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Prova disso são os universitários Érica Araujo, 21, e Bryan Douglas, 22, namorados há seis anos. Ao longo do relacionamento, os dois brigaram por ciúme, principalmente depois de espiadas no Facebook. Agora, garantem, aprenderam a lidar com a “ameaça virtual”. Segundo Érica, alguns dos conflitos foram resultado de mal-entendidos. “Essas conversas nas redes sociais são muito fáceis de ser mal-interpretadas, o outro, quando vai ler, leva para um lado errado e isso facilita a discussão”, diz
Bryan acrescenta que é importante ter privacidade e que espionar o perfil do parceiro é procurar razões para desentendimentos. “Quem procura acha, e muitas vezes acha errado. Curtir a foto de uma amiga já é motivo de briga.” Os dois acreditam que as redes sociais mais atrapalham do que ajudam, porque os casais não mantêm a calma e agem por impulso. Érica afirma que o mais importante é evitar a primeira reação e não tentar mudar o parceiro. “É mais fácil se mudar para entender o outro do que ficar discutindo.”
Doutorando em psicologia da Universidade de Brasília, Fabrício Guimarães avalia que as redes sociais não são as verdadeiras culpadas por brigas de ciúme, mas funcionam como gatilho para que os desentendimentos aconteçam. “Facebook não é causa de briga, é consequência de um relacionamento que já não está legal”, ressalta. Segundo o psicólogo, os sites de relacionamento podem potencializar sentimentos que perturbam pessoas controladoras e inseguras. Há, inclusive, o risco de o problema crescer de tal forma que culmine em violência física e psicológica. “Geralmente, a pessoa pensa que faz isso por amor, mas a base do ciúme não é o amor. O que causa não é rede social nem o amor, mas a insegurança e a vontade de controlar o parceiro, geralmente embasadas no machismo.”
Comum acordo
Para a universitária Ana Cecília Nogueira, 21, e o corretor de imóveis Adriano Tavares, 27, a internet nunca foi um problema. Os dois têm perfis em muitas redes sociais, mas admitem que fazem pouco uso delas. Acreditam que não é preciso evitar o uso desses sites, mas, segundo Adriano, para evitar brigas, vale a pena tomar alguns cuidados. “Se a pessoa começou a namorar, tem que cortar coisas. Eu vejo casais que comentam em fotos indevidas, e isso é um problema”, exemplifica.
Os dois se conheceram há um ano e, desde então, têm evitado o uso de redes sociais. No entanto, não abriram mão de assumir o namoro em suas páginas pessoais. Para Ana Cecília, ao mostrar que está em um relacionamento, o dono do perfil ajuda a evitar brigas e crises de ciúme. “Tem que assumir, até para os outros saberem que a pessoa é comprometida”, diz. “Não tem ciúme, porque ela me respeita e eu a respeito. Não há motivos para isso”, complementa Adriano.
O psicólogo Fabrício Guimarães afirma que a decisão de um casal em se manter ou não em uma rede social deve ser decidida em comum acordo. “O que importa é eles decidirem sem violência e sem pressão para que um saia. Não é o fato de estar na internet que vai fazer o relacionamento ser bom, ou estar fora da rede social que vai fazer com que o relacionamento seja ruim.”
Até separação
Os efeitos das redes sociais podem ser maiores que uma briga. Chegam a pôr fim a relacionamentos, sendo os sites usados, inclusive, como provas de infidelidade. Na Itália, por exemplo, o aplicativo de mensagens WhatsApp é citado em 40% dos casos de divórcio envolvendo adultério, segundo a Associação Italiana de Advogados Matrimoniais. Enquanto isso, no Reino Unido, uma pesquisa feita pelo site Divorce-Online concluiu que o Facebook é apontado como responsável por 1/3 dos casos de divórcio no país.
E também de paixões
As redes sociais também têm efeito contrário. Ajudam a despertar bons sentimentos, formando casais. É o caso da estudante Beatrix Faria, 21, que conheceu seu namorado, o programador Renan Souza, 24, graças à internet. Juntos há cinco anos, Beatrix viu Renan pela primeira vez num show em que ele era o baixista. Conseguiu o e-mail dele com um amigo e puxou assunto em um programa de bate-papo on-line. Cerca de seis meses depois de muita conversa, os dois tiveram o primeiro encontro.
