Do alto de uma barra, elas querem trazer para Minas Gerais medalhas, mas também visibilidade para uma modalidade esportiva que ganha adeptos a cada ano: o pole dance, que em competições ganha o nome de pole dance fitness ou pole dance sport. Quatro atletas representam Minas Gerais no PanAmerican Pole Championship, uma das principais competições mundiais do esporte que combina dança e acrobacia. A segunda edição do torneio será realizada até domingo, 31 de maio, no Riocentro, Rio de Janeiro, dentro da programação do 3º Arnold Classic Brazil. São cinco categorias: profissional feminino internacional, profissional masculino internacional, amador feminino internacional, master feminino internacional e duplas internacional.
Quinto lugar na categoria amador feminino do Campeonato Brasileiro de Pole Dance, em 2014, a atleta mineira Nayara Malta tentará, agora, uma posição no ranking profissional. No panamericano, pela primeira vez, ela vai competir na categoria profissional e está confiante em sua apresentação e também das três companheiras de equipe – Priscila Dias, Paula Pereira e Carolina da Silva – classificadas, em uma seletiva, para disputar o amador. A equipe Alpha Fit tem, no total, seis atletas que vêm treinando há dois anos para competições. Mas o número de alunas em busca dos benefícios do pole dance cresce a cada ano. Na academia de Nayara já são 30 aulas semanais. A atleta, formada em educação física, destaca o fortalecimento muscular, o condicionamento físico e a flexibilidade.
Atleta dedicada
Nayara “descobriu” o pole dance em 2010. Professora de boxe tailandês em uma academia, aproveitava os horários livres para fazer aulas de pole. Encantada, buscou cursos na área, como a extensão em pole dance fitness na Faculdade Inspirar, em Curitiba (PR). Em 2011, começou a dar aulas e abriu a Alpha Fit, uma academia só para mulheres que oferece, entre outras aulas, o pole dance fitness. “Após os campeonatos há um boom na procura por aulas”, conta. Segundo Nayara, o pole dance fitness ou pole dance sport é o braço esportivo do pole dance, que tem outras vertentes. “O pole dance exotic é mais ligado a apresentações sensuais; o pole dance street é praticado na rua e o pole dance artístico, para o qual também existem competições, tem coreografias mais artísticas”, explica.
O sucesso do pole dance fitness estaria diretamente ligado à forma como trabalha o corpo, mas também à promoção da autoestima. “A maioria dos praticantes é mulheres. Muitas não gostam de musculação e buscam o pole para escapar da academia convencional. Emagrece, mas o principal ganho é o fortalecimento da musculatura e a melhoria do condicionamento físico. E é absurdo como melhora a autoestima, porque elas acham que não vão conseguir e quando fazem os movimentos na barra acreditam em sua capacidade. Todo mundo consegue fazer pole dance, não importa o peso ou a idade”, defende Nayara, que está desenvolvendo uma metodologia própria, baseada no uso de fichas de progressão individual dos movimentos.
Confira a apresentação de Nayara Malta no Campeonato Brasileiro de 2014:
Entrevista
Vanessa Costa, presidente da Federação Brasileira de Pole Dance
Desde quando o pole dance é considerado modalidade esportiva? Como qualquer atividade, dança, ioga, capoeira, artes marciais, o pole se enquadra na esfera do que chamamos de atividade física. Ele pode ser uma mistura de dança e acrobacia, sendo muito inspirado nas práticas milenares indianas do Mahlakamb, acrobacias feitas em tora de madeira; e nas dançarinas da época da grande depressão americana do pós-guerra. Podemos dizer que o pole, hoje, é uma atividade completa que envolve homens, mulheres e crianças; sem limite de idade e sem restrição física; com campeonatos em todo o mundo e praticado nos cinco continentes. Isso faz dele, com toda certeza, um esporte. A prática constante, a interação do grupo e a rotina de competições fazem da atividade um esporte.
O pole dance ainda está vinculado a uma dança sensual. Qual o impacto dessa imagem para a consolidação do esporte? O que a federação tem feito nesse sentido? Realmente, não vejo nesse sentido. Se fossemos tão radicais assim o que dizer do boxe e do jiu-jitsu que durante anos viveram sob a pressão de serem violentos e típicos de pessoas que gostam de brigar nas ruas e hoje são artes respeitadas e lotam arenas de MMA pelo mundo inteiro? Acredito que a atividade tem suas origens e suas conotações, mas existe também o lado desportivo e de competição. Ambos devem ser trabalhados e respeitados. É uma modalidade nova no Brasil, ainda tem muito caminho para percorrer e se firmar. Aos poucos, com certeza, essa desvinculação vai ocorrer, é o caminho natural das coisas. A federação, há nove anos, trabalha para desmistificar e trazer ao senso comum o pole acrobático e desportivo.saiba mais
Existem vários tipos de pole dance? Qual a diferença entre eles? O pole é um só: uma acrobacia sob a barra vertical. Costumo dizer que cada um coloca o adjetivo que mais se adequa a sua percepção da atividade. Entretanto, o que se espera em todas as vertentes é pessoas sobre a barra fazendo acrobacias. Ele pode ser chamado de fitness, sexy, dance. Esses são apenas adjetivos para a modalidade que é uma só. Normalmente, optamos por chamar a atividade pelo nome de origem, que é pole.
As regras do campeonato brasileiro são um pouco diferentes das regras do panamericano. Não deveria existir uma universalidade?A Federação Brasileira de Pole Dance é a criadora do primeiro código de regras e arbitragem do mundo. Ela foi a primeira entidade a ter regras definidas e claras a respeito da modalidade, com pontuação de movimentos por graus de dificuldade e bônus por combinações e truques extras realizados na barra. Desde 2009, quando comecei a organizar campeonatos, o código vem amadurecendo e evoluindo juntamente com a modalidade. São os atletas que nos ajudam a renovar todos os anos, fazer um código mais próximo do pole que está sendo praticado. Isso faz com que a competição acompanhe a evolução da modalidade. Talvez por isso o nosso campeonato seja o mais respeitado do mundo pelos atletas que se inscrevem para nosso processo seletivo. Temos a mesma competição para todas as categorias. Aqui não há diferença. O campeonato segue um padrão técnico e rigoroso.
Quais os desafios agora? É possível que se torne uma modalidade olímpica? O que falta para isso? Nosso desafio segue sendo profissionalizar, dar cada vez mais credibilidade para a modalidade e fazer com que ela siga firme em seu crescimento. Queremos crescer na produção e organização de eventos para elevar o nível do pole no Brasil. Ser olímpico ou não vai ser a consequência desse trabalho no futuro.