Infecções reduzem o QI

Cientistas da Dinamarca chegaram à conclusão após acompanhar 190 mil pessoas durante seis anos. Em média, o quociente de inteligência tem pontuação 1,76 menor em vítimas de contaminações graves

por Correio Braziliense 08/06/2015 15:00

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Parasita (verde) ataca neurônio: risco maior quando há infecção no cérebro (foto: Divulgação)
Curar uma infecção não é garantia de sossego. Estudo dinamarquês alerta que bactérias e vírus não prejudicam apenas o órgão contaminado. Agindo no estômago ou na bexiga, por exemplo, eles conseguem interferir no funcionamento do cérebro, com consequências a longo prazo. Mesmo livre do patógeno, o ex-paciente corre o risco de ter a cognição comprometida. “Parece que o próprio sistema imunitário pode afetar o cérebro de tal forma que a capacidade cognitiva da pessoa também será prejudicada muitos anos após a infecção ter sido curada”, avalia Michael Eriksen Benrós, líder do estudo e pesquisador do Centro de Saúde Mental da Universidade de Copenhague.

Divulgado na revista científica Plos One, o estudo é o maior do gênero. Foram avaliadas 190 mil pessoas nascidas entre 1974 e 1994, sendo que 35% delas tinham um histórico de internação em decorrência de infecções. As análises, por meio de testes de quociente de inteligência (QI), ocorreram entre 2006 e 2012. De uma forma geral, os cientistas concluíram que a relação entre infecções e prejuízos à cognição corresponde a um QI com pontuação 1,76 menor que a média.

Quanto maiores os episódios de contaminação grave, mais comprometida a função cerebral, assim como a proximidade entre as infecções. Os participantes do estudo que tinham sido internados pelo menos cinco vezes em razão de infecções apresentaram a pontuação do QI 9,44 abaixo da média. Segundo Benrós, foram considerados as condições sociais dos voluntários e o nível de escolaridade dos pais deles.

O pesquisador ressalta, porém, que não se pode excluir que os fatores hereditários e ambientais associados com as infecções também podem influenciar nessa correlação. “Podemos ver que o cérebro é afetado por todos os tipos de infecção. Portanto, é importante que mais pesquisas sejam realizadas sobre os mecanismos que estão por trás da ligação entre o sistema imunológico de uma pessoa e a saúde mental dela”, defende. O próprio pesquisador já conduziu estudos associando esse tipo de contaminação com o risco aumentado de desenvolvimento de depressão e a esquizofrenia.

Ação direta
Inflamações diretas no cérebro, como a neurotoxoplasmose, exercem efeito maior na capacidade cognitiva. A complicação — uma variação grave da toxoplasmose — acomete pacientes com imunidade baixa, como os soropositivos, e é transmitida principalmente por animais domésticos. Nela, o protozoário Toxoplasma gondii pode acometer o cérebro difusamente ou formar abcessos discretos.

Benrós reforça, porém, que, conforme o perfil dos participantes da pesquisa e os resultados obtidos, outros tipos de infecções que requererem hospitalização também podem prejudicar a capacidade cognitiva de um paciente. “Elas podem afetar o cérebro diretamente, mas também por meio das inflamações periféricas. Já foram associadas à depressão e à esquizofrenia e também tem sido provado que afetam a capacidade cognitiva de pessoas que sofrem com demência. Esse é o primeiro estudo a sugerir que podem ainda atingir o cérebro e a capacidade cognitiva de indivíduos saudáveis.”


HIV ligado à demência
Cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, descobriram que o vírus da Aids, o HIV, pode começar a se replicar no cérebro quatro meses depois de infectar humanos. Comprometimentos cognitivos e até a demência estão entre os possíveis efeitos da ação do patógeno. Divulgado em março na revista científica Plos Pathogens, o estudo envolveu 72 pacientes durante os dois primeiros anos de contaminação. Vinte por cento deles apresentaram a replicação do patógeno no sistema nervoso central (SNC) com quatro meses de infecção. A condição inflamatória foi percebida em 30% em algum momento da pesquisa, e em 16% em vários episódios, sinalizando uma infecção em curso no SNC. Os pesquisadores notaram ainda que um terço dos pacientes que não seguiu o tratamento antirretroviral com regularidade desenvolveu demência. Entre as razões cogitadas pelos estudiosos, está o fato de o HIV acelerar o processo de envelhecimento.