Segundo Renan, no começo do namoro, ele era o mais ciumento e precisou superar essa fase. Ainda assim, acredita que a rede social trouxe benefícios. “Ajudou bastante, na verdade, esse ciúme e essa procura. Fez eu perceber que ela realmente gostava de mim e que eu estava sendo idiota, me mostrou o quanto era legal a pessoa que eu estava me envolvendo.”
Para Beatrix, há como evitar dores de cabeça. Um erro comum entre os casais, segundo ela, é o compartilhamento de senhas. “Passar a senha ou o celular é errado porque é algo muito pessoal”, justifica. A prática, aliás, é muito comum entre os brasileiros. Um estudo divulgado neste mês e feito com 2,5 mil pessoas dos Estados Unidos, do México, da Austrália, de Cingapura e do Brasil indica que 76% dos brasileiros compartilham senhas do Facebook com quem se relacionam. O índice foi o maior detectado.
O casal não divide essas informações, mas Renan acredita que não há problema em deixar que a namorada veja seus perfis. O psicólogo Fabrício Guimarães ressalta, porém, que o compartilhamento de senhas nunca deve ser feito sob pressão, algo, segundo ele, muito comum. “Se for uma questão acordada, tranquila, ótimo, não há problema nisso, mas, na maioria dos casos, é por meio de controle, pressão ou ciúme”, observa.
Risco de coação
Se por um lado as redes sociais têm ajudado casais a se conhecerem, por outro são mais um veículo por onde o assédio acontece. Um estudo publicado pela revista Computers in Human Behavior identificou essa crescente forma de coagir homens e mulheres, chamada de sexting. A palavra, que entrou no dicionário da língua inglesa em 2012, se refere a textos e fotos sexualmente explícitas enviadas em redes sociais.
De olho nas condições em que o sexting é praticado, os pesquisadores da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, observaram 480 universitários (160 homens e 320 mulheres). De uma forma geral, 20% dos entrevistados afirmaram ter sido vítima de sexting, sendo que 78% das mulheres e 58% dos homens teriam sido coagidos a enviar as imagens por meio de insistentes pedidos do parceiro e ameaças físicas.
Lorena Trindade, antropóloga da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), observa que o sexting não é uma nova forma de assédio, mas uma violência antiga num novo ambiente. “Maneiras de coerção e de intimidação que existem há muito tempo em nossa sociedade, mas que agora têm como se disseminar pelo ciberespaço”, diz. A especialista explica que ganhou força a pornografia de revanche, em que um ex-parceiro, buscando vingança, divulga imagens feitas quando ainda havia um relacionamento.
Segundo a pesquisa norte-americana, as vítimas de sexting desenvolvem sintomas de ansiedade, trauma e depressão. “Há casos de pessoas que mudaram de visual, abandonaram o emprego, o estudo e até mudaram de cidade por conta desse tipo de assédio”, complementa a antropóloga, que não participou do estudo.
Para a especialista, as pessoas precisam saber que o envio das imagens por si só não é um problema, se a opção for feita pelo casal. Passa a ser, no entanto, quando apenas um está de acordo em publicizá-las. Lorena acredita que a solução para punir os responsáveis por esse tipo de assédio está em buscar apoio, não em esconder a própria história. “Por mais traumático que possa ser, creio na postura combativa como o melhor caminho para o fim desde assédio”, defende.
Punições em debate
Quem passa por um episódio de pornografia de vingança no Brasil não conta com uma lei específica para a punição dos responsáveis pelo compartilhamento das imagens. Contudo, há projetos de lei nesse sentido. Um deles é o PL 5.555/ 2013, que pretende alterar a Lei Maria da Penha criando mecanismos para o combate a condutas ofensivas contra a mulher na internet. Outro é o Projeto de Lei 6.630/ 2013, que visa penalizar o responsável pela divulgação das imagens com até três anos de detenção, além de indenizar a vítima.