Especialistas advertem: doenças oculares não são sinônimo de envelhecimento. A maior inimiga da visão não é a idade, mas a falta de informação. De acordo com a pesquisa Saúde Ocular na Terceira Idade, da Associação Retina Brasil com apoio da farmacêutica Bayer, 81% dos brasileiros nunca ouviram falar em degeneração macular relacionada à idade (DMRI), a principal causa de perda da visão em países desenvolvidos e em desenvolvimento.
A pesquisa foi feita no mês passado com 5 mil pessoas em áreas de grande movimentação de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Recife, Curitiba e Fortaleza. A maioria dos entrevistados tinha de 32 a 39 anos e 52% relataram algum problema oftalmológico. Embora 57% tenham dito que conhecem uma pessoa de idade avançada que perdeu a visão, 91% não sabiam o que é a degeneração da mácula.
Daniel Lavinsky, da Clínica de Oftalmologia do Mãe de Deus Center, em Porto Alegre, conta que não imaginava que a desinformação fosse tão grande no país. “A degeneração é pouco comentada nos meios domésticos, embora hoje em dia já seja mais conhecida. Oitenta e um por cento é um número expressivo de pessoas.” Segundo o também professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a DMRI é uma doença comum que provoca a deterioração da visão central em pessoas com mais de 60 anos. Basicamente, provoca lesões na mácula, um ponto de 2 milímetros de diâmetro próximo ao centro da retina.
Se compararmos a estrutura do globo ocular a uma câmera tradicional, a retina corresponde a uma película. O tecido rico em pigmento, a coroide, seria uma câmera escura. E a mácula — uma das regiões da retina com alta densidade de fotorreceptores, as células responsáveis pela nitidez da visão e pela cor da visão central —, pode ser considerada uma película especial com alta sensibilidade à luz intensa. Quando danificada, as imagens processadas pela mácula são turvas e deformadas.
No Brasil, cerca 3 milhões de pessoas acima dos 55 anos têm o problema, sendo que até 800 mil delas poderão desenvolver a forma exsudativa (veja infográfico) em menos de 10 anos. Nos países subdesenvolvidos, as principais causas continuam sendo a catarata e o glaucoma. A previsão é de que o crescimento exponencial do envelhecimento da população no planeta eleve a prevalência do problema. “Teoricamente, a extensão de faixa etária nessas regiões, principalmente nas nações desenvolvidas, é maior. Consequentemente, as doenças relacionadas ao avanço da idade são mais comuns”, explica Lavinsky.
Prevalência
Outra curiosidade da DMRI é que ela é mais prevalente entre os caucasianos. Por isso, no Brasil, é mais frequente na Região Sul, onde há maior presença de indivíduos de pele clara e de origem europeia. Luis Fernando Rabelo Barros, oftalmologista do Visão Institutos Oftalmológicos, em Brasília, diz que a hereditariedade, a alimentação e principalmente o tabagismo podem desencadear a doença. Ele explica que a DMRI ocorre devido à oxidação das células da retina e, por isso, os tratamentos incluem vitaminas antioxidantes. “O cigarro causa esse envelhecimento e predispõe à degeneração. O alerta é para as pessoas procurarem o médico uma vez ao ano, evitar o vícios e ter alimentação saudável, com alimentos como couve e peixes”, aconselha.
A ida regular ao oftalmologista, porém, não é um hábito dos brasileiros. Dos 5 mil entrevistados, 42% dizem só recorrer à assistência quando acham estar com algum problema oftalmológico. Em Brasília, o índice é ainda maior: 53%. “O brasileiro é imediatista, gosta mais de remediar do que prevenir. Isso acontece em todas áreas. Aqui, as pessoas morrem muito por infarto e AVC (acidente vascular cerebral). É falta de prevenção mesmo”, avalia Barros.
A capital federal também está além da média no quesito desconhecimento sobre a DMRI. Dos 700 entrevistados, 89% nunca ouviram falar sobre a doença e 91% desconhecem os sintomas dela. Para Barros, a informação é uma questão primordial na prevenção do problema. Por isso, a falta dela precisa ser remediada pelos órgãos de saúde. “Esta questão de mais especialidades disponíveis, uma bandeira deste governo, poderá ajudar a população com atendimento e esclarecimento”, acredita.
Antonieta Leopoldi, vice-coordenadora da Associação Retina Brasil, completa avisando que existem mecanismos para testar cada olho e verificar se há sintomas da DMRI. “Assim como as mulheres fazem testes de câncer de mama, é preciso fazer acompanhamento da visão. Se você enxergar postes tortos e objetos deformados, converse com o especialista. As pessoas acham que pode ser um problema da lente e a trocam, mas pode ser mais grave, como um mal da retina.”
Pesquisa publicada neste ano na revista The Lancet Global Health indicou que 8,7% da população mundial têm DMRI e que, até 2020, mais de 196 milhões sofrerão com a doença. Para 2040, a previsão é de que o número chegue a 288 milhões. Segundo a Associação Retina Brasil, a prevalência de cegueira é de 8,7% entre os pacientes de DMRI.
