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Dados de dois grandes ensaios foram combinados e analisados por pesquisadores, entre eles o brasileiro Paulo Naud, pioneiro na investigação da vacina no país. Ele coordenou a pesquisa no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, onde 1,2 mil mulheres foram acompanhadas ao longo de, em média, quatro anos. Elas fazem parte de um total de 26.110 participantes submetidas à imunização com uma vacina já conhecida e aplicada, a Cervarix.
As mulheres foram selecionadas aleatoriamente para receber a imunização contra o HPV-16/18. Calculou-se a eficácia do procedimento após três doses (aplicadas em 22.327 participantes), duas doses (em 1.185) e uma (em 543). Independentemente do número de doses administradas, a imunização atingida foi alta tanto entre mulheres com histórico de HPV-16/18, quanto em jovens virgens.
Cosette Wheeler, coautora do estudo, pondera que, embora uma única dose possa ser suficiente para reduzir substancialmente a incidência de câncer cervical, ainda é cedo para alterar as diretrizes. Segundo Aimée Kreimer, principal autora do trabalho, se a eficácia da vacinação em uma etapa for confirmada, será possível reduzir os custos de produção e administração. “Isso é especialmente importante nas regiões menos desenvolvidas do mundo, onde ocorrem mais de 80% dos casos de câncer de colo do útero”, diz.
A vacina bivalente tem como alvo os tipos de HPV 16 e 18. Inicialmente, foi aprovada para ser administrada em três doses ao longo de seis meses, mas muitos países se preparam para seguir nova diretriz da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, em dezembro último, passou a recomendar duas doses.
Outros estudos também recentes sugerem que uma única aplicação forneceria benefícios consideráveis. As conclusões tiveram como base, inclusive, experiências semelhantes, como a imunização da meningite A na África Subsaariana. Os cientistas sugerem que as campanhas de imunização ocorram entre 5 e 10 anos, focando meninas de 9 a 14 anos, dispensando, assim, recursos contínuos para programas de vacinação anual contra HPV em locais com outros problemas de saúde e poucos profissionais de saúde.
Paulo Naud, coordenador do estudo no Brasil
17 anos de análises
“Participei, em 1998, das pesquisas sobre essa vacina no Instituto Nacional de Câncer dos EUA. Pouco se sabia sobre a resposta dela, e os resultados indicavam que três doses eram ideais. Mas, com o tempo, aprendemos mais sobre ela. Na mesma época, iniciamos no Brasil um estudo com 1.113 mulheres, um dos mais longos do mundo, e mostramos que o número de anticorpos não cai com o tempo, o que sugeriu que a quantidade de doses poderia variar. Agora, estudos mais recentes observaram que as meninas de 14 anos têm mais anticorpos do que as com 15 a 25. Isso acontece porque o sistema imune passa a responder menos à medida que o tempo passa. É cientificamente comprovado que há produção de anticorpos com apenas duas doses.”