Que o diga a aposentada Maria Natalina Pêgo dos Santos, 84, que há quatro anos fez cirurgia nos seios. “Fiz para mim, gozo de perfeita saúde e me sinto revigorada e cheia de vida”, conta. Viúva, com um único filho, mas com quatro netos e um bisneto, ela também já passou pelo procedimento estético no abdômen e no rosto. A primeira cirurgia foi realizada aos 42 anos. “O motivo principal era elevar a minha autoestima, me sentir rejuvenescida e mais entrosada no meu grupo social, nos ambientes que frequento”, diz. Segundo ela, todas as suas amigas acima dos 70 anos já mexeram em alguma parte do corpo e duas “estão em processo”.
Cuidados especiais
Ao contrário do que se costuma imaginar, a cirurgia plástica em idosos não é mais arriscada do quem em adultos ou jovens. “A idade por si só não é fator de risco para uma cirurgia, o que é levado em conta é a saúde do paciente. Uma cirurgia plástica em um jovem hipertenso, por exemplo, seria mais arriscado do que em um idoso com a saúde controlada”, exemplifica. Entretanto, os idosos precisam de cuidados especiais e a recuperação costuma ser mais lenta.
Felipe Pacheco alerta que o idoso deve evitar cirurgias combinadas porque elas são grandes, prolongadas e impactam a recuperação. “Outro detalhe é em relação à anestesia. Existem medicamentos que circulam mais tempo no organismo. Por isso, é preciso administrar algum que seja específico para essa faixa etária e numa quantidade correta, além de uma equipe que seja especializada no cuidado com idosos”, pondera.
Em relação à recuperação, o idoso vai demorar mais tempo para retomar as atividades do dia a dia, seja o retorno ao trabalho, a liberação para atividades físicas e até para o uso de alguns produtos estéticos.
Adepta aos exercícios físicos, Maria Natalina faz caminhada, dança e academia. Para as mulheres que têm vontade “mas o mundo todo é contra”, a aposentada é categórica: “Ultrapasse os obstáculos e faça a cirurgia, compensa fisicamente e psicologicamente, o benefício é para si própria. Repaginou minha vida”, sintetiza.
Demanda crescente
Para Felipe Pacheco, as razões de essa demanda ter crescido também na sociedade brasileira reúnem fatores como o aumento da longevidade, a busca por mais saúde, a preocupação com a aparência, a vida sexual ativa e o valor dos procedimentos. “Para exemplificar, uma cirurgia em 1960 era o preço de um veículo. Atualmente, existem inclusive plano de pagamento com parcelamento”, diz.
O especialista afirma que os idosos que procuram por correções estéticas geralmente são pessoas que se cuidam há mais tempo e já passaram por alguma cirurgia ou algum tratamento dermatológico anteriormente. “As pessoas não querem apenas viver mais, querem qualidade de vida. São pessoas que não se preocupam só com a aparência, mas com a alimentação, com o controle da saúde”, pontua.
A artista plástica Ana Tereza Lima, de 61 anos, optou pela cirurgia plástica depois que os três filhos já estavam independentes. “Aí eu lembrei de mim”, brinca. Em 2011, ela fez abdominoplastia e redução de mamas. “Tinha uma barriga tipo pochete e era doida para me livrar daquilo. Foi uma decisão facílima”, relata com bom-humor.
No entanto, convencer os filhos não foi tão simples. “Ninguém foi a favor, tenho uma filha que é médica que foi totalmente contra. Ouvi ‘nunca te pedi nada, essa é a primeira coisa que peço’, mas estava decidida, não voltaria atrás”, recorda-se. Ela conta também que a recuperação foi tranquila, que passou três dias quieta, mas que o próprio corpo foi pedindo que ela se mexesse. “Agradeço todos os dias por ter ido lá fazer, todo mundo gostou do resultado”, revela.
