Pensando principalmente na filha de 7 anos, a médica marcou para julho a cirurgia preventiva de ooforectomia para a retirada do útero e dos ovários. Em setembro passado, já havia se submetido à extração e reconstrução das mamas com próteses, devido ao aparecimento de um nódulo de 2,5 cm na biópsia. Casos como de Angelina e Andréa, que registram a ocorrência de cânceres na família em primeiro grau antes de 40 anos, a operação é tida como altamente recomendável por especialistas. Classificadas como pacientes de alto risco, elas apresentam até 30 vezes mais chance de desenvolver a doença ao longo da vida. Para a atriz norte-americana, a probabilidade era de cerca de 90%.
“Não adianta chegarem ao consultório jovens de 18 anos apavoradas, dizendo que a tia teve câncer e que querem tirar as mamas porque ouviram falar do caso da Angelina Jolie. Não adianta insistir, porque, nesses casos, não é indicado”, alerta Clécio de Lucena, presidente da regional mineira da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Segundo o médico, a cada divulgação dos procedimentos da atriz, dobra a procura nos consultórios em Minas por cirurgias profiláticas contra o câncer. Só há indicação desse tipo de procedimento em pacientes cuja mãe, irmãs ou filhas já manifestaram a doença antes dos 40 anos, em casos próximos de câncer de mama masculinos ou para descendentes de judeus e de europeus da Escandinávia.
Os números comprovam que 85% a 90% das pacientes foram as primeiras da família a desenvolver a doença. Ainda assim, se for enquadrada como sendo de alto risco conforme modelos matemáticos, a paciente será encaminhada a um geneticista para mapeamento cuidadoso. “Se a paciente tiver a mutação no gene, dependendo do histórico familiar, a melhor opção é a retirada dos ovários e posterior reposição hormonal, que é totalmente segura se feita antes dos 50 anos. Se não fizer isso, ela poderá se arrepender depois, como ocorreu com a Angelina Jolie”, defende o oncologista André Murad, professor da faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele lembra que, nem mesmo a retirada total das mamas, ovários, trompas e útero garante 100% de proteção. “Já tive casos em que o mamilo foi preservado na cirurgia e, depois de dois anos, o câncer voltou”, afirma.
SINAIS PRECOCES “Disse a mim mesma para ficar calma, ser forte e que não tinha razões para pensar que não viveria para ver meus filhos crescerem e conhecer meus netos”, escreveu Angelina Jolie, que, ao fazer exame de sangue, detectou um possível sinal precoce da doença. Sua mãe morreu de câncer no ovário e sua avó materna também teve o mesmo tipo de tumor, evidências fortes de um risco genético herdado que levaram a atriz a passar por um mapeamento genético, que detectou o gene defeituoso, conhecido como BRCA1.
O artigo da atriz norte-americana, publicado ontem no New York Times, deixa claro a angústia que os resultados dos exames de sangue trouxeram. Angelina conta que telefonou imediatamente para seu marido, o ator Brad Pitt, que voltou da França em algumas horas. O procedimento coloca a mulher na menopausa e a atriz escreveu que busca medicamentos alternativos e um tratamento de reposição hormonal. “Quero que outras mulheres em risco saibam a respeito das opções. Prometi divulgar qualquer informação que pudesse ser útil, o que inclui minha cirurgia preventiva, a remoção de meus ovários e trompas”.