Aos 31 anos, Carô Rennó se define como cantora lírica, modelo, candidata a mãe (está grávida de seis meses e meio) e... como uma alienígena ou na sua própria palavra, uma “caroalienígena”. É assim que se sente essa bela mulher de Itajubá, no Sul de Minas. Em todos os lugares por onde passa, pelos cantos do Brasil e do mundo, ela atrai olhares curiosos, sejam amistosos, críticos ou até de pena, por ser confundida com uma paciente de câncer sob os efeitos colaterais da quimioterapia.
Ao caminhar pelas ruas de Belo Horizonte, onde mora desde 2010, apresentando-se como mezzo-soprano pelo Coral Lírico de Minas Gerais ou no trio Caffeine, cantando com Syvia Klein e Renata Vanucci, seus dons e qualidades sobressaem menos do que uma característica única, que ela apresenta desde bebê. Carô nasceu totalmente sem cabelos e também sem pelos no restante do corpo, portadora da raríssima alopecia universal, que acomete menos de 1% da população feminina. Isso porque ela assumiu a calvície sem restrições, desde criança, com o apoio incondicional da mãe, a pedagoga Terezinha Estevam. “Eu era pequeninha quando apontei para uma pessoa na cadeira de rodas. Na hora, mamãe deu um tapa na minha mão e disse que eu veria pessoas mancas ou sem um braço ou carecas e que nunca deveria apontar para elas porque existe um monte de gente diferente neste mundo”, revela Carô, emocionada.
Quem convive com a cantora no dia a dia sabe que ela se importa pouco com a calvície, com a qual aprendeu a conviver desde o nascimento. “O fato de olharem para mim é supernormal, até porque é raro as pessoas virem uma mulher careca andando por aí. O que me incomoda é quando olham para mim e dissimulam, disfarçam como se não tivessem visto nada diferente. É um tipo de discriminação”, alerta a artista.
Carô também se sentiu constrangida quando um garoto de bem pequeno apontou para ela e a mãe riu, em vez de corrigir imediatamente. “Fiquei espantada com a reação da mãe, que perdeu uma boa oportunidade de ensinar o filho a lidar com as diferenças. Voltei lá e perguntei a ela porque estava rindo de mim. Os pais deveriam saber tratar esses casos com maior naturalidade”, ensina.
Carô não se percebe como portadora de uma anomalia genética, a ponto de recusar ser objeto de pós-graduação do médico e também cantor lírico de Belo Horizonte Alexandre de Castro Carvalho, especializado em dermatologia. “Mudei o tema da tese para não brigar com minha amiga, que não considera a alopecia doença, embora seja uma herança genética e poligênica (com vários gens relacionados) e associada a um componente autoimune, mas não incapacitante, alem do aspecto estético. É como se o organismo não reconhecesse o cabelo e passasse a produzir anticorpos para combater os folículos pilosos, causando a queda dos pelos”, explica.
Segundo ele, por se tratar de uma alopecia mais grave em relação à alopecia total (que afeta apenas o couro cabeludo), atingindo também as sobrancelhas e o restante dos pelos do corpo, além de provocar manchas na pele e alteração das unhas, dificilmente terá o quadro revertido.
Depois de descobrir a gravidez, Carô voltou a procurar orientação médica para saber as chances de a filha, Luz, nascer como ela. Já sabia que as chances são mínimas, até porque ela tem pai e mãe cabeludos. O irmão mais velho, Lucas, é também portador da alopecia universal e, ainda assim, praticava bullying com a menina, chamando-a de marciana na infância. “Aos 3 anos, eu e minha mãe tivemos de decidir se eu iria ou não usar uma peruca. Nem pensar”, sorri a moça, que se assume por inteira, poderosa. Às vezes, quando quer passar despercebida, inventa um chapéu coco ou um turbante.
UM ANJO SEM ASAS
É assim que o médico Alexandre qualifica a paciente, que ao contrário da maioria das mulheres, não conta com a ajuda dos cabelos para fazer a moldura do rosto: um anjo sem asas. “Como está sem pelos, ela precisa ter os traços até mais bonitos do que as outras modelos. Sua beleza é tão evidente até por ser diferente, o que lhe dá um certo encantamento. Parece um anjo”, elogia. A cantora, entretanto, não deseja ser reconhecida exatamente como uma mulher bonita. “Não é a beleza que estou buscando atualmente. Não quero ser linda, igual ao gordinho com rosto lindo. Quero apenas poder ser eu mesma e respeitada pelo que sou, independentemente de ter ou não cabelo, ou tatuagens ou dreadlocks”, diz.
Carô conta que, ao notar pessoas olhando insistentemente e apontando para ela do vidro do carro, costuma dar tchauzinho, embora nem sempre seja correspondida no cumprimento. Quando sente pais ou mães constrangidos diante da pergunta das crianças, ela mesma costuma oferecer a desculpa perfeita, antes que um dos dois ofereça a hipótese da perda de cabelos provocada por quimioterapia. Rindo, Carô argumenta que ‘tirou a cabeleira para lavar. E você, como é que lava os cabelos?”
