O estudo verificou o efeito do paracetamol na produção de testosterona de cobaias submetidas a transplante de testículos fetais humanos. Os animais receberam de uma a três doses diárias da substância ao longo de 24 horas ou sete dias. Foi medida a quantidade de testosterona produzida pelo tecido humano uma hora após a aplicação do remédio, e os cientistas descobriram que o tratamento não afetou a produção de testosterona 24 horas depois do procedimento. Com sete dias de exposição, porém, a quantidade do hormônio caiu 45%. O peso das glândulas que produzem o líquido seminal também diminuiu, assim como os biomarcadores de exposição à testosterona (18%).
Rod Mitchell, pesquisador sênior do trabalho, acredita que o estudo aumenta as evidências de que o consumo recorrente de paracetamol durante a gravidez pode aumentar o risco de distúrbios reprodutivos em bebês do sexo masculino. “Aconselhamos que as grávidas sigam as diretrizes atuais de que o analgésico seja tomado na dose mínima eficaz e durante o menor tempo possível”, alerta.
Paulo Gallo de Sá, diretor-médico da clínica Vida – Centro de Fertilidade da Rede D’Or, considera o trabalho inicial e ressalta que não há motivo para pânico, pois não existe comprovação científica que sustente o risco do paracetamol para os fetos. “Esse trabalho não é motivo para assustar a população. Os estudos devem ser continuados, com testes em humanos, mas, se alguma coisa já foi observada em ratos, precisamos ficar alerta”, pondera.
O especialista, que também é professor de ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), diz que o paracetamol, assim como qualquer droga, deve ser consumido com cuidado e orientação. “Grávidas devem ingerir apenas a dose mínima necessária para solucionar os sintomas, e apenas durante o tempo necessário. Vamos ficar de olho para ver se esses resultados também se confirmam em humanos”.