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Você se identificou com a cena? Então é bem possível que você tenha o hábito de procrastinar, ou seja, adiar os compromissos, deixando-os para depois. Como costuma fazer a estudante de direito Lygia Carvalho, 22 anos. “O que eu posso adiar, vou adiando, sou uma procrastinadora nata. Isso ficou claro na faculdade, onde o conteúdo é mais complicado e as responsabilidades são maiores. Acabo deixando para o último momento, pois não sei muito como lidar com tudo o que tenho que fazer”, admite a jovem.
Ela, evidentemente, não está sozinha. Muitas pessoas deixam para amanhã o que podem fazer hoje. E os motivos para que ajam assim podem ser muitos. “Há vários fatores que nos levam a procrastinar. Complexidade da tarefa, falta de tempo, ter outras atribuições, falta de prazer com a atividade e a própria desorganização são alguns deles. Também esperar pela informação perfeita, a hora perfeita, o colaborador perfeito, enfim, as condições perfeitas para executar a tarefa. Mas isso nunca vai acontecer”, explica a coach Claudia Nogueira.
Para muita gente, procrastinar é algo que ocorre eventualmente e não causa muito prejuízo. A pessoa logo retoma a rotina e cumpre as obrigações. Mas, em alguns indivíduos, a prática pode se tornar um obstáculo ao desempenho de tarefas e gerar sofrimento. Como conta Lygia, “vem um sentimento de culpa, de não produção, um estresse muito grande”. Segundo especialistas, o que diz se esse hábito está exagerado são as consequências que ele traz. “É a noção de prejuízo ou malefício que define a procrastinação exagerada ou pouco inteligente”, resume o psicólogo e coach Felipe de Souza. Se faz muito mal, é preciso mudar. Mas como?
Reduzido
Um grupo de pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos, acredita ter chegado a uma forma eficaz de se livrar da procrastinação, que pode ser expressa pela fórmula: “Pense no futuro como agora”. Explicando melhor, o que os cientistas americanos descobriram, por meio de um estudo concluído no mês passado, é que, ao calcular quanto tempo resta para realizar uma tarefa, o melhor é usar escalas menores de tempo. Em vez de pensar que você tem até o fim do dia para fazer algo, diga para você mesmo que faltam oito ou dez horas. Se você precisa entregar um relatório do trabalho na próxima sexta-feira, não pense que tem até o fim da semana. São três dias: hoje, quarta e quinta-feira. “Quando pensamos de maneira mais granular — usando dias em vez de anos —, sentimos que o futuro está mais perto”, explica, em um comunicado, Daphna Oyserman, líder da pesquisa e codiretora do Centro Dornsife de Mente e Sociedade, da USC.
Para chegar a essa conclusão, Oyserman e colegas dividiram o estudo em dois momentos. Em uma primeira série de experimentos, 162 participantes foram convidados a se imaginarem na preparação de um evento, como um casamento ou uma apresentação no trabalho. Em seguida, foi pedido que eles estabelecessem uma data para a realização desse evento. Alguns deveriam estimar em dias; outros, em meses, e um terceiro grupo , em anos. Os pesquisadores notaram que as pessoas estimuladas a pensar em termos de dias estabeleciam um prazo bem mais curto, em média 29,6 dias antes do que aqueles que planejavam o evento em meses.
Em uma segunda etapa, os responsáveis pela pesquisa exploraram se essa noção de tempo afeta planos de começar uma poupança de longo prazo. Mais de 1.100 participantes foram convidados a pensar quando eles iriam começar a poupar dinheiro para a faculdade ou a aposentadoria. No primeiro caso, alguns voluntários eram informados de que a faculdade começaria dali a 18 anos, enquanto a outros era dito o mesmo prazo, só que calculado em dias (6.570). No segundo caso, a informação era passada de maneira parecida: 30 ou 40 anos, e o correspondente em dias: 10.950 e 14.600. O resultado foi parecido com o da primeira fase do estudo. As pessoas que eram convidadas a pensar em dias consideravam melhor iniciar a poupança quatro vezes mais cedo que aqueles que pensavam em anos.
Autoconhecimento
A estratégia pode ajudar, mas especialistas acreditam que outras atitudes podem auxiliar aqueles que desejam manter a procrastinação sob controle. “O caminho passa pelo autoconhecimento: saber sobre a própria produtividade, como em que horários e ambientes as atividades fluem melhor; sobre formas de organização mais eficazes, que variam de pessoa para pessoa; e sobre o que motiva e o que desmotiva”, aconselha Felipe de Souza.
