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Para mostrar que o corpo feminino sempre foi e ainda é capaz de parir, na tentativa de contribuir para a mudança da percepção sobre o nascimento e incentivar a valorização do parto normal para a redução de cesarianas desnecessárias, a exposição Sentidos do Nascer estreia em Belo Horizonte no Dia Mundial da Saúde (7/04) no Parque Municipal e segue para o Shopping Boulevard em 4 de maio.
O projeto está entre os doze selecionados - de 183 trabalhos - pelo Ministério da Saúde (MS), Fundação Bill e Melinda Gates e pelo CNPq para receberem um incentivo financeiro que totalizou R$8,4 milhões. Foram escolhidas ideias com foco na contribuição para diminuir a alta taxa de nascimentos prematuros no país. Na sequência, a mostra irá para o Rio de Janeiro (junho e julho), Niterói (agosto) e Brasília (outubro).
Pediatra, epidemiologista e coordenadora da Comissão Perinatal da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Sônia Lansky é uma das idealizadoras do projeto e acredita que a transformação da realidade no nascimento no país passa pelo viés cultural. “Devemos mudar a forma como se nasce no Brasil. Sabemos que há efeitos graves para a saúde dos bebês, intervenções desnecessárias no corpo da mulher e no processo natural do parto que deixam uma carga negativa para esse momento tão importante. Precisamos empoderar a sociedade sobre o que deve ser feito para a proteção da infância, da saúde de mãe e filho”, afirma.
Experiência sensorial
Você sabe como nasceu? Se pudesse escolher, como teria sido? Já se imaginou esperando um bebê? Está grávida de um? Como gostaria que ele viesse ao mundo? A exposição Sentidos do Nascer é uma experiência interativa e sensorial na qual o visitante percorrerá cinco ambientes - da gravidez ao nascimento – e é uma oportunidade para refletir sobre o modelo de assistência ao parto no Brasil. Professor do programa de pós-graduação em História e Educação da Faculdade de Educação da UFMG (FAE-UFMG) e Historiador da Ciência, Bernardo Jefferson de Oliveira também está à frente do projeto. Para ele, a visitação vai proporcionar uma vivência instigante. “A exposição não é só para transmitir informação, ela pretende ser tocante”, afirma.
O percurso tem início no espaço intitulado Gestação. Nesse ambiente, uma tela de televisão fará uma projeção 3D da imagem do visitante, que se verá grávido; homens também poderão experimentar a sensação da gravidez. A experiência interativa ainda permitirá o registro do momento através de fotos que poderão ser compartilhadas nas redes sociais.
Na sequência, as pessoas entrarão no Mercado do Parto que faz uma crítica à forma como a gestação e o parto são tratados como um negócio comercial. Com produtos à venda e dispostos em gôndolas, os visitantes serão confrontados com o interesse econômico que permeia o nascimento no Brasil e que leva à massificação da experiência do parto que, por essência, é única.
As mensagens são levadas ao extremo e alcançam propositadamente o deboche para provocar a reflexão. É um momento de descontração e desconstrução de discursos prontos. Monitores apresentam por exemplo, o produto 'Big Brother do Bebê' que faz uma crítica à separação mãe e filho, prática recorrente nas maternidades brasileiras, com a seguinte mensagem: “Pra quê colo de mãe? Na Maternidade Cirúrgica você e sua família podem descansar em paz enquanto seu filho chora sozinho no nosso berçário”.
Você sabia que 70% das mulheres querem parto normal logo que engravidam? O Controvérsias é o marco da exposição Sentidos do Nascer, um espaço para o diálogo entre os sujeitos que comumente opinam e influenciam a decisão da mulher sobre a via de parto: cirúrgica ou normal. Um vídeo elaborado exclusivamente para a exposição coloca para conversar personagens que resumem a multiplicidade de pontos de vistas e argumentam contra ou a favor do parto normal.
Com linguagem simples e direta, o produto audiovisual simula o que os casais grávidos costumam ouvir durante a gestação: aquele que defende a cesariana marcada por desacreditar na capacidade do corpo feminino em parir, a mulher que viveu a experiência de um parto humanizado e fala sobre o protagonismo feminino no trabalho de parto, o obstetra que promete tentar o parto normal, mas coloca inúmeros empecilhos; o pediatra que explica os benefícios do parto normal para a saúde do bebê; a doula que se apresenta como alguém que ajuda no trabalho emocional das gestantes; a enfermeira obstétrica que explica as formas não farmacológicas de alívio de dor e tantos outros que comumente entram em cena na vida de um casal grávido.
Após o vídeo, o público segue para a experiência sensorial do Nascimento. Nesse ambiente, os visitantes ouvirão sons de batimentos cardíacos e ruídos de água que reproduzem os barulhos internos que a criança ouve quando está no ventre da mãe. Os visitantes simularão a entrada no útero e passarão pelo canal de parto como se fossem bebês. Ao final, serão recebidos pela imagem de uma mulher de braços estendidos que representa a mãe de cada um.
Por último, o público se encontrará no espaço Conversas, uma área de convivência em que será possível se aprofundar nos temas abordados na exposição e trocar experiências. Além disso, quem quiser poderá deixar um depoimento que será registrado em vídeo. É uma oportunidade para que cada visitante coloque sua voz nesse amplo debate.
A exceção que virou regra
A cesariana é uma cirurgia para salvar vidas mas, no Brasil, de exceção virou a regra. Você sabia que esse procedimento cirúrgico, quando feito de forma agendada, triplica o risco de mortalidade materna e que aumenta em até 120 vezes a probabilidade de o bebê nascer prematuro? No modelo atual de assistência obstétrica, a taxa de cesarianas na rede privada beira os 90%, frente uma recomendação da Organização Mundial de Saúde de, no máximo, 15%.
A banalização do procedimento nos leva a presenciar um índice de prematuridade de 12,5%; nascer antes da 37ª semana é a principal causa de morte de crianças no primeiro mês de vida. Também não conseguimos reduzir a mortalidade materna para 35 óbitos a cada 100 mil partos e alcançar a meta número cinco dos Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 2015. Amargamos ainda a informação de que uma em cada quatro brasileiras é vítima de violência obstétrica e ignoramos as consequências para a vida adulta de nascer antes da hora: obesidade e doenças crônicas como diabetes, hipertensão e alergias, para citar algumas.
E mesmo a mulher que consegue ter parto normal no Brasil está sujeita a uma infinidade de intervenções que influenciam na evolução natural do trabalho de parto como o corte entre a vagina e o ânus (episiotomia) questionado pelas evidências científicas desde a década de 70 como ineficaz para facilitar a saída do bebê e a adoção da posição ginecológica (deitada com pernas abertas) que impede a movimentação da mulher e, por consequência, dificulta as contrações do útero, aumenta a dor e prolonga o processo de nascimento. No país, apenas 5% dos partos são natural, ou seja, sem nenhuma intervenção.
Belo Horizonte:
Local: Parque Municipal Américo Renné Giannetti
Funcionamento: 07 a 26 de abril, das 10 às 18h.
Local: Shopping Boulevard
Funcionamento: 04 a 30 de maio, segunda a sábado das 10h às 21h e domingo das 10h às 20h
Outras capitais:
Rio de Janeiro: junho e julho
Niterói: agosto
Brasília: outubro
MAIS INFORMAÇÕES:
sentidosdonascer.org