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Ao ler a publicação no Facebook, compartilhada por uma protetora, sobre um pequeno cachorro sem pelo, magro e doente, que seria sacrificado se não fosse adotado, sentiu seu coração clamar. Aceitou o desafio mesmo que já tivesse sob seus cuidados a Pequena. Buscou o animal, levou para casa escondido dos pais.
Os pais descobriram. Brigaram. Mas entenderam a importância do animal para a filha. O amor dela por aquele ser mobilizou todos ao seu redor: namorado, sogra, tios, avó, amigos. Um mutirão ajudava Giselle a dar mais qualidade de vida ao Nino. Quando tudo parecia ter abrandado, outro obstáculo surgiu. A casa em que o pet estava, de sua avó e tia, foi colocada para alugar devido ao falecimento das duas. Pela segunda vez, o animal ficou sem endereço. Não podia ir para o mesmo lar que a dona porque o pai dela tem alergia aguda. De novo, ela chorou, mas continuou firme em seu propósito. A separação de Nino não era uma opção. Após grande esforço, a família conseguiu uma nova casa para o cão, dessa vez na mesma rua em que residem.
Há cerca de um ano, Nino concedeu a maior felicidade para sua dona: voltou a andar. Por causa de um atropelamento, o animal teve a coluna fraturada e ficou sem os movimentos das patas traseiras. Hoje, Giselle consegue passear todos os dias com o pet. Como ainda não se recuperou totalmente, ele tem o auxílio de uma cadeirinha, espécide de prótese. “Religiosamente às 17h, ele fica me esperando no portão ansioso”, diverte-se.
O carinho da estudante pelos peludos transpôs a barreira que o namorado Marcellus Lopes, 22 anos, criou quando viu seu cachorro ser acidentado. Ao comparecer em um café da manhã na clínica de fisioterapia, local onde o Nino faz tratamento, conheceram a Nina. A jovem aconchegou a filhote nos braços do amado. “No mesmo momento, ela dormiu. Tenho certeza de que o coração dele se derreteu”, lembra a moça. Decidiram adotá-la e foi assim que começou uma espécie de guarda compartilhada.
Assim como Giselle e Marcellus, outros casais tomam a decisão de criar cachorros juntos. Andressa Nirvana e Salah Eddin, 22 e 29 anos, respectivamente, decidiram, há um ano e quatro meses, encarar o desafio. A ideia tomou forma quando o rapaz foi morar sozinho. Ele sempre quis ter um cão e achou que o momento era perfeito. Começou a estudar, aprendeu mais sobre adestramento, se dedicou à psicologia canina para entender a raça que mais se adaptava ao seu estilo de vida. Identificou-se com o border collie. Por meio de um anúncio na internet chegou ao Jazz, “o seu companheiro de quarto”.
A namorada foi surpreendida com o novo morador e se apaixonou na hora. Em suas palavras, o cachorro parece uma criança. “Ele sabe a hora de brincar, de ficar quieto”, descreve. Salah observava o comportamento da moça e a incentivou a ter o seu próprio pet. Foram à feira de adoção e escolheram a Pizza. Deram tratamento médico, boa alimentação, a companhia do Jazz, mas ela ficou doente. A partir daí, o sofrimento começou. A cinomose, virose que afeta carnívoros e tem alta taxa de mortalidade, estava avançada. O inevitável aconteceu, tiveram que decidir pela vida do animal. “Optamos pelo sacrifício”, recorda Salah.O processo de luto durou um bom tempo.
Após uns meses, Salah decidiu insistir na ideia de sua companheira ter um outro cachorro. Presenteou-a com uma filhote de beagle, a Serena. “Os dois animais interagem entre si. A relação que temos com eles é muito boa. Não o tratamos como humanos, mas me considero mãezona e o Salah um pai firme”, conta Andressa. Em quatro anos de namoro, Salah avalia que a presença dos animais fez a relação evoluir. “Acredito que a Pizza fez a Andressa amadurecer emocionalmente, pois ela teve que tomar decisões muito duras”, explica.
Sentimento idêntico ao que a aposentada Maria Beatriz Rosa nutria pela sua primeira cadela. Após tentativas frustradas de ser mãe, decidiu ter um pet. Ganhou uma poodle filhote de presente, batizada Jade.
De repente, a filhote passou a tossir compulsivamente. Iniciou-se um tratamento para o coração, mas o diagnóstico correto foi câncer de pulmão, em estado avançado. Na operação, ela não resistiu. O luto foi intenso. A cena da Jade perdendo os sinais vitais em seus braços a assombrava. Trovão, o filhote da cadela, procurava pela mãe. Tudo isso exacerbava o sentimento de perda.
“Nunca tinha visto um ser morrer. Foi diferente de uma pessoa, mas não menos dolorido”, rememora. O episódio aconteceu há cinco anos. Desde então, Beatriz continuou a criar Trovão. Se apegaram muito, pois no início da separação achou que o cachorro não iria superar a ausência da mãe. “Humanizamos muito a relação. Como não tenho filhos, acabo canalizando o cuidado, isso foi sempre bem escancarado. Mas é um envolvimento muito gostoso”, relata a aposentada.