O real pavor de embarcar pode se agravar depois da ocorrência de episódios isolados como do copiloto da Germanwings, que se suicidou na semana passada ao derrubar um Airbus A320 nos alpes franceses com outras 149 pessoas. “Se já havia milhões de pessoas com medo de voar, imagine agora. Quem já era fóbico potencializa”, explica o psiquiatra Cristiano Nabuco, professor da Universidade de São Paulo (USP). Ele e um grupo de colegas acabam de lançar um método experimental de tratamento de combate à fobia de voar de avião com o apoio de novas tecnologias.
Estudioso do vício em games, Nabuco desenvolveu uma ferramenta virtual com o uso de óculos 3D acoplado a um programa simulador de voo. A engenhoca reproduz passo a passo todas as fases de uma viagem de avião, desde o check-in até a passagem pelo raio-x, enfrentamento de turbulências e, finalmente, a saída da aeronave. “O paciente fica sentado em uma poltrona de avião que oscila com os comandos e emite sons. O sistema vai monitorando os sinais vitais do passageiro virtual, que é exposto a todas as fases do voo até que consiga superar o medo”, diz o professor, lembrando que os games usados como base para a saúde mental já foram testados para tratar o medo de altura, com 100% de êxito, segundo o especialista.
A principal diferença em relação à chamada terapia de exposição, em que o paciente fecha os olhos e é orientado a reviver as cenas que teme, é que o equipamento permite controlar a ansiedade por meio do manete, ou joystick. “Isso evita que eles desistam antes de atingir o mais alto grau de fobia. Quem tem muito medo costuma paralisar, o que o impede de atravessar todas as barreiras imaginárias”, afirma o professor, lembrando que a maioria dos fóbicos manifesta quadros anteriores de ansiedade e ataques de pânico.
Inicialmente, o tratamento experimental será oferecido a partir desta semana, em 12 etapas, pelo Núcleo de Terapias Virtuais, em São Paulo, com a meta de ser implantado em outras universidades no Brasil. Segundo a literatura médica, a aviofobia não é um sentimento só de pessoas que nunca viajaram de avião, mas afeta indiscriminadamente novatos e veteranos. Há casos de pessoas que têm insônia na véspera da viagem, algumas deixam de voar e outras, simplesmente, desenvolvem repertórios de superstições para “aliviar” a situação causadora da fobia, incluindo a ingestão de calmantes e de bebidas alcoólicas.
'ATERRORISSAGEM'
“Costumo dizer que sou muito corajoso, mas no chão. No ar, não sou ninguém”, admite, bem-humorado, o maratonista José Teixeira de Souza, de 61 anos. Ele é um daqueles casos crônicos, que só aceitam viajar de avião em último caso. No ano passado, nas férias a Porto Seguro, na Bahia, Teixeira optou por encarar 11 horas de ônibus nas estradas esburacadas, em vez de enfrentar uma hora de voo. Outra história que se tornou lenda na família aconteceu em 2007, quando Teixeira ficou perdido na Serra do Curral com grupo de pessoas, ao fazer uma trilha ecológica na mata. No resgate por helicóptero dos Bombeiros, o maratonista dispensou o conforto de voltar voando. Preferiu andar por mais duas horas, ajudado pelos guias. “Só tenho dois medos de voar: na 'degolagem' e na 'aterrorissagem'”, torna a brincar, referindo-se à decolagem e à aterrissagem.