de cama, encontrar-se com alguém pode ser significativo. Hoje, considera-se que até a inclusão de animais de estimação pode ser um fator de contribuição, se for um pedido da pessoa. Há a compreensão que a quantidade de vida é limitada e que a qualidade pode ser desenvolvida no dia a dia”, afirma Gláucia.
CÂNCER “Não é porque você tem uma doença incurável que justifica não viver bem”, explica a oncologista da Oncomed de Belo Horizonte Carolina Patrícia Mendes Rutkowski. O câncer pode ser classificado como curável e incurável. Os tumores malignos têm alto índice de cura mesmo em fases avançadas, porém existem casos diagnosticados tardiamente, com metástases, que não respondem positivamente aos tratamentos disponíveis, não podendo ser erradicados completamente. Sendo assim, nesses casos mais graves, o foco é diminuir e controlar a doença, tratar os sintomas relacionados e tentar aumentar a sobrevida e a qualidade de vida, do paciente. A dor, insônia e angustia são alguns dos sintomas muito comuns que podem ser evitados com uma medicação adequada.
“A ciência aponta pesquisas realizadas com pacientes com câncer de pulmão que viveram mais por terem cuidados paliativos do que as pessoas que tiveram o tratamento convencional”, aponta Carolina que também destaca que esses cuidados devem ser oferecidos antes de a pessoa começar a sentir os sintomas e em paralelo ao tratamento da doença. A especialista explica que no momento em que a pessoa é diagnosticada com uma doença incurável, a primeira opção é o tratamento em casa, paralelo com os cuidados paliativos, pois é muito importante a proximidade com a família.
“No mundo ocidental a pessoa não está preparada para lidar com morte. Na faculdade de medicina nós aprendemos como lutar pela vida, mas a morte é a única certeza que nós temos”, afirma a oncologista