A cárie é o segundo problema de saúde mais comum no mundo. Segundo especialistas, só perde para a gripe. Estimativas indicam que a incidência da doença bucal varia de 50% a 99% dos integrantes na maioria das comunidades. Saídas para evitá-la, portanto, são bem-vindas. E desafiam cada vez mais cientistas de instituições brasileiras. Soluções tecnológicas e mudanças na escovação surgem como opções preventivas. Algumas ainda não saíram dos laboratórios. Outras partiram com sucesso para a aplicação clínica.
É o caso de uma técnica criada em pesquisa liderada por Paulo Frazão, dentista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Trata-se da escovação vestíbulo-lingual, que consiste em escovar os dentes de crianças de 2 a 7 anos com mais cuidado nas partes vulneráveis às lesões. “Com o método, o auxiliar de saúde concentra-se nos molares permanentes, que estão se desenvolvendo”, explica Frazão. A adoção da prática em municípios paulistas resultou em reduções nos casos da doença e ganhou repercussão em revistas científicas internacionais.
A selagem também se apresenta como alternativa aos dentes mais delicados. Sobre eles, coloca-se uma espécie de filme plástico. Desse modo, a comida pode ser retirada com mais facilidade, evitando o acúmulo de bactérias. O procedimento também é indicado para as crianças. “Considero uma medida interessante e benéfica, mas só pode ser adotada se recomendada pelo dentista”, destaca Frazão.
Outra solução simples são os cremes dentais da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Um deles, já à venda, tem trimetafosfato de sódio – substância que potencializa a ação preventiva e agride menos os dentes – e teor menor de flúor, evitando as manchas esbranquiçadas causadas pelo uso excessivo do composto. “É perigoso para uma criança engolir as pastas de dente convencionais. Elas têm entre 1.100 partes por milhão (ppm) e 1.500ppm de flúor, uma quantidade excessiva para quem está aprendendo a escovar”, diz Alberto Carlos Botazzo Delbem, responsável pelo estudo. A pasta criada por eles tem a metade desse flúor.
O segundo projeto da equipe consiste em uma pasta dental com fosfato, substância que também ajuda no controle da cárie. “Essa ainda está em teste, mas o objetivo é fazer com que também seja comercializada. Acreditamos que dará uma proteção maior na hora da escovação”, diz Delbem.
Alimentos modificados
No campo das soluções biotecnológicas, o alvo é o açúcar, um grande vilão dos dentes. Cientistas buscam modificar a composição do produto para que ele se torne menos prejudicial. Projetos nessa linha ainda são bastante experimentais. Por isso, há quem aposte em atalhos, como o desenvolvimento de alimentos que reduzam a possibilidade de surgimento de cáries.
Nadiége Dourado Pauly-Silveira criou uma goma de mascar com essa funcionalidade. O produto é resultado da pós-graduação na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp e tem como base a ação de um micro-organismo do bem. “Há um probiótico encapsulado que destrói as bactérias que causam a cárie. Além de a goma não ter açúcar, ela age como um escudo protetor da doença”, destaca.
Nadiége espera a liberação de patente para que possa começar a comercializar o produto. A pesquisadora acredita que a chegada de alimentos mais saudáveis e focados na saúde bucal deve aumentar nos próximos anos. “Por meio da boca, podem surgir outras doenças, como enfermidades respiratórias e cardíacas. Acredito que incorporar alimentos que ajudem na prevenção desses problemas é essencial.”
Em queda no Brasil
As soluções que pipocam nos laboratórios podem ajudar a manter o ritmo de queda da cárie no país. De acordo com o último Levantamento das condições de saúde bucal da população brasileira, feito em 2010 pelo Ministério da Saúde, o número de casos dessas lesões reduziu em relação ao de 2003. Na sondagem mais recente, foram avaliadas 38 mil pessoas de diferentes faixas etárias. Os casos de cáries em jovens de 12 anos – idade utilizada mundialmente para avaliar o problema – caíram de 69% para 56%.
Para Juliano Pelim Pessan, professor de odontopediatria da Faculdade de Odontologia do câmpus de Araçatuba da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), esses dados refletem uma grande melhora, mas o número de casos ainda se concentra em regiões mais carentes. “Temos os bolsões de cáries. As diferenças regionais ainda são grandes. No último levantamento, vimos que a Região Norte tem quase 50% a mais de casos do que o Sudeste e o Sul.”
Pessan acredita que esse diferencial ocorre por uma série de fatores: biológicos, sociais, educacionais e estruturais, como a oferta de saneamento básico. “Tanto dentro de grandes cidades quanto em periferias e áreas centrais, esses números se distinguem”, observa.
Paulo Frazão, dentista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), também acredita que muitas regiões precisam de mais atenção quanto a cuidados bucais. “Há desigualdades: 80% das lesões de cáries se concentram em 20% das crianças e adolescentes”, exemplifica.
