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O tecido cardíaco de mamíferos tem a capacidade limitada de se regenerar. Segundo Ed Morrisey, diretor científico do Instituto de Medicina Regenerativa da Escola Perelman de Medicina da universidade, isso acontece, em parte, devido à incapacidade para reativar um programa de proliferação de células do músculo cardíaco. Estudos anteriores indicam baixo nível de proliferação de células desse músculo, as cardiomiócitos, em mamíferos adultos, o que é insuficiente para reparar o coração danificado.
A equipe de Morrisey mostrou, a partir de experimentos com camundongos, que um subconjunto de moléculas de RNA, chamado microRNAs, é importante para a proliferação celular durante o desenvolvimento dos cardiomiócitos. Mais que isso: seria suficiente para induzir a proliferação dessas células musculares no coração de animais adultos.
A perda do aglomerado de microRNA miR302-367 nas cobaias levou à diminuição da proliferação celular durante o desenvolvimento dos cardiomiócitos. Contudo, o aumento da expressão do aglomerado no coração adulto levou à reativação da proliferação.
Esse processo aconteceu pela repressão da via hippo, que reprime a proliferação celular quando ligada. “O aglomerado miR302-367 mirou nos três dos principais componentes da hippo, reduzindo sua atividade, o que permite que os cardiomiócitos sejam reinseridos no ciclo celular e comecem a rejuvenescer o músculo cardíaco”, detalha Morrisey. Seria a repressão de um repressor.
Riscos
Em ratos adultos, essa “re-expressão” do aglomerado de microRNA resultou na formação de cicatriz reduzida no miocárdio após infarto. Nos mesmos bichos, houve aumento do número de cardiomiócitos. Porém, a expressão a longo prazo das moléculas genéticas fez com que algumas células do músculo cardíaco se tornassem menos funcionais. “Isso nos sugere que a reativação persistente do ciclo celular em cardiomiócitos adultos pode ser prejudicial e fazer com que o coração falhe”, explica Morrisey.
Os investigadores suspeitam que essas células provavelmente precisarão se diferenciar de volta, mas há o risco de perderem a capacidade de se contrair. “Nós superamos essa limitação com a injeção de microRNAs sintéticos com uma meia-vida curta.” Imitar o tratamento por sete dias após o infarto levou ao aumento na proliferação de cardiomiócitos, que “brotaram” novamente no músculo cardíaco, resultando a diminuição da fibrose e na melhora das funções do coração.
Vice-presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro (Socerj), Ricardo Mourilhe explica que o microRNA é a partícula de um DNA com centenas de RNAs, sendo que a maior parte deles é estudada como marcadores de doenças e de processos inflamatórios. Ele tem uma linha de pesquisa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro focada em dois microRNAs como marcadores do risco de morte por cardiomiopatia hipertrófica.
Para Mourilhe, é preciso considerar que nem sempre o que dá certo em camundongos também funciona com animais maiores. “É apenas o primeiro passo de milhares que ainda precisam ser alcançados para saber a aplicabilidade desse trabalho. Mas isso é muito distante ainda. Tirar da bancada e chegar ao ser humano leva entre cinco e 10 anos.”
"É apenas o primeiro passo de milhares que ainda precisam ser alcançados para saber a aplicabilidade desse trabalho (…) Tirar da bancada e chegar ao ser humano leva entre cinco e 10 anos” - Ricardo Mourilhe, vice-presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro