Os pesquisadores constataram que, descontada qualquer outra variável, a forma física ruim eleva consideravelmente o risco de óbito em uma década. Pessoas que se saíram muito mal apresentaram risco de 38% de morrer em 10 anos, um percentual que caiu para 2% no caso das que tiveram desempenho excelente. O novo algoritmo foi descrito na edição de ontem da revista Mayo Clinic Proceedings, da Clínica Mayo, e é o primeiro sistema a medir o risco de morte em curto prazo não apenas entre pacientes cardíacos, mas em relação à população em geral. Além disso, o escore independe de exames como eletrocardiograma, geralmente indicados para verificar a saúde do coração.
“A noção de que estar em boa forma física prenuncia um baixo risco de morte não é, de forma alguma, novo, mas queríamos quantificar esse risco precisamente por idade, gênero e nível de aptidão física. Fizemos isso com uma simples equação que não requer outros testes além do exame de esforço”, disse Haitham Ahmed, cardiologista da Universidade de Medicina de Johns Hopkins e principal autor do estudo. Além de idade e gênero, a fórmula considera os batimentos cardíacos alcançados durante o exercício intenso e a habilidade de tolerar o esforço físico, medido pelos chamados equivalentes metabólicos, ou METs, uma indicação de quanta energia o corpo gasta durante o exercício.
Atividades mais vigorosas requerem um gasto maior de energia, melhor tolerância ao esforço e nível de adequação física mais alto. Uma atividade como caminhar vagarosamente equivale a dois METs, enquanto correr vale oito METs. “O escore FIT é tão fácil de calcular e não custa nada além do próprio teste de esforço”, disse Michael Blaha, diretor de pesquisa clínica do Centro Ciccarone de Prevenção das Doenças Cardíacas de Johns Hopkins. “Esperamos que ele se torne uma importante ferramenta de suporte para cardiologistas e clínicos como forma de ilustrar o risco entre aqueles que fazem o teste de estresse cardíaco, impulsionando pessoas com resultados ruins a se tornarem mais fisicamente ativas”, afirmou.
Esforço
Comumente usados para determinar quem precisa de exames cardíacos mais invasivos, os testes de estresse físico medem como o coração e os pulmões respondem ao esforço físico enquanto a pessoa anda na esteira. O nível de esforço vai aumentando progressivamente, à medida que se elevam a velocidade e a inclinação. O exame é interrompido no momento em que o paciente atinge o ponto de exaustão ou começa a sentir dor no peito, tontura ou taquicardia.
Aqueles cujo eletrocardiograma apresenta anomalias durante os exercícios ou desenvolvem sintomas sugestivos de esforço cardíaco anormal ao longo do procedimento são aconselhados a fazer angioplastia, um procedimento invasivo que examina o interior das principais artérias que irrigam o coração. Já os que estão com exames normal e não têm sintomas alarmantes enquanto se exercitam não precisam passar pelos testes mais avançados.
Os pesquisadores alegam que, com o novo algoritmo, mesmo entre aqueles que “são aprovados” no teste, é possível obter pistas a respeito do risco de morte ao longo do tempo. “Os testes de estresse cardíaco são atualmente interpretados como ‘sim/não’, mas sabemos que doenças cardíacas são um espectro de distúrbios”, alega Ahmed. “Acreditamos que nosso escore FIT reflete a natureza complexa da saúde cardiovascular e pode oferecer importantes dados tanto para os clínicos quanto para os pacientes.”
Para o estudo, a equipe analisou as informações de 58.020 pessoas de 18 a 96 anos de Detroit, no estado de Michigan, que fizeram testes de estresse cardíaco entre 1991 e 2009 para investigar dor no peito, falta de ar, desmaios e confusão mental. Os pesquisadores investigaram quantos desses pacientes dentro de cada nível de aptidão física haviam morrido de qualquer causa ao longo dos 10 anos seguintes. Os resultados revelaram que, entre aqueles de mesma idade e gênero, o nível de aptidão medido pelos METs e o batimento máximo atingido durante os exercícios eram grandes indicadores do risco de óbito. Sozinha, a boa forma física foi o mais poderoso preditor de morte e sobrevivência, mesmo depois de os pesquisadores considerarem outras importantes variáveis, como diabetes e histórico familiar de morte prematura.