O especialista destaca que novas medidas preventivas têm surgido nos últimos anos, mas não estão disponíveis para todos. “O que acontece é que essas ações acabam beneficiando somente quem tem condições melhores, mães com escolaridade maior, por exemplo, quem vive em locais com saneamento, tudo isso faz diferença”, observa Frazão.
É o caso de uma técnica criada em pesquisa liderada por Paulo Frazão, dentista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Trata-se da escovação vestíbulo-lingual, que consiste em escovar os dentes de crianças de 2 a 7 anos com mais cuidado nas partes vulneráveis às lesões. “Com o método, o auxiliar de saúde concentra-se nos molares permanentes, que estão se desenvolvendo”, explica Frazão. A adoção da prática em municípios paulistas resultou em reduções nos casos da doença e ganhou repercussão em revistas científicas internacionais.
A selagem também se apresenta como alternativa aos dentes mais delicados. Sobre eles, coloca-se uma espécie de filme plástico. Desse modo, a comida pode ser retirada com mais facilidade, evitando o acúmulo de bactérias. O procedimento também é indicado para as crianças. “Considero uma medida interessante e benéfica, mas só pode ser adotada se recomendada pelo dentista”, destaca Frazão.
Outra solução simples são os cremes dentais da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Um deles, já à venda, tem trimetafosfato de sódio – substância que potencializa a ação preventiva e agride menos os dentes – e teor menor de flúor, evitando as manchas esbranquiçadas causadas pelo uso excessivo do composto. “É perigoso para uma criança engolir as pastas de dente convencionais. Elas têm entre 1.100 partes por milhão (ppm) e 1.500ppm de flúor, uma quantidade excessiva para quem está aprendendo a escovar”, diz Alberto Carlos Botazzo Delbem, responsável pelo estudo. A pasta criada por eles tem a metade desse flúor.
O segundo projeto da equipe consiste em uma pasta dental com fosfato, substância que também ajuda no controle da cárie. “Essa ainda está em teste, mas o objetivo é fazer com que também seja comercializada. Acreditamos que dará uma proteção maior na hora da escovação”, diz Delbem.
Alimentos modificados
No campo das soluções biotecnológicas, o alvo é o açúcar, um grande vilão dos dentes. Cientistas buscam modificar a composição do produto para que ele se torne menos prejudicial. Projetos nessa linha ainda são bastante experimentais. Por isso, há quem aposte em atalhos, como o desenvolvimento de alimentos que reduzam a possibilidade de surgimento de cáries.
Nadiége Dourado Pauly-Silveira criou uma goma de mascar com essa funcionalidade. O produto é resultado da pós-graduação na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp e tem como base a ação de um micro-organismo do bem. “Há um probiótico encapsulado que destrói as bactérias que causam a cárie. Além de a goma não ter açúcar, ela age como um escudo protetor da doença”, destaca.
Nadiége espera a liberação de patente para que possa começar a comercializar o produto. A pesquisadora acredita que a chegada de alimentos mais saudáveis e focados na saúde bucal deve aumentar nos próximos anos. “Por meio da boca, podem surgir outras doenças, como enfermidades respiratórias e cardíacas. Acredito que incorporar alimentos que ajudem na prevenção desses problemas é essencial.”
Em queda no Brasil
As soluções que pipocam nos laboratórios podem ajudar a manter o ritmo de queda da cárie no país. De acordo com o último Levantamento das condições de saúde bucal da população brasileira, feito em 2010 pelo Ministério da Saúde, o número de casos dessas lesões reduziu em relação ao de 2003. Na sondagem mais recente, foram avaliadas 38 mil pessoas de diferentes faixas etárias. Os casos de cáries em jovens de 12 anos – idade utilizada mundialmente para avaliar o problema – caíram de 69% para 56%.
Para Juliano Pelim Pessan, professor de odontopediatria da Faculdade de Odontologia do câmpus de Araçatuba da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), esses dados refletem uma grande melhora, mas o número de casos ainda se concentra em regiões mais carentes. “Temos os bolsões de cáries. As diferenças regionais ainda são grandes. No último levantamento, vimos que a Região Norte tem quase 50% a mais de casos do que o Sudeste e o Sul.”
Pessan acredita que esse diferencial ocorre por uma série de fatores: biológicos, sociais, educacionais e estruturais, como a oferta de saneamento básico. “Tanto dentro de grandes cidades quanto em periferias e áreas centrais, esses números se distinguem”, observa.
Paulo Frazão, dentista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), também acredita que muitas regiões precisam de mais atenção quanto a cuidados bucais. “Há desigualdades: 80% das lesões de cáries se concentram em 20% das crianças e adolescentes”, exemplifica.
O especialista destaca que novas medidas preventivas têm surgido nos últimos anos, mas não estão disponíveis para todos. “O que acontece é que essas ações acabam beneficiando somente quem tem condições melhores, mães com escolaridade maior, por exemplo, quem vive em locais com saneamento, tudo isso faz diferença”, observa Frazão.