Nunca se buscou tanto uma alimentação saudável como agora. O aumento da longevidade e o avanço da medicina trouxeram a esperança por mais dias de vida e “a receita” para alcançá-los. A ciência já juntou A mais B para dizer como a escolha do que comer pode ser definidora de mais saúde e qualidade de vida. A atenção ao que se come ganhou outra dimensão e hoje, para muita gente, é essencial saber como alhos e bugalhos foram plantados, tratados e colhidos, até chegar ao prato. É nesse contexto que as hortas caseiras vão ganhando espaço, mesmo quando ele é tão pequeno para plantar tudo o que se deseja. Nutricionistas defendem que faz toda a diferença comer o que se planta, e quem entende de horta deixa claro: “Sim, é possível comer a alface que você viu germinar”.
A fisioterapeuta Nádia Fadini Serpa se considera uma “espalhadora de hortas”. Por gostar de cozinhar, já ensaiava plantar os temperos que sempre saía para buscar no meio de suas preparações. Mas o diagnóstico de um câncer e a necessidade de melhorar a alimentação foram definidores para enfiar a mão na terra. Depois da sua horta, ela já montou uma para o prédio onde mora, uma na casa da mãe e outra para a sogra. E é com essa mesma boa vontade que compartilha suas dicas com o Bem Viver. A horta de Nádia é um sucesso, mesmo em um apartamento pequeno. Uma prova de que é possível para todo mundo.
HORTALIÇAS
As hortas, claro, se adequam à quantidade de terra que se tem para oferecer. Cabe a quem planta e colhe escolher o mais apropriado à sua realidade e, claro, ao seu gosto. Uma das graças da horta é exatamente essa personalização: tem-se à mão o que mais se gosta. Pequenas hortas de ervas são as mais comuns, mas é possível ir além. Dá para plantar cenoura, embora as hortaliças folhosas sejam as de mais fácil cultivo. Aliás, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as hortaliças são aquele grupo de plantas de ciclo biológico curto, consistência tenra de folhas, não lenhosas e não cultivadas em áreas extensas, se comparadas a grandes culturas, como a soja. Popularmente, são conhecidas como verduras e legumes, sendo incluídas nesse grupo a batata, a batata-doce, o milho doce e verde, o melão, o morango e a melancia.
Preparamos um manual com dicas essenciais para quem quer começar. Anime-se! Sua comida vai ficar mais gostosa, e sua saúde, mais em dia.
FEIRA MODERNA
Para quem planeja ter uma horta em casa, a rede de alimentação saudável Salad lançou uma nova edição do Guia salad ou manual prático - Como fazer sua horta. O aplicativo para tablet e smartphone é gratuito e está disponível na App Store e Google Play. Com simplicidade, o objetivo é ensinar o usuário a criar e a manter uma horta orgânica em casa.
Marmita verde
Além do ganho com a alimentação mais saudável, o cultivo de hortaliças e legumes é sustentável, pois diminui a emissão de poluentes com o transporte, por exemplo
Hortas em pequenos espaços vêm ganhando adeptos há muito tempo. O movimento, iniciado em grandes metrópoles mundiais, começou transformando lajes fora de atividade em telhados verdes. Em Londres, o hábito vem desde o fim dos anos 1980, com lotes vazios transformados em hortas comunitárias, com tarefas e produção compartilhadas. Mais recentemente, a disseminação de informação, a troca de experiência nas redes sociais e o comprometimento de alguns grupos com a oferta de oficinas gratuitas ampliaram o fenômeno, que ganhou ainda mais força com a moda das marmitas “repaginadas”. O mercado também está de olho na tendência: em Belo Horizonte, há imóveis de luxo com hortas planejadas para cada unidade. As pessoas descobriram que é possível ter mais do que um vasinho de manjericão na janela.