Resultados reais
O rejuvenescimento da face é um dos procedimentos mais procurados por quem já ultrapassou os 60 anos. No entanto, cirurgias que antes eram tidas para pessoas jovens passaram a ser de interesse dos que já estão na terceira idade, como a lipoaspiração e a mamoplastia. “No caso da cirurgia no rosto, o ganho que o paciente tem é o rejuvenescimento em 10 anos. Esse é um objetivo totalmente alcançável e independe da idade em que o procedimento é feito”, explica o médico.
Outros procedimentos, entretanto, terão resultados melhores se a pessoa já zelava pela aparência antes de alcançar os 60 anos. “Sem dúvida, quem já se cuidava terá um complemento melhor à cirurgia. No caso do rosto, será uma pele com menos manchas; no caso da barriga, menos flacidez”, pontua.
Cirurgias mais procuradas
Um fenômeno particular da cirurgia plástica em idosos é que a proporção de homens que procura pelos procedimentos em relação às mulheres não é tão destoante quando comparada aos jovens adultos, faixa etária em que se destaca a predominância das intervenções em mulheres.
Atualmente, a cirurgia plástica mais procurada por brasileiros acima dos 60 anos é a de pálpebras. Nariz, implante capilar e lipoaspiração vêm na sequência para os homens. No caso das mulheres, lifting facial, mamoplastia com prótese e a lipoabdominosplatia (técnica que combina lipoaspiração e abdominoplastia).
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Cemira Mendes tem 62 anos e fez lipoaspiração e abdominoplastia em janeiro deste ano. Segundo ela, a recuperação foi muito tranquila: “É como a dor de uma cesariana”. A aposentada teve o apoio do filho, de 44 anos, e da filha, de 30. “Se tem vontade, se tem coragem, vá em frente”, incentiva. A aposentada que é divorciada e avó de quatro conta que uma intervenção estética da filha foi o “empurrãozinho que faltava”. Cemira, que há 3 anos passou também pela mamoplastia, diz que está muito feliz com o resultado: “A gente ganha em autoestima e bem-estar”.
Como ainda está em fase de recuperação, a aposentada não voltou a fazer caminhada e esteira, atividades que gosta de praticar. Mas a casa continua cheia de crianças. “Estou numa fase boa da vida. A gente acha que não é capaz, que não dá conta, mas quando a gente se olha no espelho, vemos o quanto ganhamos”, observa.
O cirurgião plástico acredita os idosos são pacientes que olham mais para si mesmos. “Tive uma paciente de 92 anos, saudável, que morava sozinha e colocou prótese nos seios. Ela tinha uma alteração na mama, resultado de um câncer, e não queria mais se sentir mutilada pela cirurgia que tinha feito. Queria bem-estar para si própria. A família ficou ansiosa, em dúvida sobre o procedimento e ela argumentou afirmando que queria bem-estar físico e psicológico”, observa.
Para ele, aquele detalhe na face ou no corpo que incomoda, que se quer corrigir, é um complemento ao bem-estar. “Eles querem estar bem na idade em que estão. Não tenho dúvidas que o objetivo são eles próprios. A cirurgia mais vinculada ao padrão de beleza que a mídia impõe atinge muito mais a mulher jovem que, às vezes, nem completou 18 anos. Nesses casos, o próprio cirurgião plástico precisa saber identificar a real necessidade e negar, no caso de o procedimento ser no intuito de ficar bem aos olhos do outro. Os idosos que procuram a cirurgia plástica não querem ficar jovens de novo, mas querem se sentir belos para a idade que têm. É uma questão tanto física quanto emocional”, resume.
Medo
Felipe Pacheco afirma que a cirurgia plástica é, atualmente, uma especialidade muito segura com a evolução da anestesia, da cirurgia em si e dos medicamentos. “Cada vez mais quando se avalia o risco em relação aos benefícios, os prejuízos têm ficado menores. “Para os pacientes saudáveis que querem se sentir melhor, é alto o nível de segurança tanto cirúrgico quanto anestesiológico”, garante.
Uma dica preciosa é buscar referências dos profissionais com outros pacientes e garantir a habilitação do médico no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. “As estatísticas mostram que a grande maioria dos casos graves que são noticiados são resultado de procedimentos feitos em lugares sem estrutura por profissionais inabilitados”.