Quando Luiz Calos dos Santos Junior, 22 anos, se mudou de Brodowski, no interior de São Paulo, para cursar publicidade e propaganda na Universidade de Brasília (UnB), a confusão se instalou na vida do rapaz. “Acumulei os deveres da faculdade com outras tarefas. Tinha de cozinhar, lavar roupa e arrumar a casa, além de estudar. Então, se eu deixasse tudo para a última hora, eu não faria nada.” Luiz Carlos aprendeu na marra a lidar com a nova realidade. Hoje, mais organizado, reflete: “Gastamos o mesmo tempo para fazer uma tarefa, independentemente de começarmos na hora em que são propostas ou no último momento possível. A diferença é que deixar para a última hora faz você ficar mais tempo com aquilo na cabeça.”
A coach Claudia Nogueira complementa: “Deixar as coisas por fazer gera muita ansiedade. Ficamos sempre com aquela pendência nos incomodando. Esse hábito costuma gerar sentimentos de culpa, estresse, longos horários de trabalho. Além de afetar a nossa autoimagem, pois passamos a nos ver como pessoas que não são capazes de realizar. O sentimento de culpa é inevitável”.
Mas existe alguém que faz tudo exatamente quando deve ser feito? A advogada Andréa Ávila chega próximo disso, graças a uma organização impecável que mantém com a ajuda de planilhas que mantém no celular e no computador. A disciplina surgiu ainda na época do ensino médio. “Do segundo para o terceiro ano, percebi que precisava me organizar. Naquele momento, meu objetivo era passar no vestibular para direito”, lembra Andréa, que, depois de alcançar esse primeiro objetivo, não relaxou e aprimorou ainda mais seu método de organizar a rotina. “Eu mantenho planilhas e tento seguir ao máximo as atividades programadas para o meu dia. Tudo está encaixado no meu calendário: meu lazer, minhas horas de estudo, meu momento de trabalhar”, conta a advogada, que agora tem como novo objetivo se tornar juíza.
Como agir
A psicóloga e coach Claudia Nogueira elaborou uma lista de ações que podem ajudar quem deseja parar de procrastinar. Segundo ela, cada um deve experimentar e encontrar aquilo que funciona melhor para si. Antes de mais nada, porém, é fundamental que a pessoa reconheça que está procrastinando. Só assim ela conseguirá mudar:
Preparar-se
Organize tudo que você precisa para realizar um trabalho antes de começá-lo. Isso evitará que você perca tempo e se distraia. As listas de tarefas também ajudam bastante, permitindo que organize tempo e demais recursos necessários, estabelecendo prioridades.
Usar a técnica pomodoroo
Essa técnica consiste em dividir o tempo em intervalos de 25 minutos (chamados pomodoros), realizando as tarefas nesses espaços. A cada quatro ciclos, deve-se descansar por 15 minutos. Segundo Claudia Nogueira, na internet é fácil encontrar sites que explicam como utilizar a técnica, criada nos anos 1980. O método é útil para fazer o tempo render, pois você coloca o foco todo na tarefa a ser feita, sabendo que, em breve, terá um intervalo para cuidar das demais coisas.
Dividir a tarefa em partes
Isso traz maior controle sobre o que deve ser feito. A cada etapa concluída, aumenta a sensação de que você está caminhando para a realização do todo. Focar o objetivo final, em vez das tarefas, é uma das principais estratégias para alcançar o sucesso.
Fixar prazos mais curtoso
Segundo a Lei de Parkinson (apresentada no livro Trabalhe 4 horas por semana, de Timmothy Ferriss), mesmo que você tenha um prazo muito curto para executar uma tarefa, você vai realizá-la. Porém, se você tiver um prazo muito extenso, empurrará com a barriga até a última hora. Estabelecer prazos mais curtos nos coloca diante de um desafio que nos movimenta.
Não buscar a perfeição
Realize seus trabalhos com impecabilidade — que, diferentemente do que muitos pensam, não significa fazer com perfeição, mas com dedicação, dando o melhor possível dadas as circunstâncias. Lembre-se sempre da frase “feito é melhor que perfeito” e siga em frente.
Contar com uma rede de ajuda
Ter amigos ou familiares que o apoiam é muito importante. Quando você compartilha seus projetos, a rede de ajuda pode servir de estímulo para se manter focado. Ao dizer a outras pessoas que você tem um objetivo a cumprir, você inconscientemente estará se obrigando a todos os dias caminhar um pouco para cumprir o prometido. E é possível também que eles ajudem no cumprimento da meta.
Dar-se uma recompensa
Ao concluir uma tarefa, premie-se! Isso servirá de incentivo para que você queira fazer o que precisa. Por exemplo, há formas de bloquear o acesso às redes sociais e a outros sites. Você pode utilizar esse recurso para não ter acesso antes das 17h. Após a conclusão das tarefas do dia, pode entrar nessas páginas com a certeza do dever cumprido.