Segundo a doutora em botânica Marina Neiva Alvim, coordenadora do projeto Verde Comunitário, projeto de extensão do curso de biologia do Centro Universitário Izabela Hendrix, é possível manter um manejo agroecológico em uma horta caseira, sem uso de insumos químicos comuns na agricultura tradicional. “Escolhemos plantas que têm afinidade uma com a outra, aquelas que afastam pragas e, claro, o que mais se gosta de comer. O resultado são alimentos mais frescos e um maior acesso a nutrientes, porque o metabolismo da planta os destrói com o passar do tempo e o que compramos no supermercado não tem a mesma qualidade do que cultivamos”, explica. Para Marina, além do ganho com uma alimentação mais saudável, há um benefício indireto. “Quando plantamos o que comemos estamos diminuindo a emissão de poluentes com o transporte de alimentos”, diz.
As hortas caseiras são ainda uma ótima maneira de reciclar vasilhames. Segundo Marina, quase tudo dá para plantar em garrafas PET, colocadas de pé ou deitadas, em função do modo como cresce a raiz da planta. A única limitação é o sol: as hortaliças, em geral, precisam de três a cinco horas diárias de sol direto. O da manhã é o ideal, mas, se no seu apartamento ele só bate à tarde, também vai dar certo. No projeto Verde Comunitário, o plantio foi adaptado à realidade das moradias. “É possível plantar sem furar os vasos para a drenagem, já que isso sujaria as áreas e paredes dos apartamentos. Defendemos que quem planta aprenda a irrigar de forma a não encharcar o solo”, explica a especialista. A fisioterapeuta Nádia Serpa, de 36 anos, vê nesse cuidado uma forma de se envolver ainda mais com a produção do que se come.
MAIS VALOR
Além de mais ricas em nutrientes, as hortaliças cultivadas pelo próprio consumidor aproximam o homem do seu alimento. Rosamara de Souza Gonçalves, coordenadora estadual da Fundação Mokiti Okada, que mantém o programa Horta em vasa e vida saudável, a vivência e o contato com a hortaliça é um dos objetivos. “Nossa filosofia é aproximar pessoas e natureza. Somos seres naturais e, quando plantamos nossa própria comida, nos aproximamos dessa essência”, defende. Fora o aspecto social. Nádia, por exemplo, se aproximou mais dos vizinhos do prédio desde que propôs fazer uma pequena horta de temperos na área comum. “Até o cheiro do lugar fica melhor”, comemora.
Oficinas gratuitas
Plantio em espaços alternativos
Secretaria Municipal Adjunta de Segurança Alimentar de Belo Horizonte
Telefone: (31) 3277-4851/4779
Germinação e cultivo
Projeto Verde Comunitário, do Centro Universitário Izabela Hendrix
E-mail: verde.comunitario@izabelahendrix.edu.br
Programa Horta em casa e vida saudável
Fundação Mokiti Okada
E-mail: rosa_adv@yahoo.com.br
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Gabriela Kapim - nutricionista e apresentadora do programa Socorro, meu filho come mal
1) Qual é o consumo diário de hortaliças recomendado para uma alimentação saudável? Qual deve ser a quantidade, a qualidade e a variedade?
É importante comer de cinco a seis hortaliças e de três a quatro frutas por dia, preferencialmente orgânicos. Esse consumo deve ser o mais variado possível, quanto ao tipo, cor, consistência e forma de preparo. Uma hortaliça, por exemplo, pode ser comida crua, assada ou cozida.
2) É possível alcançar esse consumo exclusivamente por meio de uma horta caseira? Se for preciso recorrer a outra fonte, qual a orientação?
Dificilmente conseguimos tudo em uma horta própria, principalmente no caso das frutas. O ideal é que tudo seja orgânico, mas, se não for possível, é melhor comer sem ser orgânico do que deixar de comer esses alimentos.
3) Em função dos pequenos espaços disponíveis para cultivo, o que você indica para plantio, de forma a garantir um consumo variado e equilibrado em termos de nutrientes?
As verduras são mais fáceis de se cultivar em uma horta caseira do que os tubérculos, que precisam de mais profundidade. Se o espaço for pequeno e não der para investir em uma variedade, acho uma hortinha de temperos bem bacana. Ter ervas orgânicas e frescas já faz toda a diferença no sabor das preparações. Além disso, com mais temperos à disposição, dá para variar nas receitas e diminuir o sal. Mas é preciso ter atenção para fazer uma horta já com sementes orgânicas.
