Saúde

Medicina do esporte atrela vida saudável à prática regular de exercícios

Profissionais do exercício e do esporte trabalham o corpo de forma global, analisando aspectos da fisiologia do paciente para melhor rendimento. E isso vale para todo mundo

Paula Takahashi

A atleta profissional Érika Gramiscelli, de 31 anos, diz que ter um histórico dos indicadores é importante para acompanhar os resultados

Ainda pouco conhecida, a medicina do exercício e do esporte tem assumido papel cada vez mais importante diante do cenário de crescente valorização de um estilo de vida saudável atrelado à prática regular de atividades físicas. Dedicada a avaliar e acompanhar os praticantes, a especialidade também utiliza os exercícios físico-desportivos como mecanismos de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças. “Profissionais da área são verdadeiros gestores da saúde e trabalham o corpo de forma global, analisando os diversos aspectos da fisiologia do paciente, essenciais para o alcance de resultados”, detalha o médico do esporte João Antônio da Silva Júnior.


O grande mito que ronda o imaginário popular é de que especialistas da área se dedicam apenas ao acompanhamento de atletas profissionais e à melhoria da performance em competições. “Isso é um erro. Para a população em geral, a intenção é proporcionar a busca de rendimento com saúde, uma linha muito tênue”, explica o cardiologista e médico do exercício e do esporte Marconi Gomes, presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte (Smexe) e diretor da clínica Sportif. “Outra situação é de pessoas obesas, diabéticas e até enfartadas, por exemplo, que podem ser tratadas quase que totalmente com exercícios físicos”, acrescenta.

A grande vantagem desse profissional é a visão generalista sobre o paciente e a capacidade de identificar as mais diversas complicações que poderiam comprometer a prática saudável da atividade física. No consultório, o atleta, seja ele amador ou profissional, é avaliado de forma global e não apenas do ponto de vista cardíaco ou ortopédico. “É uma especialidade que envolve várias disciplinas. Temos que ter noções aprofundadas, por exemplo, de ortopedia, cardiologia, endocrinologia e nutrição. Detemos informações de várias áreas para dar esse suporte preventivo e terapêutico”, explica o cardiologista.

Para a maratonista Patrícia Maria da Costa, de 43 anos, ter o acompanhamento de um profissional faz toda diferença
Conhecimentos que permitem que as orientações possam ir desde o calçado mais indicado para uma corrida ou caminhada até a regularidade e intensidade do exercício. “Ele pode abordar, entre outras coisas, a alimentação mais adequada, sobre o melhor calçado e a intensidade e progressão da atividade dentro do limite de cada um”, afirma Ronaldo Lopes Cançado, ortopedista e médico do exercício e do esporte.

Por conta da formação generalista, esse profissional tem um trabalho intenso de cooperação com as demais especialidades médicas. “A gente faz uma gestão da saúde da pessoa de forma a identificar a situação e dar a solução mais adequada para cada caso”, explica João Antônio. Solução que pode estar no encaminhamento do paciente para um cardiologista, ortopedista ou nutricionista, para dar o suporte mais direcionado no caso de ser identificada qualquer complicação.

“Quando o médico do esporte se depara com uma cardiopatia congênita, por exemplo, deve orientar o paciente a buscar o cardiologista porque pode ser caso até de cirurgia”, explica Marconi. Apesar de ter conhecimentos de nutrição esportiva, não fazem dieta, passando a bola para o nutricionista. “Podemos dar limites para o praticante, mas não vamos preparar a planilha de treinamento. Com conhecimento em cada área, direcionamos para o profissional mais qualificado”, acrescenta Marconi.

ORIENTAÇÃO PRECISA
Para a corredora de rua e servidora pública Patrícia Maria da Costa Ferreira, de 43 anos, ser orientada por um profissional que entenda e viva a prática esportiva de perto faz toda a diferença. “Ele não trabalha apenas com o intuito de eliminar a dor, mas também para que a pessoa volte a praticar a atividade física, o que, com médico de outra especialidade, ocorreria de forma muito mais lenta. Isso é muito importante”, reconhece a ex-atleta do vôlei, que treina para sua terceira maratona.

Para a atleta profissional Érika Gramiscelli, de 31, ter um histórico dos indicadores é outra grande vantagem desse acompanhamento próximo. “Quando se tem esse gráfico com a relação dos exames, é possível ver os resultados ocorrendo e não apenas senti-los. É possível comparar como estava, onde chegou e para onde pode ir.” Para ela, essas informações são importantes para a progressão dos treinamentos e projeção futura das atividades. “A partir daí, e contando com o conhecimento desses profissionais, é possível adotar novas estratégias de melhorias fisiológicas”, acrescenta.



Reação ao esforço físico

“A nossa atuação visa individualizar a realização do exercício físico. Para isso, realizamos avaliações metabólica e fisiológica do atleta, seja ele amador ou profissional. Além de exames laboratoriais, essa avaliação inclui detalhamento da composição corporal do indivíduo com informações como distribuição da massa magra, gordura e água corporal. Também investigamos o metabolismo basal e aplicamos testes para entender como a pessoa reage ao esforço físico. A partir daí, forneço todas as orientações para que um profissional de educação física seja capaz de montar os treinos que atendam às necessidades e particularidades daquela pessoa. Os dados repassados incluem o VO2 máximo, ou seja, a capacidade pulmonar do indivíduo, a frequência cardíaca máxima e quanto se pode ir além daquele ponto, entre outros detalhes. A intenção é fazer com que o tempo seja utilizado da melhor forma possível para atingir os objetivos traçados. Esse tipo de investigação é importante, até mesmo para entender qual atividade física é mais adequada e aquela que deve ser evitada.”

Breno Faria, nutrólogo e fisiologista