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Os autores do trabalho partiram de evidências de que o cérebro de autistas tem desajustes em mecanismos que coordenam ações motoras e os cinco sentidos. Não estava claro, no entanto, se essa falta de sintonia apareceria em um exame da resposta olfativa.
Para tirar a dúvida, os cientistas liderados por Noam Sobel elaboraram o seguinte experimento: após selecionar 18 crianças saudáveis e 18 diagnosticadas com o transtorno, eles convidaram os voluntários a se sentar em uma poltrona confortável enquanto assistiam aos desenhos animados por 10 minutos. Dois finos tubos ficavam posicionados perto das narinas dos pequenos. Um deles levava diferentes cheiros – alguns desagradáveis, outros não – até as narinas. A segunda mangueira servia para que os pesquisadores monitorassem a respiração.
Quando as crianças sem o transtorno eram expostas a um cheiro ruim, elas logo ajustavam a respiração, parando, por exemplo, de inspirar pelo nariz. Essa resposta era imediata, demorando apenas 305 milissegundos, em média, para ocorrer. Já os voluntários com o espectro autista não agiam da mesma maneira. “A diferença entre o padrão olfativo das crianças com um desenvolvimento típico e o daquelas com autismo foi gritante”, diz, em um comunicado, Noam Sobel, líder do estudo.
Se o experimento constituísse um teste para diagnosticar o autismo no grupo de 36 crianças, ele acertaria em 81% das vezes. Além disso, os voluntários que apresentaram as respostas mais diferentes, demorando mais tempo para mudar a respiração, por exemplo, eram aqueles que, cotidianamente, apresentavam maiores dificuldades de interação social e sintomas mais severos do transtorno.
Ferramenta Na opinião de Sobel, os resultados sugerem que testes baseados na resposta olfativa podem ser de grande ajuda na clínica, apesar de ressaltar que, para isso, muitos ajustes ainda precisarão ser feitos. “Podemos identificar o autismo e a severidade dos sintomas com uma precisão considerável em menos de 10 minutos por meio de um exame que é completamente não verbal e não exige que qualquer tarefa seja realizada”, afirma o pesquisador.
O estudo contou com a participação de meninos e meninas que tinham, em média, 7 anos. Mas o especialista acha que o método seria útil para examinar crianças mais novas. “Isso traz a esperança de que esses achados formem a base para criarmos uma ferramenta de diagnóstico a ser aplicada logo cedo, ainda em bebês de poucos meses. Uma identificação tão precoce do transtorno permitira intervenções muito mais eficientes”, completa.
Os pesquisadores envolvidos no trabalho agora planejam testar se o padrão de resposta olfativa observado em indivíduos com autismo pode acontecer também em pessoas com outras dificuldades neurológicas. Eles também querem descobrir a idade a partir da qual um teste desse tipo pode ser efetivo. Mas uma pergunta que intriga Sobel é se o desajuste olfativo está ligado de maneira causal às dificuldades sociais demonstradas por pessoas autistas.