Hortas em pequenos espaços
O desenvolvimento de uma planta está diretamente relacionado ao seu potencial genético, ao manejo da cultura e aos fatores ambientais. O sucesso de sua colheita, portanto, depende de cuidados com todos esses aspectos
MATERIAL NECESSÁRIO
A escolha do minicanteiro depende do espaço disponível e da adequação à hortaliça. Seja qual for, o ideal é ter 20cm de profundidade. Algumas opções:
• tambores de latão ou de plástico
• canteiros de madeira suspensos
• latas e vasilhames recicláveis
• jardineiras de alvenaria
• canos de PVC
• garrafas PET
• baldes
• pneus
LUMINOSIDADE E TEMPERATURA
A luz é, provavelmente, o fator ambiental mais importante para o crescimento e a floração das plantas. Em função de sua necessidade de luminosidade, elas são divididas em plantas de dias longos, que precisam de maior tempo de exposição (cebola e alho); plantas de dias curtos, que necessitam de menor exposição (hortaliças folhosas, pimentas e pimentões) e neutras, que se desenvolvem bem em qualquer condição (tomate e quiabo).
BOAS OPÇÕES
• Hortaliças com parte aérea comestível e ciclo de vida curto: coentro, cebolinha, salsa, alface, chicória, almeirão, rúcula e espinafre
• Condimentares: alecrim, hortelã, erva cidreira, manjericão, alfavaca
• Hortaliças fruto: pimentão, tomate e pimenta
• Tubérculos: embora possível, não é recomendado para pequenos espaços, por necessitarem de canteiros com maior profundidade
PLANTIO DIRETO X MUDAS
As sementes podem ser plantadas diretamente no canteiro no caso de hortas em pequenos espaços. Coloque até três sementes por cova, em uma profundidade de até 1,5cm, ou distribuídas em sulcos com profundidade máxima de 1cm. Quando as mudas apresentarem de três a quatro folhas definitivas, realize o desbaste ou raleio das hortaliças, arrancando as mais fracas e deixando as demais num espaçamento próximo ao recomendado. Tenha cuidado para não afetar as raízes, puxando as mais fracas lentamente pela base. Regue logo após o procedimento. Se preferir, faça a horta a partir de mudas, colocando as sementes em copos descartáveis, com substrato próprio para cultivo de mudas. Geralmente, as mudas devem ser transplantadas para o canteiro quando tiverem de três a quatro pares de folhas definitivas.
NUTRIENTES
A falta ou insuficiência de alguns nutrientes atrasa o desenvolvimento ou impossibilita a planta de completar o seu ciclo de vida. Podem ser divididos em macronutrientes, necessários em maior quantidade (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes, em menor quantidade (carbono, cobre, cloro, manganês, zinco, molibdênio e ferro). É preciso cuidar ainda do índice de acidez (se o pH do solo não estiver na faixa adequada, entre 5,5 e 6,5, a raiz não consegue absorver os nutrientes, sendo necessário acrescentar calcário); umidade; disponibilidade dos nutrientes; aeração e temperatura do solo (a faixa favorável à absorção está entre 20°C e 35°C).
PREPARO DO SOLO
1º) Colete terra de barranco, de 20cm a 30cm de profundidade (considerada solo pobre, com pH baixo e livre de sementes de ervas daninha). Peneire para separar as partículas mais finas dos torrões.
2º) Escolha o adubo orgânico (esterco de boi ou cama de frango, desde que bem curtidos, para evitar contaminação) e o adubo químico (granulado NPK 4-14-8, de preferência, ou termofosfatado).
3º) Para cada 50 litros de terra de barranco, acrescente 100 gramas de calcário ou cal hidratada; 34 litros de esterco de gado ou 17 litros de esterco de galinha; 200 gramas de NPI, 4-14-8 ou 200 gramas de adubo termofosfatado.
