“Crianças e adultos sofrem muito com o problema por causa de apelidos, humilhações na escola ou no trabalho, e isso acaba gerando uma dificuldade na vida da pessoa. Então existe uma demanda muito grande na sociedade por esse tipo de cirurgia”, disse o médico.
Assis lamentou que tais operações sejam consideradas estéticas, não sendo cobertas por pelos planos e raramente oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O valor da cirurgia pode chegar a R$ 8 mil. “Para nós, é uma cirurgia social, pois o impacto que gera no pós-operatório é muito grande”, destacou. Por isso, existe o Projeto Orelhinha, disse o especialista. Segundo ele, mais de 10 mil pessoas já foram operadas nos mutirões.
Chamada de otoplastia, a cirurgia é oferecida para pessoas a partir de 7 anos de idade. O projeto viabiliza subsídio de 70% do custo do tratamento. Os 30% restantes, cerca de R$ 1.800, são custeados pelo próprio paciente para pagar o material cirúrgico, os medicamentos e a ajuda de custo dos profissionais envolvidos, além das despesas hospitalares, operacionais e administrativas. Há também cirurgias com 100% de gratuidade para crianças entre 7 anos e 14 anos de famílias pobres.
Assis ressaltou que a orelha de abano não é uma deformidade, apenas uma característica hereditária – cerca de 3% da população têm esse excesso de cartilagem na orelha. “Outras causas são a posição uterina, quando o neném fica com a orelha dobradinha no útero e acaba nascendo com uma orelhinha aberta e outra fechada”, explicou.
O publicitário João Roberto Souza operou as orelhas de abano aos 12 anos. Na escola, tinha apelidos de Dumbo e coelho da páscoa. “Morria de vergonha, chorava escondido. Depois da cirurgia, isso acabou. É uma pena precisar operar por ser diferente do padrão, mas foi o único jeito”, lamentou.
A cirurgia de otoplastia é feita com anestesia local e dura cerca de 40 minutos. O paciente recebe alta médica algumas horas após o procedimento. O pós-operatório consiste no uso de uma faixa de atadura durante quatro dias. Cinco dias após a cirurgia, o paciente já pode retomar as atividades normais e usa faixa tipo bailarina apenas para dormir durante mais 25 dias. Ele não pode praticar esportes com bola ou lutas e se expor ao sol e mergulhar em piscina ou no mar por um mês.