Crianças que coçam muito os olhos podem desencadear astigmatismo

Pais podem evitar que o problema se manifeste na infância já que a coceira excessiva nos olhos pode ser resultado de alguma alergia preexistente

por Valéria Mendes 28/04/2015 11:01
SXC.hu / Banco de Imagens
Na infância, o astigmatismo é tratado com o uso de óculos (foto: SXC.hu / Banco de Imagens)
Ver uma criança coçando os olhos com muita força é uma cena que incomoda. Se o ato se repete com frequência os pais devem ficar atentos e procurar ajuda. Membro da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) e diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, o médico oftalmolotista Renato Augusto Neves afirma que meninos e meninas que insistem nesse hábito precisam da ajuda de um especialista já que a força dessa ação pode alterar o formato da curvatura da córnea e desencadear o astigmatismo. “Trata-se de um dos erros refrativos mais comuns, ao lado da miopia e da hipermetropia. Aliás, o astigmatismo costuma vir acompanhado de uma dessas duas condições. Apesar de ser uma condição herdada geneticamente, o problema também pode surgir em crianças e adolescentes que coçam vigorosamente os olhos – geralmente, resultado de alguma alergia preexistente”, afirma.

Segundo ele, a única forma possível de prevenção, já que o componente genético é forte, é evitar que a criança coce demais os olhos. “Uma vez começado, trata-se de um hábito de difícil contenção. Por isso, vale a pena fazer o diagnóstico da alergia e tratá-la para que esses episódios de coceira sejam mais espaçados ou nulos”, reforça.

A recomendação da SBO é que a primeira visita ao oftalmologista deva ocorrer antes de o bebê completar seis meses. Depois disso, de acordo com Renato Augusto Neves, a criança deve fazer exames de visão entre 2 e 3 anos e quando começar a fase de alfabetização, entre 5 e 7. Na adolescência, a visita ao médico deve acontecer entre 13 e 15 anos e, na fase adulta, a pessoa deve fazer exames oftalmológicos a cada dois anos ou anualmente (caso tenha algum problema detectado que precise de acompanhamento). “Quem usa óculos ou lentes de contato deve aferir o grau todos os anos, a fim de enxergar bem e manter uma boa qualidade de vida”, diz.

Pais podem ajudar
Renato Augusto Neves diz que os erros de refração podem ser percebidos pelos pais em determinados comportamentos das crianças. “No caso do astigmatismo, a criança poderá se queixar de dor de cabeça, forçar os olhos para tentar enxergar de longe e de perto – que indica que ela não vê com nitidez em nenhuma posição -, coçar demais os olhos, demonstrar desinteresse pela leitura ou por trabalhos manuais que exijam acuidade visual. Sempre que os pais virem um filho forçando demais a vista para enxergar melhor ou sentando muito próximo à TV, vale a pena consultar um oftalmologista”, observa.

Como se trata de uma imperfeição no formato da curvatura da córnea - que é a lente abaulada e transparente que protege a íris, a pupila e permite a entrada de luz para a formação das imagens -, o astigmatismo se manifestará em distorções e borrões na imagem final. Ou seja, a pessoa não vai enxergar com nitidez.

A ação de coçar os olhos com força e frequentemente contribuiu para o abaulamento da córnea. “Ao invés de arredondada por igual – permitindo a entrada regular e homogênea de luz para formação das imagens –, a córnea vai adquirir um formato ovalado, geralmente mais protuberante no centro. Isso tem impacto direto na formação das imagens”, detalha o médico.

Segundo ele, a coceira excessiva geralmente é sinal de alergia. “Pode ser alergia a poeira e poluição, ao pólen das flores, mas também a uma série de outros agentes causadores de coceira na pele. Por isso, além de procurar um oftalmologista, é importante fazer um tratamento com um médico alergista”, sugere.

Tratamento
Como o astigmatismo costuma aumentar com o tempo, na infância ele pode ser tratado com uso de óculos. Na adolescência, além dos óculos, o paciente também pode recorrer às lentes de contato. A cirurgia para corrigir o astigmatismo também pode ser uma opção. O oftalmologista diz que estudos apontam uma eficácia que varia entre 95,4% e 98%, dependendo da abordagem escolhida. “O ideal é estabilizar primeiramente o problema – bem como erros refrativos adicionais como miopia, por exemplo – para só então optar pela cirurgia a laser”.



Casos graves
O astigmatismo se manifesta mais comumente na adolescência já que o fator hereditário é forte. Como já dito anteriormente, é comum que esse erro de refração se manifeste acompanhado de hipermetropia ou miopia, dificuldade de enxergar de perto e de longe, respectivamente. No entanto, em alguns casos mais severos pode surgir isoladamente, como o ceratocone. Clique aqui e saiba mais sobre a doença.