SOLO ADEQUADO
Um solo fértil deve ter uma quantidade razoável de matéria orgânica, reter água e ser permeável e apresentar os minerais essenciais para o cultivo. Caso contrário, é recomendado acrescentar adubos orgânicos (fezes de animais ou restos vegetais) ou químicos (compostos de nitrogênio, fósforo e potássio), ou misturá-lo a solos mais férteis e regá-lo frequentemente. O solo ideal para plantas é uma mistura do arenoso (menor quantidade) e argiloso (maior quantidade). No entanto, a maior parte dos utilizados para o cultivo de hortaliças são os chamados terra de barranco, terra virgem ou solo virgem, geralmente de coloração vermelha ou amarelada e de baixa fertilidade.
IRRIGAÇÃO
O bom controle da irrigação é essencial, com o cuidado de não encharcar o solo. Se ele estiver pouco arejado, a respiração e produção de energia das plantas será prejudicada. Hortaliças, plantas de ciclo curto, precisam de irrigação constante, que varia com sua idade. Na produção de mudas, ela deve ser diária, com pouca água e maior frequência três vezes por dia. Com o desenvolvimento das plantas, a irrigação deve ser diminuída em frequência e aumentada em volume: as jovens devem receber água uma vez ao dia, e as adultas, de três a quatro vezes por semana. Com clima ameno, a frequência de irrigação deve ser menor; com temperaturas elevadas, maior
ONDE CULTIVAR
O plantio de hortas em pequenos espaços é uma alternativa ao método tradicional para quem não tem disponibilidade de canteiros. O cultivo deve ser feito onde há sol em pelo menos um período do dia (cerca de cinco horas) e luminosidade para a fotossíntese. Desde que atenda esses quesitos, é possível plantar em corredores externos, sacadas e beirais, varandas, janelas, terraços, garagens e fundos de quintal.
CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS
As pragas mais comuns em hortaliças são larvas e lagartas; pulgões; percevejos; besouros; mosca-branca; cochonilhas; paquinhas, grilos, gafanhotos e formigas; tripes; cupins, ácaros, lesmas e caracóis. Já as doenças mais recorrentes são provocadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides. Para evitá-los, deve-se garantir que a terra não esteja contaminada. No caso de ataque de pragas e incidência de doenças, alguns produtos naturais ou de preparo caseiro podem auxiliar, como o óleo ou extrato de plantas como neem, fumo, pimenta, cebola, cravo-de-defunto e camomila, além das caldas de sabão neutro ou sulfocálcica. O cultivo de plantas repelentes em torno também ajuda, como coentro, cebolinha, cravo-de-defunto e camomila. Tanto defensivos químicos quanto naturais demandam cuidado na utilização e um período de carência para consumo: cinco dias.
A fisioterapeuta Nádia Fadini Serpa se considera uma “espalhadora de hortas”. Por gostar de cozinhar, já ensaiava plantar os temperos que sempre saía para buscar no meio de suas preparações. Mas o diagnóstico de um câncer e a necessidade de melhorar a alimentação foram definidores para enfiar a mão na terra. Depois da sua horta, ela já montou uma para o prédio onde mora, uma na casa da mãe e outra para a sogra. E é com essa mesma boa vontade que compartilha suas dicas com o Bem Viver. A horta de Nádia é um sucesso, mesmo em um apartamento pequeno. Uma prova de que é possível para todo mundo.
HORTALIÇAS
As hortas, claro, se adequam à quantidade de terra que se tem para oferecer. Cabe a quem planta e colhe escolher o mais apropriado à sua realidade e, claro, ao seu gosto. Uma das graças da horta é exatamente essa personalização: tem-se à mão o que mais se gosta. Pequenas hortas de ervas são as mais comuns, mas é possível ir além. Dá para plantar cenoura, embora as hortaliças folhosas sejam as de mais fácil cultivo. Aliás, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as hortaliças são aquele grupo de plantas de ciclo biológico curto, consistência tenra de folhas, não lenhosas e não cultivadas em áreas extensas, se comparadas a grandes culturas, como a soja. Popularmente, são conhecidas como verduras e legumes, sendo incluídas nesse grupo a batata, a batata-doce, o milho doce e verde, o melão, o morango e a melancia.
Preparamos um manual com dicas essenciais para quem quer começar. Anime-se! Sua comida vai ficar mais gostosa, e sua saúde, mais em dia.
