
Das 2,618 milhões de pessoas que receberam terapia renal substitutiva (TRS) em 2010, 78% foram submetidos à diálise. Do total de pacientes tratados, 92,8% residiam em países de alta e média rendas. Os 7,2% restantes viviam em nações de renda média-baixa e baixa. Nesse contexto, China, Índia, Indonésia, Paquistão e Nigéria chamam a atenção: menos de 25% dos doentes elegíveis para o tratamento não tiveram acesso a ele.
Vlado Perkovic, principal autor do estudo, explica que a razão para tamanha disparidade é econômica. Isso porque o custo da diálise varia de US$ 20 mil a US$ 100 mil anuais por paciente. O transplante, ainda que menos caro, é dificultado pela escassez de doadores universais e pela falta de infraestrutura.
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Problemas no SUS
No Brasil, 20 milhões de brasileiros sofrem com a doença renal, sendo que 100 mil precisam de diálise. A média de atendimento é de 500 a 999 pacientes atendidos a cada milhão de habitantes. Na Índia, na Indonésia e na África, os dados são quase alarmantes: menos de 50 pessoas são tratadas a cada milhão. Na China, na Rússia, na Bolívia, no Peru e na Venezuela, os números são menos piores, com 100 a 499 pessoas tratadas.
Embora o Brasil tenha economia semelhante à do México e um Sistema Único de Saúde (SUS), fica atrás do vizinho latino, que trata de 1.000 a 1.999 pacientes a cada milhão de pessoas. As estatísticas mexicanas — que representam o cuidado para quase metade dos pacientes renais que procuram atendimento — são comparáveis às de países como Canadá e Estados Unidos.
O nefrologista Hélio Vida Cassi, presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), explica que o Brasil sofre com uma sobrecarga nas clínicas credenciadas pelo SUS para realizar as TRS. “Elas não têm recursos para fazer investimentos em equipamentos e pessoal treinado. O Ministério da Saúde repassa R$ 179,03 para cada sessão de diálise, mas o custo planilhado fica entre R$ 220 e R$230”, analisa o especialista, prevendo uma piora na situação porque a maior parte dos insumos utilizados para a terapia é importada, o que é desfavorável em um cenário de alta do dólar.
Segundo Carmen Tzanno Branco Martins, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), há no país apenas 750 clínicas. “Nos últimos 10 anos, o número de doentes aumentou 134% e o de estabelecimentos especializados, 40%.” Diante dos problemas relacionados aos custos do tratamento, tanto no Brasil quanto em países de situação econômica semelhante, Perkovic alerta para a urgência de encontrar soluções eficientes para conter o avanço das doenças crônicas renais.
“Como o número de pessoas que recebem diálise ou transplante de rim deve dobrar e chegar a mais de 5 milhões em 2030, há necessidade de encontrar técnicas de diálise de baixo custo, bem como programas de prevenção que atinjam toda a população e ajudem a enfrentar os principais fatores de risco para a fase final das doenças renais, como hipertensão arterial e obesidade”, defende o autor.
"Como o número de pessoas que recebem diálise ou transplante de rim deve dobrar e chegar a mais de 5 milhões em 2030, há necessidade de encontrar técnicas de diálise de baixo custo, bem como programas de prevenção que atinjam toda a população” - Vlado Perkovic, pesquisador da Universidade de Sidney