Saúde

Mamães e bebês podem malhar juntos em BH

Respeitados os 45 dias depois do parto e a liberação do médico, mulheres podem voltar às atividades físicas. Apesar de ser focado nos benefícios para o corpo e a mente da mulher, treino que inclui bebê também pode auxiliar no desenvolvimento da criança

Valéria Mendes

Em alguns exercícios de fortalecimento de grupos musculares os bebês são os "pesos" das mamães (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
Com a chegada do bebê, nasce também a mãe. Por isso, o pós-parto e a licença-maternidade podem ser momentos de muito desamparo, insegurança e solidão e a cultura da maternidade cor-de-rosa representada pelas imagens de mães sorridentes e bebês tranquilos não contribui em nada para o fortalecimento das mães de primeira viagem. Fora do enquadramento para o porta-retrato estão as cólicas, as noites mal dormidas, os percalços da amamentação e o corpo transformado pela gestação. Para se fortalecerem diante dos desafios da maternidade, cada vez mais as mulheres têm se juntado para trocar experiências e informações em grupos na internet, blogs, encontros presenciais e demandado oportunidades de experienciar a licença-maternidade que, no Brasil, varia de quatro a seis meses, fora do modelo casa-pediatra-supermercado-shopping. Um exemplo emblemático é a luta pelo direito de amamentar em público sem constrangimento, mas podemos citar também a possibilidade de mamães e bebês malharem juntos. Em Belo Horizonte, já é possível.




A pediatra Laura Lima é adepta da malhação "mamãe-bebê" (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
Se para algumas pessoas pode parecer estranho usar o bebê como peso para algum tipo de exercício, a médica pediatra Laura Lima, 29 anos, mãe de Renato, de dez meses, e adepta da malhação ‘mãe e filho’ garante que não há problema. “O bebê só vai ser peso em situações que ele possa ser e uma atividade que é prazerosa para a mãe e para a criança faz o relacionamento fluir”, afirma.

Para começar a se mexer, no entanto, a especialista reforça que há que se respeitar os 45 dias após o parto e a liberação do médico. Em relação ao neném, de acordo com Laura, não existe uma idade determinada para permitir que a criança saia ou não de casa. “As vacinas são o grande limitador e a principal recomendação é evitar até os seis meses de idade locais fechados com grande aglomeração de pessoas”, explica. Por isso, um dos critérios deve ser turmas pequenas e treino personalizado, que nesse caso, envolve tanto o quadro geral de condicionamento físico da mulher quanto a fase de desenvolvimento da criança. 

A educadora física e integrante da equipe multiprofissional de saúde do Instituto Nascer, clínica em Belo Horizonte especializada no atendimento à mulher na gestação, parto e pós-parto, Claudia Heringer Henriques é idealizadora do programa FIT Mamãe. As turmas que ela atende têm, no máximo, quatro mulheres (e quatro bebês) e as aulas têm duração entre 50 e 60 minutos. O acompanhamento individual – em estúdio, academia, clínica ou em casa – também é uma alternativa.

O treino no pós-parto é focado em quatro pilares principais: atenção especial à postura, eliminar os quilos extras da gestação, fechamento da diástase abdominal e recuperação da musculatura do assoalho pélvico, caso seja necessário. “É preciso fortalecer a coluna, principalmente na região das costas, porque é muito comum em razão da amamentação, que a mulher jogue os ombros para frente. A postura correta também impacta a aparência do abdômen. Assim, os exercícios são pensados para proteção da lombar e para o fortalecimento do corpo em geral”, detalha.

O treino é adaptado às condições físicas da mãe e ao desenvolvimento do bebê (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
O condicionamento físico é trabalhado em circuitos, favorecem a queima de calorias e, consequentemente, a perda de peso. Já a atenção à musculatura do assoalho pélvico auxilia a retomada da atividade sexual. “Com o filho fora da barriga e o abdômen ainda proeminente, a mulher pode não se reconhecer feminina e bonita. A maternidade traz novas configurações para a aparência, mas o foco deve ser cuidar do corpo para ficar bem, sem pressa e sem a fissura em ficar sarada”, observa.

O FIT Mamãe foi pensado para durar quatro meses, mas é comum as mulheres ultrapassarem esse período mesmo com o fim da licença-maternidade. “O normal é que o corpo demore entre seis e nove meses para retornar ao que era, mas a atividade física acelera o resultado. Em quatro meses já é possível notar o início da definição do abdômen e de outros grupos musculares”, explica. A educadora física reforça, no entanto, que a atividade física por si só não garante resultados. Portanto, a mulher precisa também cuidar da alimentação.

Segundo Claudia, os benefícios vão além do físico. “No retorno à vida social no pós-parto, as mulheres se sentem mais acolhidas em espaços com outras mães, seja para trocar experiências, dividir angústias ou conversar sobre o cotidiano da vida mãe e filho”, diz.

A médica anestesista Renata de Andrade Chaves, 31 anos, mãe de João, 4 meses, começou a se exercitar na companhia do filho quando o garotinho tinha dois meses de idade. “Era a única atividade que tínhamos fora de casa até ele completar três meses. Ele chegou assustado, mas as aulas fizeram muita diferença na rotina dele também. Nos dias que a gente vem, o João me dá muito menos trabalho no final do dia e dorme melhor”, relata.

Não necessariamente todas as mães fazem os mesmos exercícios durante a aula (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
"Nos dias que a gente vem, o João me dá muito menos trabalho no final do dia e dorme melhor%u201D - Renata de Andrade Chaves, médica anestesista


A pediatra Laura Lima também sentiu benefícios para o desenvolvimento do filho, que, segundo ela, ficou mais sociável. “Ele era um pouquinho mais dependente de mim, mas agora vai no colo da professora e de outras mães. As aulas também têm ajudado meu filho a aprender a esperar, a se acostumar com outras pessoas e, apesar de estar na fase da ansiedade da separação, não tem manifestado nenhum sinal”, conta.

Como pediatra, Laura Lima diz que a atividade física em conjunto é também indicada para os casos de mães com dificuldades em estabelecer vínculo com os bebês. “O exercício ajuda a aliviar a ansiedade e a mulher fica mais disposta”, pontua.

Uma dica da pediatra, que malha com o filho desde que ele tinha dois meses, é observar o temperamento da criança na hora de escolher o horário para a prática de exercícios. “O momento reservado para a atividade física não deve coincidir com o horário da soneca. O final da tarde também não é um bom momento, já que usualmente é o período das cólicas e culmina com o acúmulo de pequenos estresses que a criança vivencia ao longo do dia. Se o seu bebê é mais sensível, talvez ele fique incomodado em um ambiente que a mãe não tem tudo controlado”, exemplifica.

Bebê na academia
Tanto o humor quanto as necessidades da criança - como amamentação e sono – devem ser respeitados durante as aulas. Quem já teve a oportunidade de observar como é a dinâmica de um treino 'mãe e bebê juntos', sabe que não é raro que as alunas façam exercícios diferentes ao mesmo tempo, tanto pelas particularidades de cada treino, mas também para se adaptar ao humor e interesse da criança. Se o bebê chora, é sinal que está na hora de mudar o exercício, a posição na sala ou forma de segurá-lo. Se uma criança dorme, a mãe de outro bebê pode ‘emprestá-lo’ à colega da turma. Caso a mulher precise se exercitar com as mãos livres, tem sempre alguém de prontidão para pegar um neném no colo.

A série de exercícios elaborada para a mãe deve ser pensada nos movimentos que são permitidos às crianças de acordo com a idade.“É preciso respeitar as fases de desenvolvimento do bebê, se ele já sustenta o pescoço ou já se fica sentado sozinho. Crianças que já engatinham precisam de espaço para serem livres e ativas”, pontua a pediatra Laura Lima.

Apesar de todas essas ponderações e mesmo levando-se em conta que culturalmente o bem-estar do bebê prevalece sobre o da mãe, o objetivo da atividade física é focado na mulher. “A criança está junto para permitir que a mãe se exercite”, reforça a especialista.

Preocupada com o crescimento da obesidade infantil no Brasil e no mundo, a pediatra Laura Lima cita outro ponto positivo para incluir o bebê na malhação: a importância da imitação (ou exemplo) no desenvolvimento da criança. “Criança que vê a mãe e o pai se exercitarem - e nesse caso específico, participando - está plantando uma sementinha em sua memória motora sobre a importância da atividade física para a saúde. O exemplo arrasta, não basta falar”, sintetiza.

O objetivo da atividade física é focado na mulher (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)


ONDE FAZER:
FIT MAMÃE NO INSTITUTO NASCER
Rua Cícero Ferreira, 81- Serra.
Informações: (31) 3262-3538

FIT MAMÃE NA ACADEMIA A2
Rua Guaicui, 660 - Luxemburgo.
Informações: (31) 3293.8632

"Os benefícios vão além do físico" - Cláudia Heringer, educadora física (Maíra Cabral / EM / D. A. Press)