O caso da aeromoça Talita, de 22 anos, no BBB 15, evidencia como a contracepção e o controle do avanço de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) estão culturalmente associados à responsabilidade exclusiva da mulher. Após a jovem pedir, pela segunda vez, à produção do reality show uma pílula de contracepção de emergência, notícias sobre o caso se multiplicaram na internet e nas redes sociais. Em contrapartida, quase não se vê o nome do modelo Rafael, par romântico da sister, vinculado ao debate sobre sexo seguro e gravidez indesejada.
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Para Agnaldo Lopes da Silva Filho, a história chama atenção para três questões essenciais para uma vida sexual saudável: risco de DSTs, gravidez não planejada e contracepção de emergência. “O uso do preservativo é uma medida fundamental para homens e mulheres, casados ou não, em relacionamentos estáveis ou não, hetero ou homossexuais”, destaca. Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou o resultado de uma pesquisa que mostrou que 45% dos brasileiros admitiram que não usam camisinha em relações casuais.
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O alerta soou e o caso Talita-Rafael reforça a necessidade de mais informação sobre sexo seguro. “Independentemente se o casal quer ou não evitar gravidez, o preservativo deve ser usado em toda relação sexual. Quando se descobriu a Aids, a população se sensibilizou e o uso da camisinha se difundiu. O tempo passou e a falsa impressão de que a contaminação por HIV está diminuindo chegou ao ponto de alguns homossexuais ‘brincarem’ de roleta russa”, alerta o médico. O especialista se refere aos adeptos da modalidade bareback, na qual gays fazem sexo sem camisinha em encontros sexuais com soropositivos. Agnaldo Lopes da Silva Filho observa ainda que a prevalência de HIV na população heterossexual tem aumentado. “A Aids é uma doença que não tem cura e não tem vacina, apenas controle. O único método existente para evitá-la é o preservativo”, reforça.
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O especialista afirma que as DSTs têm grandes repercussões tanto na vida masculina quanto na feminina. O HPV, por exemplo, é considerado uma pandemia. “As estimativas mostram que 50% da população sexualmente ativa vai ter pelo menos uma infecção pelo vírus na vida”, diz o ginecologista. Para a mulher, existe o risco de verrugas genitais que podem se transformar em câncer de colo de útero. Nesse caso, o Papanicolau é o exame que pode prevenir o tumor.
A sífilis é outra DST comum com várias manifestações que vão desde lesões na região genital até alterações neurológicas. A gonorreia e a clamídia, que se manifestam por dor abdominal, podem ocasionar infecções pélvicas e, a longo prazo, levar à infertilidade. Cirrose e câncer de fígado podem ser consequência de hepatites, também transmitidas pela relação sexual. “Todas essas doenças são prevenidas com o preservativo”, reforça o médico.
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Para evitar a gravidez, Agnaldo Lopes da Silva Filho lembra que a camisinha não é o método mais seguro. “A eficácia do uso de preservativo varia entre 85% e 95%. No caso da pílula e do DIU, por exemplo, a eficácia chega a 99%. São patamares bem diferentes”, afirma. Segundo o especialista, casais que não desejam engravidar devem procurar métodos com nível de eficácia acima de 90%.
Sobre a contracepção de emergência ou pílula do dia seguinte, o ginecologista diz que ela deve ser usada em situações excepcionais quando a camisinha se rompe, em situações de violência sexual ou em uma relação sexual esporádica que, por algum motivo, o preservativo não foi usado.
No caso de Talita, ele explica que após a sister ter ingerido o hormônio pela primeira vez todo o ciclo menstrual foi alterado e a “segunda dose” não teria efeito se o método utilizado por ela é comportamental, ou seja, a tabelinha. “A contracepção de emergência precisa ser tomada em até 72 horas após a relação sexual e a eficácia é de 90%, ou seja, menor que o anticoncepcional ou o DIU. A pílula do dia seguinte é uma dose grande de hormônio com situações adversas como náusea, vômito e enxaqueca e que não deve ser utilizada como rotina”, pontua.
O médico considerou correto que o pedido de Talita tenha sido atendido pela produção do BBB. “No Brasil, não precisa de prescrição até porque é necessário tomar precocemente, marcar um ginecologista para conseguir uma receita é perder a chance de lançar mão da contracepção de emergência”, pontua.
Após o episódio, a produção do BBB fez questão de deixar claro aos telespectadores que disponibiliza preservativos aos participantes.