Até hoje, o olhar que mais a marcou foi o de um menino de 9 anos dentro de um supermercado: “Primeiro, ele enxergou minha gravidez. Perguntou se tinha um bebê na minha barriga. Depois, perguntou por que eu era careca. Disse a ele a história de que havia entrado na fila de ganhar cabelos no céu e, quando chegou a minha vez, o produto tinha acabado. Ele então olhou bem para mim e fez uma pergunta que ninguém tinha feito ainda: Quantas pessoas havia ainda na fila atrás de você? Chorei de rir”, conta.
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Quem convive com a cantora no dia a dia sabe que ela se importa pouco com a calvície, com a qual aprendeu a conviver desde o nascimento. “O fato de olharem para mim é supernormal, até porque é raro as pessoas virem uma mulher careca andando por aí. O que me incomoda é quando olham para mim e dissimulam, disfarçam como se não tivessem visto nada diferente. É um tipo de discriminação”, alerta a artista.
Carô também se sentiu constrangida quando um garoto de bem pequeno apontou para ela e a mãe riu, em vez de corrigir imediatamente. “Fiquei espantada com a reação da mãe, que perdeu uma boa oportunidade de ensinar o filho a lidar com as diferenças. Voltei lá e perguntei a ela porque estava rindo de mim. Os pais deveriam saber tratar esses casos com maior naturalidade”, ensina.
Carô não se percebe como portadora de uma anomalia genética, a ponto de recusar ser objeto de pós-graduação do médico e também cantor lírico de Belo Horizonte Alexandre de Castro Carvalho, especializado em dermatologia. “Mudei o tema da tese para não brigar com minha amiga, que não considera a alopecia doença, embora seja uma herança genética e poligênica (com vários gens relacionados) e associada a um componente autoimune, mas não incapacitante, alem do aspecto estético. É como se o organismo não reconhecesse o cabelo e passasse a produzir anticorpos para combater os folículos pilosos, causando a queda dos pelos”, explica.
Segundo ele, por se tratar de uma alopecia mais grave em relação à alopecia total (que afeta apenas o couro cabeludo), atingindo também as sobrancelhas e o restante dos pelos do corpo, além de provocar manchas na pele e alteração das unhas, dificilmente terá o quadro revertido.
Depois de descobrir a gravidez, Carô voltou a procurar orientação médica para saber as chances de a filha, Luz, nascer como ela. Já sabia que as chances são mínimas, até porque ela tem pai e mãe cabeludos. O irmão mais velho, Lucas, é também portador da alopecia universal e, ainda assim, praticava bullying com a menina, chamando-a de marciana na infância. “Aos 3 anos, eu e minha mãe tivemos de decidir se eu iria ou não usar uma peruca. Nem pensar”, sorri a moça, que se assume por inteira, poderosa. Às vezes, quando quer passar despercebida, inventa um chapéu coco ou um turbante.
UM ANJO SEM ASAS
É assim que o médico Alexandre qualifica a paciente, que ao contrário da maioria das mulheres, não conta com a ajuda dos cabelos para fazer a moldura do rosto: um anjo sem asas. “Como está sem pelos, ela precisa ter os traços até mais bonitos do que as outras modelos. Sua beleza é tão evidente até por ser diferente, o que lhe dá um certo encantamento. Parece um anjo”, elogia. A cantora, entretanto, não deseja ser reconhecida exatamente como uma mulher bonita. “Não é a beleza que estou buscando atualmente. Não quero ser linda, igual ao gordinho com rosto lindo. Quero apenas poder ser eu mesma e respeitada pelo que sou, independentemente de ter ou não cabelo, ou tatuagens ou dreadlocks”, diz.
Carô conta que, ao notar pessoas olhando insistentemente e apontando para ela do vidro do carro, costuma dar tchauzinho, embora nem sempre seja correspondida no cumprimento. Quando sente pais ou mães constrangidos diante da pergunta das crianças, ela mesma costuma oferecer a desculpa perfeita, antes que um dos dois ofereça a hipótese da perda de cabelos provocada por quimioterapia. Rindo, Carô argumenta que ‘tirou a cabeleira para lavar. E você, como é que lava os cabelos?”
Até hoje, o olhar que mais a marcou foi o de um menino de 9 anos dentro de um supermercado: “Primeiro, ele enxergou minha gravidez. Perguntou se tinha um bebê na minha barriga. Depois, perguntou por que eu era careca. Disse a ele a história de que havia entrado na fila de ganhar cabelos no céu e, quando chegou a minha vez, o produto tinha acabado. Ele então olhou bem para mim e fez uma pergunta que ninguém tinha feito ainda: Quantas pessoas havia ainda na fila atrás de você? Chorei de rir”, conta.