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Os donos devem ser atentos, pois esses animais costumam esconder que estão doentes. Isso ocorre porque, na natureza, eles são presas e evitam demonstrar vulnerabilidade e assim garantir mais chances de sobrevivência. A intervenção deve ser rápida pois, quando o problema é descoberto, pode ser tarde demais. O sistema respiratório e digestivo são as partes mais sensíveis, mas é na dentição que ocorrem os distúrbios mais comuns, como hipercrescimento dos dentes. “Isso pode provocar feridas na gengiva e na língua e dificuldade de alimentação”, relata o veterinário Elber Costa.
A chinchila Joca, um macho de 9 anos, teve má oclusão, encaixe inadequado entre arcada dentária superior e inferior. Ele não conseguia se alimentar direito e teve perda de peso. “Eu sei quando Joca não está bem, fica em um canto da gaiola, apático e mais agressivo”, aponta a dona, Denise Matos, artesã de 50 anos. Após a extração de dois dentes, ele se recuperou com facilidade. Denise conta que se apaixonou pela espécie. “É amor à primeira vista. São dóceis, inteligentes, espertos, curiosos. Interagem muito e é superfácil de cuidar”, opina.
Com o suporte adequado, a chinchila tem boa longevidade. A expectativa de vida é entre 10 e 20 anos, enquanto a maioria dos pequenos roedores vive entre 2 e 5. Denise é atenciosa com Joca. Há dois anos, ela observou que o olho dele estava inchado e o levou ao veterinário. A primeira suspeita foi conjutivite ou algum machucado. O diagnóstico foi de um abcesso por trás do olho, que provoca acúmulo de pele e pus. Sem fechar as pálpebras corretamente, o olho ficou exposto. Foi preciso fazer uma cirurgia delicada de extração do globo ocular e uso de medicação. “Hoje, ele faz as mesmas coisas de antes. O tratamento doeu mais em mim do que nele”, brinca Denise.
As chinchilas são ágeis, gostam de escalar e pular. Elas têm origem na região montanhosa dos Andes, que é seca e fria, e são muito peludas. O pelo delas, infelizmente, chega a ser utilizado na fabricação de roupas e outros artigos de moda. O calor pode deixá-las estressadas, com dificuldades respiratórias e até levá-las à morte. A dica para refrescar o ambiente é bem simples: basta colocar uma garrafa com água bem gelada dentro ou próximo da gaiola. A sugestão é válida para outras espécies.
Já para o gerbil, o calor tropical não é um problema. O hábitat natural dele são as regiões desérticas da Àsia, como Mongolia, China e Manchúria. O bichinho precisa de pouca água e urina em pequenas quantidades, o que reduz odores. O vendedor André Gomes, 27 anos, tem nove gerbis. Ele e a namorada começaram a criar a espécie em 2008. “Eles são tranquilos, carinhosos e independentes. Os gastos são pequenos, uns R$ 30 ou R$ 40 por mês, e é muito fácil de cuidar deles em apartamento”, descreve. André afirma que os animais são resistentes e os que apresentaram questões de saúde são apenas os mais velhos, com mais de 4 anos. André já precisou levar gerbis para a remoção de uma glândula, localizada na barriga, utilizada para demarcação de território. Nessa espécie, um problema comum é essa glândula aumentar de tamanho e inflamar.
André considera uma vantagem ter um pequeno grupo de gerbis, pois eles são sociáveis e gostam de companhia. O único cuidado é separar os sexos, para evitar a reprodução descontrolada. Uma alternativa para evitar filhotes é a castração, geralmente realizada nos machos, pois o procedimento neles é mais simples do que nas fêmeas. A estudante Fernanda Tofoli, 24 anos, faz como André e deixa separados os seus 9 porquinhos da índia, que divide com o namorado.
A convivência exige cuidado redobrado com a saúde. “Quando um tem problema, você precisa tratar todos”, aponta Fernanda. Ela conta que os primeiros bichinhos que comprou vieram com fungo no pelo. Os roedores estão suscetíveis a infestação de ácaros, pulgas e outros parasitas, que prejudicam a pelagem e causam incômodo. Outras três porquinhas que Fernanda adotou vieram com pneumonia e duas delas não sobreviveram. Também é preciso evitar a obesidade e colocar os roedores para se exercitar: deixá-los soltos em um ambiente seguro, se possível todos os dias, por, pelo menos, meia hora. “E sempre com supervisão, para evitar acidentes domésticos, exposição a fios elétricos e outros objetos que eles possam roer e se machucar”, aconselha a veterinária Juliana Neves. Assim como nos humanos, os exercícios físicos proporcionam vários benefícios: evitam avanço da osteoporose e sobrecarga nas articulações, proporcionam estímulo mental, dificultando que os animas fiquem entediados ou apresentem distúrbios comportamentais, entre outras vantagens.
Fernanda acompanha os passeios dos animais de estimação. E eles não são poucos. Além dos 9 porquinhos da índia, ela tem três ratos twister, um hamster sírio e duas cachorras, uma labradora e uma vira-lata. Eles todos passeiam na grama da casa dela e interagem bem, sem problemas. A convivência entre diferentes espécies é mais fácil do que se imagina. Com uma rápida pesquisa na internet é possível encontrar vídeos adoráveis de ratinhos brincando com gatos e outros animais. Ainda assim, o dono não deve deixar os bichos desacompanhados enquanto brincam e é melhor colocar cada espécie em uma gaiola diferente, principalmente se elas tiverem dietas distintas. “Não dá para perder controle sobre a alimentação deles. Um porquinho da índia, que é herbívoro, pode acabar comendo comida de um rato, que é onívero, e tem a ração com traços de carne”, alerta Juliana.
Também é importante pesquisar as características de cada espécie. Os hamsters são mais territorialistas e têm maior chance de brigar, ou seja, vivem melhor sozinhos. A espécie é a que tem mais filhotes. A fêmea tem um novo cio a cada quatro dias e, a cada gestação, nascem entre cinco e nove hamsters. Para comparar, a porquinha da índia completa o mesmo processo a cada 15 dias.
Outros problemas comuns em roedores são constipações e diarreias— problemas geralmente reduzidos com uma alimentação rica em fibras—, sarna, micoses e gripe. Também ocorrem condições mais raras, como diabetes em hamsters e deficiências repiratórias crônicas em ratos, que interferem na expectativa de vida. Os porquinhos da índia têm deficiência de vitamina C e precisam de uma dieta rica em folhas escuras, como couve e rúcula, e até de suplementação. “A substância é importante na síntese de colágeno, e a falta dela provoca sintomas de escorbuto, como fragilidade da pele e sangramentos”, explica o veterinário Elber Costa. Ao envelhecer, os roedores ficam menos ativos, se locomovem e comem menos.