No Brasil, duas pessoas tentam se matar a cada 45 minutos e, no mesmo intervalo de tempo, uma delas consegue levar a cabo a própria vida. Quem já tentou alguma vez o suicídio terá 50% de chance de, em algum momento na vida, voltar a praticar esse ato de extrema fragilidade da alma humana, alerta Humberto Corrêa, de 45 anos, suicidólogo pós-doutorado por universidade na França e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base nos últimos dados divulgados pelo Datasus, em 2012. Quem tenta suicídio pede ajuda, ao contrário do que diz o mito, portanto. O tema, cercado de tabus, será amplamente discutido entre 11 e 13 de junho em Belo Horizonte, durante o 1º Simpósio Latino-americano de Prevenção ao Suicídio.
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De maneira empírica, as tentativas frustradas de suicídio chegam 24 horas por dia aos voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV). “A melhor maneira de prevenir o suicídio é desabafar. Muitas vezes, as pessoas ligam para dizer que se sentem sozinhas e solitárias e acabam contando que estão com vontade de morrer. Em geral, as pessoas do entorno não entendem essa dor e tratam o sofrimento delas como algo banal. Desconversam, dizem pra deixar para lá ou só que vai passar”, diz a pedagoga Klênia Batista, uma das integrantes da equipe de 45 voluntários do CVV. O serviço de atendimento e ajuda gratuita por telefone vai completar 50 anos durante a realização do encontro em BH.
Entre os relatos compartilhados com discrição por voluntários do CVV, de conteúdo altamente sigiloso, estão casos de pessoas que teclaram o 141 dizendo estar com insuficiência hepática por já terem ingerido chumbinho; que passaram a ter problemas gástricos devido à ingestão de uma superdose de medicamentos ou que estão obrigadas a usar roupas de mangas compridas para esconder cicatrizes de cortes nos pulsos.
HOMENS X MULHERES
Segundo Humberto Corrêa, os principais grupos de risco de suicídio são jovens entre 15 e 30 anos e idosos acima de 65, sendo que os homens morrem de três a quatro vezes mais do que as mulheres, embora elas tentem se matar de três a quatro vezes mais do que eles. “Ainda não se sabe exatamente o porquê, mas os dados epidemiológicos mostram que eles usam métodos mais violentos, como armas de fogo ou pular de algum lugar. Já as mulheres, em geral, optam pela ingestão de substâncias, como remédios controlados em excesso”, completa.
Uma das descobertas mais importantes da medicina dá conta de que é possível prevenir o suicídio em 90% das vezes, até porque a totalidade dos casos tem origem em transtornos psiquiátricos, especialmente a depressão, que não foram corretamente diagnosticados e tratados. “O suicídio está sempre associado a uma doença mental, acompanhado de um fator estressor do momento que pode funcionar como gatilho”, esclarece o médico, citando como prováveis desencadeadores a morte de familiares, perda de emprego e desilusões amorosas. Segundo ele, se o paciente depressivo que tentar suicídio recusar o tratamento, insistindo em se matar aos poucos, poderá ser tomada medida extrema de internação involuntária, desde que seja feita a comunicação em 24 horas ao Ministério Público.
DEBAIXO DO TAPETE
“Quando um assunto é tabu, não o discutimos abertamente, não estudamos, não pesquisamos. Jogamos para debaixo do tapete. Não existem campanhas de saúde pública para tratar o tema”, denunciou Humberto Corrêa, em artigo. Vice-presidente da Associação Latino-americana de Suicidologia, o médico observa que o Brasil publicou, em 2006, sua estratégia nacional de prevenção ao suicídio, mas, “ao contrário de outros países, ainda não a tirou do papel”. Na Inglaterra, o diagnóstico e tratamento rápido dos indícios de casos proporcionou redução dramática dos índices.
“Há momentos na vida em que muitos de nós perdemos a coragem de seguir em frente. Essa situação é mais frequente do que se imagina. Em casos extremos, o desânimo, a melancolia ou a depressão podem precipitar a ideia do suicídio, problema de saúde pública no Brasil e no mundo. O silêncio em torno do assunto agrava a situação. Falar de suicídio, portanto, pode salvar vidas”, é o que escreve André Trigueiro, autor do livro Viver é a melhor opção – A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo, com previsão de lançamento em BH em 12 de junho.
SERVIÇO:
Simpósio Latino-americano de Prevenção ao Suicídio
Quando: de 11 a 13 de junho
Local: AssociaçãoMédica de Minas Gerais (Avenida João Pinheiro, 161 – BH)
Informações e inscrições: www.simposiosuicidio2015.com.br
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Segundo Humberto Corrêa, os principais grupos de risco de suicídio são jovens entre 15 e 30 anos e idosos acima de 65, sendo que os homens morrem de três a quatro vezes mais do que as mulheres, embora elas tentem se matar de três a quatro vezes mais do que eles. “Ainda não se sabe exatamente o porquê, mas os dados epidemiológicos mostram que eles usam métodos mais violentos, como armas de fogo ou pular de algum lugar. Já as mulheres, em geral, optam pela ingestão de substâncias, como remédios controlados em excesso”, completa.
Uma das descobertas mais importantes da medicina dá conta de que é possível prevenir o suicídio em 90% das vezes, até porque a totalidade dos casos tem origem em transtornos psiquiátricos, especialmente a depressão, que não foram corretamente diagnosticados e tratados. “O suicídio está sempre associado a uma doença mental, acompanhado de um fator estressor do momento que pode funcionar como gatilho”, esclarece o médico, citando como prováveis desencadeadores a morte de familiares, perda de emprego e desilusões amorosas. Segundo ele, se o paciente depressivo que tentar suicídio recusar o tratamento, insistindo em se matar aos poucos, poderá ser tomada medida extrema de internação involuntária, desde que seja feita a comunicação em 24 horas ao Ministério Público.
DEBAIXO DO TAPETE
“Quando um assunto é tabu, não o discutimos abertamente, não estudamos, não pesquisamos. Jogamos para debaixo do tapete. Não existem campanhas de saúde pública para tratar o tema”, denunciou Humberto Corrêa, em artigo. Vice-presidente da Associação Latino-americana de Suicidologia, o médico observa que o Brasil publicou, em 2006, sua estratégia nacional de prevenção ao suicídio, mas, “ao contrário de outros países, ainda não a tirou do papel”. Na Inglaterra, o diagnóstico e tratamento rápido dos indícios de casos proporcionou redução dramática dos índices.
“Há momentos na vida em que muitos de nós perdemos a coragem de seguir em frente. Essa situação é mais frequente do que se imagina. Em casos extremos, o desânimo, a melancolia ou a depressão podem precipitar a ideia do suicídio, problema de saúde pública no Brasil e no mundo. O silêncio em torno do assunto agrava a situação. Falar de suicídio, portanto, pode salvar vidas”, é o que escreve André Trigueiro, autor do livro Viver é a melhor opção – A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo, com previsão de lançamento em BH em 12 de junho.
SERVIÇO:
Simpósio Latino-americano de Prevenção ao Suicídio
Quando: de 11 a 13 de junho
Local: AssociaçãoMédica de Minas Gerais (Avenida João Pinheiro, 161 – BH)
Informações e inscrições: www.simposiosuicidio2015.com.br