O Ipen é gerido técnica e administrativamente pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). No Hospital de Câncer de Barretos, no interior de São Paulo, em média 20 pacientes são prejudicados por dia com a falta dos insumos.
O coordenador do serviço de medicina nuclear, Marcelo José dos Santos, explicou que alguns pacientes tiveram que interromper o tratamento para a realização dos exames: “Para o tratamento do câncer de tireoide, por exemplo, o paciente fica submetido a um preparo especial durante um mês, sem receber medicamentos, entra em uma situação especial chamada de hipotireoidismo. Esses pacientes já estavam aqui quando souberam que não poderiam realizar o procedimento”.
Além de Barretos, outras unidades informaram não ter recebido as doses necessárias para realizar as atividades até o final desta semana, como o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC). O Hospital Amaral Carvalho, de Jaú, informou que teve que remarcar exames com pacientes que estavam há meses na fila de espera, sendo a grande maioria é usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) e que necessita do transporte das prefeituras. Muitos chegam em jejum, de locais distantes, e não têm condições de se alimentar, informou o hospital.
O superintendente do Ipen, José Carlos Bressiani, informou que a interrupção foi gerada por atraso no pagamento de um dos fornecedores, no Canadá. A perspectiva, segundo ele, é de que o abastecimento dos serviços seja regularizado no decorrer da semana e amanhã cheguem ao Instituto o gálio e o iodo. “Devíamos cerca de US$ 1 milhão para essa empresa. Felizmente, o orçamento saiu na semana passada, estamos saldando as dívidas e eles já vão começar a nos fornecer novamente”, disse Bressiani.
O governo detém o monopólio da produção dos radiofármacos, mas o Brasil depende da importação de insumos radioativos e a alta do dólar tem encarecido ainda mais esses produtos, prejudicando o fornecimento. Para piorar, Bressiani explicou que o repasse do orçamento anual liberado pelo MCTI, de cerca de R$ 92 milhões, para o instituto é inferior ao que foi gasto no ano passado.
“Tivemos aumento dos produtos em dólar de cerca de 40% e tivemos o aumento do valor do dólar. Precisávamos de um aumento bem superior a esse que foi alocado. É insuficiente para pagar as contas dos insumos nacionais e internacionais e o custeio dos gastos diários do instituto. Precisaríamos de ao menos de R$ 140 milhões”, explicou Bressiani. O aumento, segundo ele, é a única solução em curto prazo. Caso não haja mais repasses, o superintendente acredita que o dinheiro acabe a partir de setembro.
Essa é a segunda vez no ano que o fornecimento foi interrompido. Em março, funcionários entraram em greve para protestar contra falta de recursos.
Para a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear outro problema a ser enfrentado é os altos valores pagos pela especialidade médica na realização dos exames e tratamentos com esses radiofármacos, que não são acompanhados pela tabela do SUS. Médico nuclear e diretor da SBMN, Sérgio Altino, ressaltou que, a partir de julho, está previsto um segundo aumento no valor do insumo em menos de um ano, representando aumento de mais de 40%.
“E a tabela de procedimentos do SUS não sofre reajuste desde o ano de 2009. A situação é muito grave. Acreditamos que a solução é o aumento do repasse do SUS para a realização desses exames, pois não podemos continuar deficitários”, apontou o médico.
O Ministério da Saúde informou que o tema sobre fornecimento ou falta de radiofármacos nos hospitais e unidades de saúde deve ser tratado exclusivamente com o MCTI. O MCTI não se pronunciou a respeito do assunto até o fechamento desta reportagem.