Na papinha de Manuela Gontijo, 6 meses, a maioria das frutas e verduras é orgânica. Ela é a caçula e tem dois irmãos, Davi, 4, e Samuel, 8. Os pais da turma se esforçam para testar receitas diferentes e reduzir a quantidade de agrotóxicos, açúcar, sódio, produtos refinados e industrializados de modo geral. Refrigerante e suco de caixinha não entram na lista de compras. “Comer e preparar comida de verdade dá mais trabalho. Gasta tempo, suja louça, mas dá mais prazer!”, incentiva a mãe, a bióloga Isabella, 29.
Ela participou de um curso de papinhas saudáveis para se atualizar no assunto. Entre as dicas que recebeu, destaca que é melhor dar preferência às frutas adaptadas ao clima brasileiro, como laranja-lima e acerola. As típicas de ambientes mais frios, como o kiwi e a pêra, tendem a precisar de mais aditivos para serem produzidas. Outra questão importante é conhecer as características dos alimentos orgânicos, para ter maior certeza de que está adquirindo o produto certo. Eles geralmente são menores e têm prazo de validade mais curto.
A mãe também viu novidades na forma de oferecer os alimentos. Isabella conta que, com o filho mais velho, a orientação era preparar as papinhas no liquidificador. Mas as atuais recomendações são de apenas amassar os ingredientes com um garfo. Com o passar dos meses, a ideia é dar os alimentos inteiros. “As papinhas industrializadas não tem consistência correta, geralmente são mais líquidas”, destaca a equipe de nutricionistas que ofereceu o curso, Bruna Nunes, Camila Araújo e Thaise Flores.
Os alimentos prontos para os bebês tem menor variedade de ingredientes e texturas do que os preparados em casa e contêm mais água. O estômago pequeno se enche mais com o líquido do que com a comida em si. “Vale a pena usar somente em casos extremos de falta de tempo”, apontam. A mamadeira também não é recomendada. “Ela não estimula a mastigação e é difícil de higienizar. É melhor dar um copo com biquinho para estimular a sucção.”
A falta desses estímulos pode prejudicar hábitos futuros. “Têm crianças mais velhas, de 3 anos, que só comem fruta amassada”, relata a nutricionista Fernanda Monteiro, especialista em nutrição materno-infantil. Ela destaca que é melhor reduzir os industrializados de modo geral, pois eles contêm aditivos, como conservantes e corantes potencialmente alergênicos. Outro aspecto importante são os recipientes de plástico, que devem ser próprios para uso no micro-ondas. Caso contrário, podem liberar substâncias nocivas quando aquecidos, como o Bisfenol A (BPA), que provoca alterações hormonais.
Para facilitar a vida das mamães, o congelamento das receitas é uma solução. “Se os pais forem viajar ou ficar fora de casa, eu recomendo fazer papinha de pelo menos dois sabores e congelar”, indica Fernanda, que ensina o passo a passo do processo. Primeiro, é preciso colocar a comida em um pote e deixar para resfriar na geladeira sem tampar. O calor provoca e evaporação e, se o recipiente estiver fechado, cria um ambiente mais úmido e propício para o desenvolvimento de bactérias. Depois de frio, o ideal é pegar uma etiqueta e escrever os ingredientes, a data de fabricação e a validade. Fernanda aconselha conservar, no máximo, por 21 dias. O processo não provoca perda de nutrientes, apesar de poder reduzir outras características, como a consistência dos alimentos.
A higiene também é um cuidado fundamental. “No início, é melhor limpar os utensílios da criança separadamente, porque ela ainda não tem as defesas do organismo muito desenvolvidas”, ressalta a equipe de nutricionistas. Tudo deve ser lavado de preferência com água filtrada e sabão neutro. Depois dessas precauções, é hora de apresentar os novos sabores. É comum os pais ficarem apreensivos com a aceitação da comida. “É super normal o bebê rejeitar da primeira vez. Quando isso acontece, é recomendável repetir de formas diferentes”, tranquilizam. A cenoura crua, por exemplo, pode vir no bolo ou no suflê. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) estima que, em média, sejam necessárias de oito a 15 exposições a um alimento até que ele seja plenamente aceito. Mas, se depois de todas as tentativas, o filho continuar mostrando que não aprecie do ingrediente, é importante respeitar o gosto pessoal dele.
Para diminuir as chances de resistência, uma dica é oferecer primeiro as papas salgadas. “O bebê prova os sabores mais diferentes primeiros e tem menos risco de rejeição”, explica a equipe. O ideal é dar os alimentos separados e repetir por dois dias seguidos. Assim, a criança consegue reconhecer melhor o gosto e fica mais fácil identificar a origem de uma reação alérgica, que pode demorar de dois a três dias para aparecer.
Cada grupo alimentar — cereais e tubérculos, hortaliças e frutas, carnes e ovos e grãos — deve ser introduzido aos poucos, de forma balanceada. O desequilíbrio provoca consequências de longo prazo. A SBP aponta que o excesso de carboidratos e lipídios predispõem a doenças crônicas como obesidade e diabetes tipo 2.
A quantidade é outro fator que gera muitas dúvidas. A capacidade gástrica do bebê é bastante pequena, cerca de 250ml no total ou 35ml por quilo. Assim, os pais podem achar que a criança não comeu o suficiente quando, na verdade, ela está satisfeita. Nessa fase inicial, é bom deixar a criança brincar com os alimentos. “É saudável pegar na comida, sentir, cheirar”, destaca a nutricionista Fernanda Monteiro.
Papinha de inhame, beterraba e frango*
Ingredientes:
2 colheres (sopa) de carne de frango picada
1 inhame grandes (75g) descascado e picados em cubos médios
1/2 beterraba grande (80g) descascados e picados em cubos médios
1 colher (sobremesa) de azeite extra virgem
1 colher (chá) de cebola ralada
1 colher (café) de sal (opcional)
Modo de preparo: em uma panela pequena, aqueça o óleo e refogue rapidamente a cebola e o frango. Acrescente os demais ingredientes e água suficiente para cobrir o preparo. Coloque a tampa. Deixe cozinhar em fogo brando até que os ingredientes estejam macios e quase sem água. Se necessário, acrescente mais água para que os alimentos fiquem bem macios. Para servir, coloque os alimentos separadamente no prato da criança e a incentive a comê-los separadamente para estimular as diferentes texturas, sabores e cores.
Observação: a beterraba deve estar bem macia. Por isso, o cozimento precisa ser feito em fogo brando (demora um pouco mais). Lembre-se de que esses alimentos devem estar muito bem higienizados e descascados.
*Receita elaborada pela equipe do Medida Caseira
Dicas preciosas
O Ministério da Saúde indica 10 passos para a alimentação saudável:
- Dê somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outro alimento;
- A partir dos 6 meses, introduza de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo-se o leite materno até os 2 anos de idade ou mais;
- Após os 6 meses, dê alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia, se a criança estiver em aleitamento materno;
- A alimentação deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite do pequeno;
- A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher. Comece com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumente a consistência até chegar à consistência oferecida ao restante da família;
- Ofereça à criança diferentes alimentos todos os dia. Variedade supõe uma alimentação colorida;
- Estimule o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições;
- Evite açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Use sal com moderação;
- Cuide da higiene no preparo e manuseio dos alimentos. Garanta o armazenamento e a conservação adequados;
- Estimule a criança doente a comer, oferecendo a alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a aceitação dela.