Segundo os autores, apesar de a substância, chamada ibuprofeno, ser muito utilizada na medicina, ainda há poucos trabalhos que buscaram verificar seus efeitos sobre o envelhecimento celular. Os especialistas, então, decidiram tratar diferentes seres, como leveduras, vermes e moscas-de-fruta, com doses regulares e diárias do anti-inflamatório. O resultado? As espécies do teste passaram a viver mais tempo que semelhantes não tratados. Além disso, moscas e os vermes pareceram apresentar um melhor estado de saúde do que antes do tratamento.
“Quando tratamos as cobaias, observamos que elas viviam mais. Nas leveduras, por exemplo, notamos que a substância fazia com que as células se dividissem de forma mais lenta. Isso quer dizer que essa droga imita o efeito de muitas mutações genéticas pró-longevidade na levedura. Por conta disso, pensamos que ele também pode fazer a levedura viver mais tempo”, destaca He Chong, pesquisadora do Instituto Buck de Pesquisa sobre o Envelhecimento e uma das autoras do estudo, publicado na revista Plos Genetics.
Ainda buscando respostas para esse resultado, a equipe levanta a hipótese de que o ibuprofeno estimule a produção de um importante aminoácido ligado ao equilíbrio do metabolismo. “Nós suspeitamos que interfira na capacidade de as células produzirem esse nutriente. Todas as células, (incluindo as humanas) precisam do aminoácido triptofano, obtidos de formas diferentes em cada tipo de organismo. Os humanos o obtém em dietas ricas, já as leveduras o importam do ambiente”, destaca He.
Samara Machado, professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Católica de Brasília (UCB), explica a importância do triptofano. “Ele é crucial para diversos mecanismos do metabolismo. Nos humanos, ele está ligado, por exemplo, à produção de serotonina, que é importante na execução de tarefas neurológicas. É uma teoria inicial levantada por esses pesquisadores, mas é possível que essas vias metabólicas alteradas pelo triptofano possam ser a razão do sucesso do medicamento”, avalia a especialista, que não participou do estudo.
Cautela
Os autores ressaltam, contudo, que, apesar dos resultados promissores, é muito cedo para afirmar que o ibuprofeno tenha realmente um efeito rejuvenescedor, especialmente em pessoas. “Como o nosso estudo não envolvia seres humanos, não é prudente afirmar qualquer coisa desse tipo. No entanto, um aspecto muito interessante do nosso trabalho é mostrar que existem drogas seguras que merecem ser pesquisadas mais a fundo”, pondera Chong. “Acreditamos que esses medicamentos usuais, utilizados para tratar doenças relacionadas com o envelhecimento podem também ajudar a atrasar o próprio envelhecimento. Nós precisamos de mais pesquisas para examinar e compreender melhor esse benefício, antes que alguém possa dizer se eles podem ser aplicáveis a pessoas”, frisa a autora.
Clovis Chechinel, geriatra do Laboratório Exame de Brasília, o artigo mostra resultados interessantes, mas lembra que pesquisas que buscam formas de retardar o envelhecimento sempre exigem cautela. “Precisamos destacar que esse efeito só foi notado em animais e pode ter resultados diferentes em humanos. Isso deve ser ressaltado para evitar que as pessoas passem a consumir esses medicamentos em excesso”, destaca, lembrando os riscos que uma automedicação poderia trazer. “O uso de anti-inflamatório por idosos, em alguns casos, está ligado a complicações renais, riscos de sangramentos e outras situações adversas. Esse é mais um motivo pelo qual sempre recomendamos usar esse tipo de medicamento com parcimônia”, acrescenta.
Machado, da UCB, acredita que uma das grandes vantagens da pesquisa é apontar novos possíveis usos para remédios populares. “Esse estudo precisa de mais etapas, até para conseguir ajustar a dose do medicamento para que ele não traga efeitos colaterais, por exemplo. No entanto, pesquisas nessa linha têm trazido grandes conquistas. Alguns trabalhos já apontaram a aspirina como um possível redutor de riscos de câncer. Mesmo que o ibuprofeno não seja usado em sua fórmula original, ele pode ter parte de sua composição utilizada para um novo remédio com foco no retardo do envelhecimento”, acredita a especialista.
Expectativa de vida cresce para homens e mulheres
O mais recente estudo Global Burden of Disease (GBD), no qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) compila uma série de dados sobre a qualidade de vida e o estado de saúde da população global, aponta um aumento na expectativa de vida em ambos os sexos. O trabalho, publicado na última edição do jornal The Lancet, detectou um acréscimo de 5,8 anos no tempo médio de vida dos homens e 6,6 anos no das mulheres, entre 1990 e 2013.
A tendência acompanha a diminuição da incidência de várias doenças que tiram a vida de milhares de pessoas todos os anos, como diarreia, infecções do trato respiratório inferior e distúrbios neonatais, o que, segundo os cientistas, ajudou a estender a vida das pessoas principalmente nos países de baixa renda. Em lugares como Nepal, Ruanda, Etiópia, Níger, Maldivas, Timor Leste e Irã a expectativa de vida apresentou um aumento de mais de 12 anos para ambos os sexos. Já nas regiões com alta renda, observou-se mais a queda de taxa de mortalidade ligada a diversos tipos de câncer (redução de 15%) e as doenças vasculares (22%).
Financiamento
“O enorme aumento na ação coletiva e financiamento dado às principais doenças infecciosas, como diarreia, sarampo, tuberculose, Aids e malária teve um impacto real”, declarou à imprensa Christopher Murray, professor da Universidade de Washington e um dos autores principais responsáveis pelo estudo. “O progresso que estamos vendo contra uma variedade de doenças e lesões é mesmo notável, mas podemos e devemos fazer ainda melhor”, completou.
No entanto, o relatório constatou aumento nas taxas de mortalidade de algumas enfermidades, como o câncer de fígado causado pelo vírus da hepatite C (até 125% de aumento), transtornos por uso de drogas (63%), doença renal crônica (37%), diabetes (9%) e câncer de pâncreas (7%). O trabalho analisou dados de 240 causas diferentes de óbito em 188 países.
O relatório aponta ainda que, enquanto na maior parte do planeta, a expectativa de vida sobe, em boa parte da África Sub-Saariana essa tendência é inversa. Em 20 dos 48 países da região, as mortes por HIV/Aids têm roubado mais de cinco anos dos índices de expectativa de vida. A guerra é outro fator que rouba muitas vidas. Só na Síria, em 2013, havia uma estimativa de 29.947 mortes devido ao conflito que assola o país.