Na primeira etapa, ratos foram submetidos a uma dieta pobre em proteínas e carboidratos, e rica em gorduras saudáveis. Os testes começaram a partir da meia vida dos animais — que vivem em média dois anos —, duraram quatro dias e foram feitos duas vezes por mês. Os resultados surpreenderam a equipe de pesquisadores: o número de células-tronco aumentou consideravelmente e vários tipos de células — nos ossos, nos músculos, no fígado, no cérebro e no sistema imunológico — foram regenerados, efeito comprovado pela primeira vez em alguns órgãos. Os ratos também demonstraram melhor saúde e longevidade, com benefícios que incluem a redução de doenças inflamatórias e câncer, melhora na aprendizagem e na memória, e diminuição da perda óssea e da massa muscular.
Na segunda fase, em estudo piloto, foram montados dois grupos. Um, composto por 19 pessoas, seguiu a dieta de restrição alimentar. O outro, com 18, serviu de grupo de controle, sem a obrigatoriedade de mudar hábitos alimentares. Os participantes do primeiro grupo tinham à disposição sopas de vegetais, barras e bebidas energéticas, chá de camomila e comprimidos de suplemento. No primeiro dia, consumiram 1.090kcal. Depois, 725kcal (veja infográfico). No fim dos testes, aqueles que seguiram as restrições alimentares diminuíram fatores de risco associados com envelhecimento, diabetes, doenças cardíacas e câncer. “Esse é um primeiro estudo que demonstrou que é viável prescrever uma dieta de restrição alimentar rigorosa com benefícios comprovados e que pode ser prescrita e controlada por qualquer médico ou nutricionista”, comemora Valter Longo, um dos autores da pesquisa. “A dieta agora passará por um rigoroso processo, que será precedido pela confirmação de testes adicionais em 60 a 70 participantes, seguidos de um ensaio com 500 a 1.000 pessoas”, diz Longo, também diretor do instituto da USC.
Controvérsias
Apesar dos bons resultados atingidos na pesquisa norte-americana, o nutrólogo e ortomolecular Marcos Sandoval adverte: indicar o jejum ou uma dieta altamente restritiva requer cuidados. “Pode ser algo terrível para um paciente com diabetes ou que não esteja completamente formado, um adolescente, por exemplo. Nesses casos, podem gerar uma deficiência de cálcio, de ferro, entre outras complicações”, alerta. O especialista explica que menus de baixa caloria, como o indicado no estudo, foram testados anteriormente, com relatos de melhora na produção do hormônio do crescimento e em pacientes submetidos a sessões de quimioterapia.
“O que existe é uma autofagia das células brancas, responsáveis pela imunidade do corpo. Nesse processo, ocorrem a destruição e, em seguida, a reconstrução das organelas dentro dos glóbulos brancos, produzindo uma grande renovação e, consequentemente, aumentando a imunidade do organismo”, detalha o médico.
Para quem quer aderir à dieta do jejum, o mais indicado é procurar um profissional especializado, alerta Sandoval. “O grande problema é que as pessoas estão fazendo desse tipo de trabalho uma ponte para que seja uma dieta de emagrecimento. O paciente que quer perder peso deve ser avaliado de acordo com sua faixa etária e metabolicamente, conforme as faixas hormonais. Deve ser feito um exame corporal para saber o que ele tem de músculo e de gordura. Nunca se deve fazer uma dieta sem avaliação.”