A atriz e cantora Paola Alves Lopes, 30 anos, e o marido, Alexandre Périgo, 45, consultor de empresas em gestão de negócios e fotógrafo, já imaginavam o tom da repercussão que o ensaio que fizeram pelas ruas de Belo Horizonte com a gestante de lingerie geraria nos sites que noticiaram a história e também nas redes sociais. “Fizemos o ensaio para chocar e fazer uma crítica à tradicional família mineira. Nos incomoda muito a hipocrisia do pequeno burguês mineiro, se as fotos tivessem sido feitas no Rio de Janeiro, não teríamos 2% dessa reação”, afirma Périgo.
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O fotógrafo conta que recebeu centenas de questionamentos que basicamente giraram em torno da seguinte pergunta: Como você acha que fotos de uma mulher usando cinta liga nas ruas pode atacar o machismo? Em sua página no Facebook, Périgo se manifestou publicamente: “Entendo que o próprio estranhamento refletido na primeira pergunta já é parte de minha resposta. Como pode algo tão simples chocar a ponto de fazer as pessoas nos admoestarem (como aconteceu nas ruas durante o ensaio) e gerar questionamentos dessa natureza? Um homem sem camisa fotografado em Lourdes causaria tamanho espanto? Seguramente não, ou bem menos. Além de provocar esse espanto geral escancarando portanto o machismo embutido em todos nós, há no ensaio a intenção de empoderar a mulher, em especial a gestante, que não deve ser fragilizada e que pode SIM se vestir da forma que quiser sem que isso seja um automático passaporte para cantadas indesejadas. O "desfile" de Paola pelas ruas também colocou à prova a decadência do moralismo cristão, onde gestantes são sacralizadas e repudiadas sexualmente, pois como Paola de costas nem parece grávida, muitos homens a olhavam com desejo, mas quando ela se virava e mostrava a enorme barriga os olhares se modificavam imediatamente, como se acusassem uma culpa por desejar uma gestante. Hipocrisia no último nível”, escreveu.
Paola também não se diz surpresa com a visão maniqueísta a que o ensaio, que pretendia “ser uma homenagem a Leonardo e que tivesse a cara da gente”, foi reduzido: de costas, uma mulher que não se dá o respeito; de frente, a mãe de todos nós. Por outro lado, não imaginava o tamanho da repercussão: “Mostramos para os nossos amigos e achamos que ficaria no nosso mundinho só”, diz.
Outro adjetivo usado por quem não gostou do trabalho foi ‘apelativo’. Périgo também rebate: “Apelar é gritar "gostosa" para uma mulher que passa em silêncio na rua independentemente de seus trajes. (...) Apelar é chamar uma mulher livre de "puta" por sair com pouca roupa para um ensaio fotográfico! Afinal de contas, as fotos mostram efetivamente o quê mesmo além de um barrigão de gestante?”, questiona Alexandre Périgo.
Sexualidade e parto normal
O ensaio foi realizado na última sexta-feira (10/04) e Paola saiu às ruas preparada para as reações masculinas. Ela chegou, inclusive a ouvir de um homem “eu assumo o filho”. De reação positiva, apenas a de uma senhora que elogiou a forma física da atriz. “O ensaio só provou o que já sabíamos, o mineiro é machista e hipócrita”, sintetiza.
Paola narra que o projeto do casal levantou um tema que ela considera relevante para essa fase da vida da mulher: a sexualidade na gestação. “Muitas mulheres me procuraram dizendo que se sentem feias ou que os maridos não olham mais para elas e que, na verdade, elas sentiam desejam”, conta.
Alexandre Perigo concorda com o ponto de vista de Paola e acrescenta que se diz cansado dos ensaios clichês de gestantes - geralmente com o pai beijando a barriga da mãe ou a grávida segurando sapatinhos no barrigão. “São fotos que dessexualizam a mulher grávida como se ela fosse apenas uma encubadora”, afirma.
Paola é mãe de uma menina de 3 anos, Júlia, e Alexandre também já é pai de uma garotinha da mesma idade, Clara. O casal está junto desde que as crianças nasceram, moram no Bairro Lourdes, onde o metro quadrado é o mais caro de Belo Horizonte, e querem que Leonardo venha ao mundo na hora certa. “Meu projeto sempre foi o parto normal. Eu tive a Júlia dessa forma e a recuperação é muito boa”. A atriz tem o apoio do marido: “A cesárea é um procedimento de emergência”, reforça o fotógrafo que nasceu em São Paulo, mas desde 2011 vive na capital mineira.