Em todas as classes
“A escolaridade influencia a busca pela informação como um todo. Por isso, o investimento em educação deveria ser primordial em qualquer país. Mas, infelizmente, o nível baixo de conhecimento sobre as doenças oculares e a DMRI impacta todas as classes. A conscientização da sociedade é imperativa para políticas de prevenção das doenças. A maioria das enfermidades, incluindo as oftalmológicas, apresenta potencial elevado de cura e prevenção quando diagnosticada e tratada precocemente. Nós, profissionais que atendemos pacientes da rede pública, nos defrontamos frequentemente com os casos que chegam ‘tarde demais’, em uma situação de perda visual intensa e que poderia ter sido evitada. Nos atendimentos privados e de pacientes de seguradoras ou de convênios médicos, a intensidade e/ou gravidade das enfermidades são menores.” - André Gomes, presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo
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Daniel Lavinsky, da Clínica de Oftalmologia do Mãe de Deus Center, em Porto Alegre, conta que não imaginava que a desinformação fosse tão grande no país. “A degeneração é pouco comentada nos meios domésticos, embora hoje em dia já seja mais conhecida. Oitenta e um por cento é um número expressivo de pessoas.” Segundo o também professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a DMRI é uma doença comum que provoca a deterioração da visão central em pessoas com mais de 60 anos. Basicamente, provoca lesões na mácula, um ponto de 2 milímetros de diâmetro próximo ao centro da retina.
Se compararmos a estrutura do globo ocular a uma câmera tradicional, a retina corresponde a uma película. O tecido rico em pigmento, a coroide, seria uma câmera escura. E a mácula — uma das regiões da retina com alta densidade de fotorreceptores, as células responsáveis pela nitidez da visão e pela cor da visão central —, pode ser considerada uma película especial com alta sensibilidade à luz intensa. Quando danificada, as imagens processadas pela mácula são turvas e deformadas.
No Brasil, cerca 3 milhões de pessoas acima dos 55 anos têm o problema, sendo que até 800 mil delas poderão desenvolver a forma exsudativa (veja infográfico) em menos de 10 anos. Nos países subdesenvolvidos, as principais causas continuam sendo a catarata e o glaucoma. A previsão é de que o crescimento exponencial do envelhecimento da população no planeta eleve a prevalência do problema. “Teoricamente, a extensão de faixa etária nessas regiões, principalmente nas nações desenvolvidas, é maior. Consequentemente, as doenças relacionadas ao avanço da idade são mais comuns”, explica Lavinsky.
Prevalência
Outra curiosidade da DMRI é que ela é mais prevalente entre os caucasianos. Por isso, no Brasil, é mais frequente na Região Sul, onde há maior presença de indivíduos de pele clara e de origem europeia. Luis Fernando Rabelo Barros, oftalmologista do Visão Institutos Oftalmológicos, em Brasília, diz que a hereditariedade, a alimentação e principalmente o tabagismo podem desencadear a doença. Ele explica que a DMRI ocorre devido à oxidação das células da retina e, por isso, os tratamentos incluem vitaminas antioxidantes. “O cigarro causa esse envelhecimento e predispõe à degeneração. O alerta é para as pessoas procurarem o médico uma vez ao ano, evitar o vícios e ter alimentação saudável, com alimentos como couve e peixes”, aconselha.
A ida regular ao oftalmologista, porém, não é um hábito dos brasileiros. Dos 5 mil entrevistados, 42% dizem só recorrer à assistência quando acham estar com algum problema oftalmológico. Em Brasília, o índice é ainda maior: 53%. “O brasileiro é imediatista, gosta mais de remediar do que prevenir. Isso acontece em todas áreas. Aqui, as pessoas morrem muito por infarto e AVC (acidente vascular cerebral). É falta de prevenção mesmo”, avalia Barros.
A capital federal também está além da média no quesito desconhecimento sobre a DMRI. Dos 700 entrevistados, 89% nunca ouviram falar sobre a doença e 91% desconhecem os sintomas dela. Para Barros, a informação é uma questão primordial na prevenção do problema. Por isso, a falta dela precisa ser remediada pelos órgãos de saúde. “Esta questão de mais especialidades disponíveis, uma bandeira deste governo, poderá ajudar a população com atendimento e esclarecimento”, acredita.
Antonieta Leopoldi, vice-coordenadora da Associação Retina Brasil, completa avisando que existem mecanismos para testar cada olho e verificar se há sintomas da DMRI. “Assim como as mulheres fazem testes de câncer de mama, é preciso fazer acompanhamento da visão. Se você enxergar postes tortos e objetos deformados, converse com o especialista. As pessoas acham que pode ser um problema da lente e a trocam, mas pode ser mais grave, como um mal da retina.”
Pesquisa publicada neste ano na revista The Lancet Global Health indicou que 8,7% da população mundial têm DMRI e que, até 2020, mais de 196 milhões sofrerão com a doença. Para 2040, a previsão é de que o número chegue a 288 milhões. Segundo a Associação Retina Brasil, a prevalência de cegueira é de 8,7% entre os pacientes de DMRI.
Em todas as classes
“A escolaridade influencia a busca pela informação como um todo. Por isso, o investimento em educação deveria ser primordial em qualquer país. Mas, infelizmente, o nível baixo de conhecimento sobre as doenças oculares e a DMRI impacta todas as classes. A conscientização da sociedade é imperativa para políticas de prevenção das doenças. A maioria das enfermidades, incluindo as oftalmológicas, apresenta potencial elevado de cura e prevenção quando diagnosticada e tratada precocemente. Nós, profissionais que atendemos pacientes da rede pública, nos defrontamos frequentemente com os casos que chegam ‘tarde demais’, em uma situação de perda visual intensa e que poderia ter sido evitada. Nos atendimentos privados e de pacientes de seguradoras ou de convênios médicos, a intensidade e/ou gravidade das enfermidades são menores.” - André Gomes, presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo