Os cientistas chegaram à conclusão depois de analisar dois amplos estudos: um sueco, com 1.629 pessoas que sofriam com a esclerose múltipla e 2.807 saudáveis; e outro norte-americano, com 1.159 pacientes com a doença e 1.172 pessoas saudáveis. Nos dois trabalhos, havia dados sobre a quantidade de café consumida pelos participantes.
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Para Elizabeth Regina Comini Frota, coordenadora do Departamento Científico de Neuroimunologia da Associação Brasileira de Neurologia (ABN), os resultados podem ter relação com a ação anti-inflamatória da bebida. “A cafeína presente no café parece ter a ação de uma proteína que não permite a entrada de células inflamatórias no sistema nervoso central. Na esclerose múltipla, é justamente isso que acontece: células de defesa são ativadas erroneamente contra proteínas do próprio sistema nervoso da pessoa, produzindo lesões”, avalia a especialista, que não participou do estudo.
Júlia Carolina Batista, neurologista do Hospital Santa Luzia, também segue raciocínio semelhante. “Hoje, sabemos que as doenças neurodegenerativas são causadas por inflamações. Qualquer instrumento que tenha a ação de desinflamar pode, sim, proteger de problemas como a esclerose múltipla”, destaca. No entanto, Elizabeth Frota destaca a necessidade de mais informações. “Esse trabalho é retrospectivo. Seria necessário um estudo prospectivo ou seja, observando e seguindo as pessoas daqui para a frente”, complementa.
Complexidade
De fato, Ellen Mowry deixa claro que sua análise não apresenta evidências suficientes para afirmar que o café protege contra a doença neurodegenerativa. “É especulativo dizer que qualquer mecanismo pode explicar os resultados a respeito da esclerose múltipla”, destaca. “Houve, inclusive, um estudo prospectivo com um grupo pequeno de pacientes que não encontrou associação entre a ingestão de café e a doença. Além disso, outros fatores de risco serão avaliados tanto pelo grupo sueco quanto pelo norte-americano”, acrescenta.
Apesar das ponderações, os resultados indicam que o tema merece ser investigado. Para Frota, as pesquisas com foco na prevenção da esclerose múltipla são muito importantes, principalmente pelo fato de a causa do mal ainda não estar definido. “É uma doença extremamente complexa, cuja causa ainda não é conhecida. Todos os dados sobre a doença levantados nos levam a crer que a enfermidade é resultante de uma mistura de fatores genéticos e ambientais ainda não determinados”, destaca.
A especialista brasileira acrescenta que a busca pelos fatores de proteção da doença neurodegenerativa tem sido constante. “Outras pesquisas grandiosas como essa, envolvendo muitos pacientes de locais diferentes, foram feitas tentando determinar fatores de risco. Temos muitos estudos sobre a vitamina D, o fumo e até o vírus da herpes”, completa. Ela lembra ainda que outros trabalhos já haviam levantado a suspeita do café como fator de proteção. É o caso de um estudo de novembro passado segundo o qual uma dieta rica em cafeína protegeu ratos de laboratório contra a encefalite autoimune experimental, um modelo da esclerose múltipla produzida em animais. “Portanto, essa última pesquisa vem juntar mais um dado aos muitos que já temos para entender essa doença”, destaca Frota.
Efeitos diversos
Os sintomas da esclerose múltipla variam muito de acordo com o paciente e a progressão do quadro, pois dependem das fibras nervosas afetadas. Efeitos frequentes incluem prejuízos sensitivos (formigamento, coceira, dor, cegueira parcial), motores (tremores, desequilíbrio, fraqueza) e psicológicos ou neurológicos (alterações de humor, depressão e euforia exagerada).