Ainda de acordo com o estudo, apesar de quase um terço (27%) das brasileiras se considerarem felizes com a relação amorosa do jeito que está, elas sentem falta de “algo a mais”. Romance (30%), diversão (28%) e paixão (22%) são ingredientes que deixariam a vida sexual mais interessante, segundo elas. Nem a rotina atribulada tira o pique delas: 50% garantiram estar disponíveis, ao menos uma vez ao dia, para passar tempo de qualidade com suas caras-metades.
A pensionista Sandra Tenório, 50 anos, namora há cinco e, desde que descobriu produtos para deixar o sexo mais diversificado, não abre mão de novidade. Separada há 15 anos, ela conta que só recentemente conheceu os prazeres do sex shop. “Meu ex-marido não gostava dessas coisas”, revela. Com o namorado atual, a situação é diferente: foi ele quem deu o primeiro passo, presenteando Sandra com um vibrador.
Sandra acredita que vive uma exceção. Para ela, alguns homens até gostam de brinquedos, mas não têm a iniciativa de propô-los para as parceiras. “Conheço algumas mulheres que dizem que, se levassem algum produto para casa, os maridos jogariam fora.” Acomodação, preconceito e insegurança seriam as grandes barreiras sexuais envolvidas, na opinião de Sandra.
O machismo e a desinformação impedem que o assunto seja tratado com naturalidade até entre amigas de longa data. Conversas sobre qual produto funciona melhor que outro, por exemplo, Sandra mantém com poucas. Ela aprecia algemas de tecido, gel vibratório, vibradores, fantasias e até chantili. “Não é só isso que segura um relacionamento, mas ajuda demais a não cair no tédio. Não gosto de rotina. ”
A busca pelo prazer não se limita a produtos. As mulheres têm desbravado o campo da pornografia de forma cada vez mais desinibida. E isso está sendo provado em números. O PornHub, o maior portal de vídeos pornográficos da web, divulgou pesquisa que confirma: as brasileiras são campeãs de acesso. No país, elas respondem por 29% da procura, enquanto a média mundial fica em 22%. “As mulheres buscam ver, em sites como esse, vídeos que envolvam fantasias que elas não conseguem realizar facilmente no dia a dia”, aponta o psicólogo Fábio Roesler.
Outros dados da pesquisa mostram que vídeos relacionados ao sexo feminino e posições sexuais envolvendo duas mulheres estão entre os temas mais buscados pelas internautas. “Quando elas procuram na internet vídeos que mostram as suas fantasias, isso facilita a comunicação delas com o parceiro. Porque é diferente quando elas apenas imaginam. Se elas podem realizar, mesmo que virtualmente, isso ajuda na subjetificação das expectativas”, pondera Fábio.
O fato de buscarem vídeos que envolvam práticas homossexuais não significa que essas mulheres sejam lésbicas. “O que percebemos é que as mulheres ocidentais tendem a se relacionar de modo mais íntimo e, para elas, as cenas são mais naturais.” Além disso, explica Fábio, as imagens podem ajudá-las a entender melhor o próprio corpo.
Vídeos pornográficos, como sabemos, tendem a exagerar o ato sexual com performances inverossímeis. Pior para os homens, avalia o psicólogo. “As mulheres são menos fantasiosas em relação ao desempenho. Muitas, inclusive, não querem parceiros com membros muito avantajados, por receio de sentir dor”, completa.
Prazer à venda
Beatriz Alves Faustino, pedagoga, viu na procura feminina por novidades uma chance de ganhar a vida. Desde agosto de 2014, ela e uma sócia montaram a Hot Love, um sex shop para expandir a venda de produtos eróticos — em janeiro do ano passado, as duas comercializavam um ou outro apetrecho para as amigas mais próximas. “Estou me sentindo realizada profissionalmente. Amo o que faço e vendo. Minha maior felicidade é ver meus clientes felizes, satisfeitos e, principalmente, sentindo muito prazer.”
As constantes queixas de amigas e relacionamentos desmoronando foram as principais motivações para o negócio começar. Entre as reclamações, a falta de diversificação por parte dos homens e o acúmulo de tarefas por parte das mulheres eram as mais ouvidas por Beatriz. “Resolvi me especializar e estudar sobre esse mundo com o intuito de ajudar as pessoas”, diz. Graças aos vibradores, lubrificantes e excitantes clitorianos, a vendedora conta que já ouviu muitos agradecimentos. “Tenho clientes que usaram um lubrificante neutro e acharam que só isso já revolucionou o casamento delas”, exemplifica.
A microempresária Vânia Drazdauskas, 45 anos, nunca acessou o PornoHub, embora já tenha assistido a alguns filmes eróticos com o marido. “No nosso casamento, sempre tivemos liberdade de dizer o que gostamos. Isso faz com que sintamos mais prazer. Conheço bem meu corpo e meu marido conhece o dele. E isso é maravilhoso para nossa relação”, avalia.
Ela, que frequenta assiduamente um sex shop, diz que costuma experimentar as novidades. “Nunca senti vergonha porque minha relação é muito aberta.” Ao saber que muitos homens têm ciúme do vibrador da parceira, ela ri. “Meu marido é quem sugere o que devo comprar. Tenho um e ele não vê problema. Quando o homem tem certeza da própria sexualidade, não precisa temer algo tão bobo.”
Vânia, contudo, tem consciência de que ainda existem muitas mulheres que não conseguem ser tão leves quando o assunto é sexo. “Tenho amigas que não passam nem na porta de sex shop. Esse preconceito existe tanto entre homens quanto entre mulheres.” Para a empresária, não só os produtos, mas também a liberdade de falar sobre eles, movimenta o casamento. “Muitos deles vêm com jogos eróticos que ajudam a diminuir o estresse e dão mais relaxamento”, exemplifica.