FEIRA MODERNA
Para quem planeja ter uma horta em casa, a rede de alimentação saudável Salad lançou uma nova edição do Guia salad ou manual prático - Como fazer sua horta. O aplicativo para tablet e smartphone é gratuito e está disponível na App Store e Google Play. Com simplicidade, o objetivo é ensinar o usuário a criar e a manter uma horta orgânica em casa.
Marmita verde
Além do ganho com a alimentação mais saudável, o cultivo de hortaliças e legumes é sustentável, pois diminui a emissão de poluentes com o transporte, por exemplo
Hortas em pequenos espaços vêm ganhando adeptos há muito tempo. O movimento, iniciado em grandes metrópoles mundiais, começou transformando lajes fora de atividade em telhados verdes. Em Londres, o hábito vem desde o fim dos anos 1980, com lotes vazios transformados em hortas comunitárias, com tarefas e produção compartilhadas. Mais recentemente, a disseminação de informação, a troca de experiência nas redes sociais e o comprometimento de alguns grupos com a oferta de oficinas gratuitas ampliaram o fenômeno, que ganhou ainda mais força com a moda das marmitas “repaginadas”. O mercado também está de olho na tendência: em Belo Horizonte, há imóveis de luxo com hortas planejadas para cada unidade. As pessoas descobriram que é possível ter mais do que um vasinho de manjericão na janela.
Segundo a doutora em botânica Marina Neiva Alvim, coordenadora do projeto Verde Comunitário, projeto de extensão do curso de biologia do Centro Universitário Izabela Hendrix, é possível manter um manejo agroecológico em uma horta caseira, sem uso de insumos químicos comuns na agricultura tradicional. “Escolhemos plantas que têm afinidade uma com a outra, aquelas que afastam pragas e, claro, o que mais se gosta de comer. O resultado são alimentos mais frescos e um maior acesso a nutrientes, porque o metabolismo da planta os destrói com o passar do tempo e o que compramos no supermercado não tem a mesma qualidade do que cultivamos”, explica. Para Marina, além do ganho com uma alimentação mais saudável, há um benefício indireto. “Quando plantamos o que comemos estamos diminuindo a emissão de poluentes com o transporte de alimentos”, diz.
As hortas caseiras são ainda uma ótima maneira de reciclar vasilhames. Segundo Marina, quase tudo dá para plantar em garrafas PET, colocadas de pé ou deitadas, em função do modo como cresce a raiz da planta. A única limitação é o sol: as hortaliças, em geral, precisam de três a cinco horas diárias de sol direto. O da manhã é o ideal, mas, se no seu apartamento ele só bate à tarde, também vai dar certo. No projeto Verde Comunitário, o plantio foi adaptado à realidade das moradias. “É possível plantar sem furar os vasos para a drenagem, já que isso sujaria as áreas e paredes dos apartamentos. Defendemos que quem planta aprenda a irrigar de forma a não encharcar o solo”, explica a especialista. A fisioterapeuta Nádia Serpa, de 36 anos, vê nesse cuidado uma forma de se envolver ainda mais com a produção do que se come.
MAIS VALOR
Além de mais ricas em nutrientes, as hortaliças cultivadas pelo próprio consumidor aproximam o homem do seu alimento. Rosamara de Souza Gonçalves, coordenadora estadual da Fundação Mokiti Okada, que mantém o programa Horta em vasa e vida saudável, a vivência e o contato com a hortaliça é um dos objetivos. “Nossa filosofia é aproximar pessoas e natureza. Somos seres naturais e, quando plantamos nossa própria comida, nos aproximamos dessa essência”, defende. Fora o aspecto social. Nádia, por exemplo, se aproximou mais dos vizinhos do prédio desde que propôs fazer uma pequena horta de temperos na área comum. “Até o cheiro do lugar fica melhor”, comemora.
