Pesquisas anteriores descobriram que as pessoas que tendem a comer no fim da manhã e ao longo da noite têm risco maior de desenvolver doenças cardíacas do que aquelas que encerram a alimentação mais cedo. “Então, o que acontece quando as pessoas comem tarde? Elas não estão mudando sua dieta, apenas a hora em que comem”, analisa Girish Melkani, biólogo que tem como foco a fisiologia cardiovascular.
Com Satchidananda Panda, um dos maiores especialistas em ciclo circadiano dos Estados Unidos, Melkani foi atrás da resposta para seu questionamento. Para isso, utilizou moscas-da-fruta, um modelo comum para o estudo sobre as bases genéticas das doenças que atingem humanos, incluindo os males cardiovasculares. No experimento, um grupo de moscas de duas semanas recebeu uma dieta padrão de cereais de milho, colocados à disposição delas ao longo de todo o dia. Outro grupo tinha acesso à comida por apenas 12 horas por dia.
Ao longo de diversas semanas, os cientistas registraram a quantidade de alimento ingeridos e fizeram uma bateria de testes para medir o sono, o peso corporal e a fisiologia cardíaca dos insetos. Três semanas depois, vieram os resultados: as moscas do segundo grupo dormiam melhor, não ganharam tanto peso e tinham corações muito mais saudáveis do que aquelas que comiam quando queriam. Isso mesmo quando ingeriam a mesma quantidade de comida. Passadas cinco semanas, os resultados se mantiveram.
Outra bateria de experimentos revelou que os benefícios de uma dieta restritiva no sentido da disponibilidade de alimentos não eram exclusivos das moscas jovens. Quando os pesquisadores introduziram essas restrições de horário para insetos mais velhos, o coração deles ficou mais saudável também — o tempo de vida médio de uma mosca-da-fruta é de 30 dias. “Algum grau de proteção cardíaca persistiu mesmo para moscas que, depois, voltaram ao hábito de comer sempre que queriam”, disse Melkani.
Padrões genéticos
Em seguida, os pesquisadores sequenciaram o RNA das moscas em vários pontos do experimento para descobrir quais genes haviam mudado como resultado da alimentação de horário restrito. Eles identificaram três padrões genéticos aparentemente envolvidos, sendo que um desses é responsável pelo ritmo circadiano. Melkani repetiu os testes usando moscas mutantes, com versões não funcionais dos genes. Nesses insetos, restringir o tempo de ingestão de alimentos não se converteu em benefícios à saúde.
“Juntos, esses resultados reforçam a ideia de que o padrão alimentar diário tem um impacto profundo sobre o corpo e o cérebro”, diz Panda. Antes que o resultado seja extrapolado para humanos, é preciso fazer outros estudos. “Nós não comemos o mesmo tipo de comida todos os dias. E nosso estilo de vida é o maior determinante sobre quando podemos ou não comer”, lembra o cientista. Mas, se a constatação se confirmar, ele diz que há motivos de otimismo. “Restringir o horário da alimentação não é uma mudança tão drástica no estilo de vida das pessoas”, afirma, deixando um recado: “A dica é cortar os lanches de tarde da noite”.
"Restringir o horário da alimentação não é uma mudança tão drástica no estilo de vida das pessoas (…) A dica é cortar os lanches de tarde da noite” - Satchidananda Panda, especialistas em ciclo circadiano