Os arquivos mostram que "em 1950, uma organização representando 30 membros internacionais da indústria açucareira aceitou que o açúcar causava o desgaste dos dentes", destacou o estudo, chefiado por especialistas da Universidade da Califórnia, que descobriram os documentos.
Por volta de 1969, o Instituto Nacional de Saúde decidiu que a redução do consumo de açúcar, "embora fosse teoricamente possível", não era prática do ponto de vista da saúde pública, disseram os pesquisadores.
Representantes da indústria do açúcar passaram a trabalhar de maneira estreita com o Instituto, principal polo de pesquisas do governo dos EUA, buscando abordagens alternativas.
O estudo descobriu que 78% das prioridades de pesquisa da indústria açucareira foram diretamente incorporadas nas diretrizes de investigação do Programa Nacional contra a Cárie, lançado em 1971. "A comunidade odontológica sempre soube que prevenir a cárie passava pela redução do consumo de doces", afirmou Cristin Kearns, principal autora do estudo. "Foi desapontador descobrir que as políticas debatidas hoje poderiam ter sido discutidas e aplicadas há mais de 40 anos", acrescentou.
Kearns e seus colegas compararam os arquivos - que incluíam 1.551 páginas de correspondências entre executivos da indústria do açúcar entre 1959 e 1971 - com documentos do então Instituto Nacional de Pesquisa Dentária, para explorar como a indústria do açúcar pode ter influenciado as diretrizes de pesquisa do programa de 1971.
Os cientistas descobriram que a indústria do açúcar financiou pesquisas com enzimas para combater a placa e uma vacina contra a cárie, e "mantiveram relações com o Instituto Nacional de Saúde".
"Estas táticas são muito parecidas com as então empregadas pela indústria do tabaco", disse o co-autor do estudo Stanton Glantz.
Os pesquisadores também descobriram que os esforços perpetrados pela indústria do açúcar "não conseguiram produzir resultados" no que diz respeito à prevenção contra às cáries, problema que afeta metade dos adultos dos Estados Unidos e é a principal doença crônica entre as crianças.
Ronald Burakoff, chefe do departamento de medicina dental do Hospital Universitário North Shore, em Manhasset, Nova York, disse que o estudo é "bastante perturbador".
A pesquisa sugere uma "conspiração para afastar a pauta de pesquisas sobre cáries do consumo de açúcar, a fim de mitigar os efeitos sobre a indústria", avaliou Burakoff, que não participou do estudo.
"Os paralelos com a negação dos males provocados pelo cigarro praticada pela indústria do tabaco são alarmantes".
Procurado pela AFP para comentar os resultados da pesquisa, o Instituto Nacional de Pesquisa Dental e Craniofacial - que sucedeu o Instituto Nacional de Saúde - não se manifestou.