Oficinas gratuitas
Plantio em espaços alternativos
Secretaria Municipal Adjunta de Segurança Alimentar de Belo Horizonte
Telefone: (31) 3277-4851/4779
Germinação e cultivo
Projeto Verde Comunitário, do Centro Universitário Izabela Hendrix
E-mail: verde.comunitario@izabelahendrix.edu.br
Programa Horta em casa e vida saudável
Fundação Mokiti Okada
E-mail: rosa_adv@yahoo.com.br
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Gabriela Kapim - nutricionista e apresentadora do programa Socorro, meu filho come mal
1) Qual é o consumo diário de hortaliças recomendado para uma alimentação saudável? Qual deve ser a quantidade, a qualidade e a variedade?
É importante comer de cinco a seis hortaliças e de três a quatro frutas por dia, preferencialmente orgânicos. Esse consumo deve ser o mais variado possível, quanto ao tipo, cor, consistência e forma de preparo. Uma hortaliça, por exemplo, pode ser comida crua, assada ou cozida.
2) É possível alcançar esse consumo exclusivamente por meio de uma horta caseira? Se for preciso recorrer a outra fonte, qual a orientação?
Dificilmente conseguimos tudo em uma horta própria, principalmente no caso das frutas. O ideal é que tudo seja orgânico, mas, se não for possível, é melhor comer sem ser orgânico do que deixar de comer esses alimentos.
3) Em função dos pequenos espaços disponíveis para cultivo, o que você indica para plantio, de forma a garantir um consumo variado e equilibrado em termos de nutrientes?
As verduras são mais fáceis de se cultivar em uma horta caseira do que os tubérculos, que precisam de mais profundidade. Se o espaço for pequeno e não der para investir em uma variedade, acho uma hortinha de temperos bem bacana. Ter ervas orgânicas e frescas já faz toda a diferença no sabor das preparações. Além disso, com mais temperos à disposição, dá para variar nas receitas e diminuir o sal. Mas é preciso ter atenção para fazer uma horta já com sementes orgânicas.
Hortas em pequenos espaços
O desenvolvimento de uma planta está diretamente relacionado ao seu potencial genético, ao manejo da cultura e aos fatores ambientais. O sucesso de sua colheita, portanto, depende de cuidados com todos esses aspectos
MATERIAL NECESSÁRIO
A escolha do minicanteiro depende do espaço disponível e da adequação à hortaliça. Seja qual for, o ideal é ter 20cm de profundidade. Algumas opções:
• tambores de latão ou de plástico
• canteiros de madeira suspensos
• latas e vasilhames recicláveis
• jardineiras de alvenaria
• canos de PVC
• garrafas PET
• baldes
• pneus
LUMINOSIDADE E TEMPERATURA
A luz é, provavelmente, o fator ambiental mais importante para o crescimento e a floração das plantas. Em função de sua necessidade de luminosidade, elas são divididas em plantas de dias longos, que precisam de maior tempo de exposição (cebola e alho); plantas de dias curtos, que necessitam de menor exposição (hortaliças folhosas, pimentas e pimentões) e neutras, que se desenvolvem bem em qualquer condição (tomate e quiabo).
BOAS OPÇÕES
• Hortaliças com parte aérea comestível e ciclo de vida curto: coentro, cebolinha, salsa, alface, chicória, almeirão, rúcula e espinafre
• Condimentares: alecrim, hortelã, erva cidreira, manjericão, alfavaca
• Hortaliças fruto: pimentão, tomate e pimenta
• Tubérculos: embora possível, não é recomendado para pequenos espaços, por necessitarem de canteiros com maior profundidade
PLANTIO DIRETO X MUDAS
As sementes podem ser plantadas diretamente no canteiro no caso de hortas em pequenos espaços. Coloque até três sementes por cova, em uma profundidade de até 1,5cm, ou distribuídas em sulcos com profundidade máxima de 1cm. Quando as mudas apresentarem de três a quatro folhas definitivas, realize o desbaste ou raleio das hortaliças, arrancando as mais fracas e deixando as demais num espaçamento próximo ao recomendado. Tenha cuidado para não afetar as raízes, puxando as mais fracas lentamente pela base. Regue logo após o procedimento. Se preferir, faça a horta a partir de mudas, colocando as sementes em copos descartáveis, com substrato próprio para cultivo de mudas. Geralmente, as mudas devem ser transplantadas para o canteiro quando tiverem de três a quatro pares de folhas definitivas.
NUTRIENTES
A falta ou insuficiência de alguns nutrientes atrasa o desenvolvimento ou impossibilita a planta de completar o seu ciclo de vida. Podem ser divididos em macronutrientes, necessários em maior quantidade (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes, em menor quantidade (carbono, cobre, cloro, manganês, zinco, molibdênio e ferro). É preciso cuidar ainda do índice de acidez (se o pH do solo não estiver na faixa adequada, entre 5,5 e 6,5, a raiz não consegue absorver os nutrientes, sendo necessário acrescentar calcário); umidade; disponibilidade dos nutrientes; aeração e temperatura do solo (a faixa favorável à absorção está entre 20°C e 35°C).
PREPARO DO SOLO
1º) Colete terra de barranco, de 20cm a 30cm de profundidade (considerada solo pobre, com pH baixo e livre de sementes de ervas daninha). Peneire para separar as partículas mais finas dos torrões.
2º) Escolha o adubo orgânico (esterco de boi ou cama de frango, desde que bem curtidos, para evitar contaminação) e o adubo químico (granulado NPK 4-14-8, de preferência, ou termofosfatado).
3º) Para cada 50 litros de terra de barranco, acrescente 100 gramas de calcário ou cal hidratada; 34 litros de esterco de gado ou 17 litros de esterco de galinha; 200 gramas de NPI, 4-14-8 ou 200 gramas de adubo termofosfatado.
SOLO ADEQUADO
Um solo fértil deve ter uma quantidade razoável de matéria orgânica, reter água e ser permeável e apresentar os minerais essenciais para o cultivo. Caso contrário, é recomendado acrescentar adubos orgânicos (fezes de animais ou restos vegetais) ou químicos (compostos de nitrogênio, fósforo e potássio), ou misturá-lo a solos mais férteis e regá-lo frequentemente. O solo ideal para plantas é uma mistura do arenoso (menor quantidade) e argiloso (maior quantidade). No entanto, a maior parte dos utilizados para o cultivo de hortaliças são os chamados terra de barranco, terra virgem ou solo virgem, geralmente de coloração vermelha ou amarelada e de baixa fertilidade.
IRRIGAÇÃO
O bom controle da irrigação é essencial, com o cuidado de não encharcar o solo. Se ele estiver pouco arejado, a respiração e produção de energia das plantas será prejudicada. Hortaliças, plantas de ciclo curto, precisam de irrigação constante, que varia com sua idade. Na produção de mudas, ela deve ser diária, com pouca água e maior frequência três vezes por dia. Com o desenvolvimento das plantas, a irrigação deve ser diminuída em frequência e aumentada em volume: as jovens devem receber água uma vez ao dia, e as adultas, de três a quatro vezes por semana. Com clima ameno, a frequência de irrigação deve ser menor; com temperaturas elevadas, maior
ONDE CULTIVAR
O plantio de hortas em pequenos espaços é uma alternativa ao método tradicional para quem não tem disponibilidade de canteiros. O cultivo deve ser feito onde há sol em pelo menos um período do dia (cerca de cinco horas) e luminosidade para a fotossíntese. Desde que atenda esses quesitos, é possível plantar em corredores externos, sacadas e beirais, varandas, janelas, terraços, garagens e fundos de quintal.
CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS
As pragas mais comuns em hortaliças são larvas e lagartas; pulgões; percevejos; besouros; mosca-branca; cochonilhas; paquinhas, grilos, gafanhotos e formigas; tripes; cupins, ácaros, lesmas e caracóis. Já as doenças mais recorrentes são provocadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides. Para evitá-los, deve-se garantir que a terra não esteja contaminada. No caso de ataque de pragas e incidência de doenças, alguns produtos naturais ou de preparo caseiro podem auxiliar, como o óleo ou extrato de plantas como neem, fumo, pimenta, cebola, cravo-de-defunto e camomila, além das caldas de sabão neutro ou sulfocálcica. O cultivo de plantas repelentes em torno também ajuda, como coentro, cebolinha, cravo-de-defunto e camomila. Tanto defensivos químicos quanto naturais demandam cuidado na utilização e um período de carência para consumo: cinco dias.